Em entrevista ao Mundo Lusíada, Cônsul português no Rio aposta na melhora dos serviços consulares e diz acreditar na recuperação financeira de Portugal.
Por Ígor Lopes
Para Mundo Lusíada
António José Emauz de Almeida Lima, cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro desde 2006, conta já com 27 anos de carreira. Viveu nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Bélgica, em Moçambique e agora atua no Brasil. Conhece como poucos a importância da língua portuguesa. Nos últimos anos, afirma ter podido experimentar a vivência de uma nação irmã onde tantos compatriotas buscaram e concretizaram os seus sonhos. Nas horas livres, o cônsul gosta de ouvir música, ler e fazer atividades físicas. É casado com Vanda Maria Costa de Sousa Araújo e tem três filhas. Licenciado em Direito, Antônio nasceu em Lisboa em novembro de 1956. É um homem respeitado e conta com muitas homenagens. É Comendador da Ordem do Infante D.Henrique, de Portugal, Oficial da Ordem do Rio Branco, do Brasil, ganhou a medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e a medalha Tiradentes, pela ALERJ.
“Tenho orgulho na história do meu país e da diáspora portuguesa e tenho uma admiração profunda pelo Brasil como grande país que é e que soube partilhar com povos de todo o mundo as suas riquezas e a sua beleza, acolhendo-os com generosidade e abertura. O exemplo de miscigenação cultural e étnica brasileira deverá ser admirado e respeitado em todo o mundo”, sublinha Antônio de Almeida Lima.
O Mundo Lusíada conversou com este diplomata. Durante a nossa entrevista, Antônio Lima falou da importância das instituições portuguesas no Rio na promoção e divulgação das tradições lusas, das atividades consulares e da melhora no atendimento aos cidadãos. Falou ainda sobre a atual situação de Portugal, que enfrenta problemas sérios de ordem financeira. Antônio Lima exaltou também a necessidade de se acreditar no futuro do país, como forma de vencer todas as barreiras que Portugal enfrenta atualmente.
Mundo Lusíada: Qual é a visão do consulado em relação à comunidade portuguesa que vive no Rio de Janeiro?
Antônio Lima: A comunidade portuguesa no Rio de Janeiro é uma das maiores, mais antigas e bem integradas de toda a diáspora portuguesa. São luso-brasileiros que atuam em muitos domínios de atividade, desde o econômico, ao social, ao cultural, ao institucional. Uma vez que os grandes fluxos de imigração portuguesa para o Brasil se reduziram substancialmente nos últimos 40 anos, assistimos hoje às segundas e terceiras gerações procurarem resgatar as suas raízes, solicitando o registro de sua nacionalidade e a obtenção de passaporte português. Entretanto, a boa fase recente do Brasil e do Rio, aliada à crise econômica e financeira em Portugal, tem provocado nos últimos anos um recrudescimento do interesse dos portugueses pelas oportunidades de negócio e de trabalho aqui. Muitos jovens estudantes têm procurado o intercâmbio com universidades cariocas passando temporadas de estudo no Rio. A comunidade mais antiga tem assegurado a continuidade das instituições, associações e clubes de origem lusitana, muitos deles com mais de um século de existência e que formam um universo muito importante na promoção e divulgação das tradições, da cultura e dos hábitos portugueses, para além da ação beneficente de várias delas que devo aqui realçar com especial admiração.
ML: De que forma essa comunidade pode ajudar o consulado e vice-versa?
AL: Promovendo a divulgação da nossa cultura e a defesa dos interesses da comunidade portuguesa e de Portugal, mas também colaborando na partilha de informação e na difusão das atividades desenvolvidas pela comunidade e pelo consulado e no reforço das ligações ao Portugal contemporâneo. O auxílio aos mais carentes da nossa comunidade é outro aspeto fundamental das atividades das instituições beneficentes da comunidade que em muito nos ajuda no exercício da proteção consular.
ML: O Mundo Lusíada conversou com portugueses que vivem no Rio de Janeiro e com líderes de instituições portuguesas na cidade maravilhosa. Alguns depoimentos mostram uma grande preocupação com o atendimento no consulado português no Rio. Essas pessoas referem que o atendimento deixa a desejar e que os serviços são morosos e burocráticos. Como o senhor responde a essas críticas?
AL: Tentamos melhorar diariamente os serviços e corrigir os erros. Não conseguimos atingir ainda a excelência que pretendemos, mas temos vindo a reduzir substancialmente o tempo de espera. Desde que introduzimos agendamento para os atos principais (cartão do cidadão, passaporte, vistos) organizamos melhor o atendimento. Desde o início deste ano voltamos a aceitar o envio pelo correio de pedido de nacionalidade, para análise e iniciamos o pagamento por boleto bancário. A central telefônica e o site respondem hoje à maioria dos pedidos de informação. Antigamente, um pedido de informação gerava um atendimento individual de em média dez minutos, prendendo um funcionário para dar esclarecimentos particulares quando a informação hoje está toda no site e em textos escritos que podemos mandar para o e-mail das pessoas. A burocracia tem vindo a ser gradualmente diminuída, com a aplicação de registros on-line, remessa do passaporte para casa, diminuição dos documentos a apresentar, etc.
ML: Há mudanças previstas no atendimento no consulado?
AL: Devemos ainda este ano dar início ao agendamento e pagamento de todos os atos através do site e da emissão de boleto bancário. As autenticações de documentos passarão também a ser enviadas pelo correio e pagas por boleto. Queremos evitar deslocações desnecessárias ao consulado. Vamos também concluir a digitalização de todo o arquivo o que irá ajudar a agilizar mais o atendimento.
ML: Qual é a sua visão em relação à atividade consular no Rio?
AL: Sendo um dos maiores consulados portugueses do mundo, numa cidade que é a segunda mais desenvolvida do Brasil e em que a presença de luso-brasileiros é ainda muito forte, naturalmente que a importância do posto é muito grande. Por isso, temos procurado pautar a atuação com atenção a múltiplos setores, para além dos serviços burocráticos de emissão de documentos. Quanto aos domínios social, econômico e cultural o cônsul-geral procura promover, acompanhar e prestigiar as atividades das associações e instituições da comunidade, para além dos contatos que mantém com as autoridades e instituições e empresas cariocas e fluminenses com vista à promoção, defesa e proteção dos nossos interesses.
ML: Portugal enfrenta questões graves no campo financeiro e de governação, tendo que pedir ajuda a instituições internacionais. De que forma esse contratempo pode prejudicar o andamento dos serviços consulares aqui no Rio?
AL: Portugal tem de fazer um esforço grande de contenção de despesas e de aumento de produtividade para fazer face às dificuldades presentes e cumprir as suas obrigações internacionalmente assumidas e os compromissos de reforma que contratou com a União Européia e o Fundo Monetário Internacional. O consulado-geral no Rio de Janeiro não deixará de cumprir a sua parte, como, aliás, sempre o fez, porque é, desde há mais de seis anos, dos que mais atos pratica em toda a rede consular, com uma produtividade per capita dos funcionários muito elevada.
ML: Como enxerga esse momento vivido em Portugal?
AL: Com esperança e espírito de luta por um país melhor. Com quase 900 anos, inserido no principal bloco comercial do mundo, com uma língua falada por mais de 200 milhões de pessoas espalhadas pelos cinco continentes, Portugal vai conseguir ultrapassar as dificuldades atuais, como foi capaz de fazer no passado. Com a ajuda dos muitos milhões de portugueses espalhados pelo mundo e as capacidades existentes em Portugal, só podemos ter razão para crer no futuro melhor.