Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Se é verdade que parte significativa da população mundial, vive em condições aceitáveis, do ponto de vista da satisfação das necessidades elementares: cuidados de saúde, alimentação, trabalho, habitação, educação, formação, assistência social; também existe uma outra realidade que aponta para um elevado número de pessoas a viver abaixo daquele nível, estatisticamente, em situações próximas do limiar da pobreza; uma outra parte, cerca de 20% dos habitantes do mundo, viverá na pobreza extrema, com um rendimento por pessoa equivalente a 1 dólar por dia, o que se deplora, e constitui uma manifesta dificuldade dos governantes responsáveis, para eliminarem esta indigna chaga social.
Resulta que, em qualquer parte deste planeta, seja o país mais rico, ou o mais pobre, existem pessoas e grupos económicos extremamente ricos, e outros grupos, miseravelmente pobres, situando-se entre os dois extremos uma outra classe de pessoas, que viverá com os meios suficientes para desfrutar de uma vida sem grandes dificuldades.
A divisão entre ricos e pobres sempre existiu e tem-se mantido, o que não significa que tal situação deva ser a regra, pelo contrário, uma maior aproximação entre eles é que seria desejável, como norma. Esta reflexão, apoiada, não significa: erradicar os ricos, ou retirar-lhes o que pelo esforço próprio, pelo risco, pela boa administração e pelo investimento direto conseguiram obter, por processos legais e justos; pretende, outro sim, reduzir o número de pobres, criando-lhes condições e incentivando-os ao trabalho, à poupança, ao estudo e valorização pessoais, ao investimento moderado e, numa primeira fase, sem risco, precisamente para os aproximar das classes médias e, preferencialmente, das mais altas.
É certo que poder-se-á argumentar que muitos pobres estão nesta condição, por culpa própria, porque não têm sabido, ou querido administrar com parcimónia os recursos que vão auferindo, preferindo viver acima das suas possibilidades económico-financeiras, ou apostando nos benefícios de um Estado-Providência, ou ainda esperando a solidariedade dos seus concidadãos.
Outros estarão nesta situação de pobreza, porque a vida não lhes terá proporcionado melhores oportunidades, ou mesmo que as tenha oferecido não foram detetadas, ou então, tais oportunidades, foram mal utilizadas, com a agravante de circunstâncias diversas como: a doença, o desemprego, acidentes, catástrofes naturais terem destruído, no todo ou em parte, o respetivo património familiar, empresarial ou outro.
Finalmente, outras situações podem ocorrer que facilitam a pobreza, pela intimidação, repressão, obscurantismo e escravatura do povo, nomeadamente através de reformas políticas ditatoriais, mesmo em países muito ricos em recursos naturais, nos quais existe uma elite dominante, próspera e poderosa, que domina uma imensa multidão de proletários, pedintes e marginalizados.
Em qualquer uma das situações mencionadas, poder-se-iam apontar países, classes dominantes e dominadas, atividades e processos conducentes à riqueza e os suportes legais, precisamente elaborados, geridos e controlados por uma classe influente de governantes. e grupos económicos muito poderosos, todavia, a indicação dos países, das classes/elites e outras circunstâncias, favoráveis a determinadas situações, são bem conhecidas de qualquer pessoa medianamente informada, além de não se pretender ferir a dignidade, nem a vulnerabilidade daqueles que sofrem os efeitos negativos das desigualdades: os pobres, os marginalizados, os excluídos por qualquer preconceito.
Viver bem com sabedoria depende: tanto das elites governativas, e/ou detentoras dos recursos; como também de cada indivíduo, enquanto pessoa e cidadão, singularmente considerado, e/ou organizado em diversas associações, legalmente constituídas, responsavelmente dinâmicas e suficientemente competentes.
É evidente que em nenhuma parte do mundo, em nenhum país específico, é possível que todos os seus membros sejam ricos, mas afigura-se viável e imperioso que se reduza o número de pobres, sem ser necessário tirar aos primeiros para se dar aos segundos.
A solução para diminuir as desigualdades, e aumentar a estabilidade mundial passa, justamente, por uma maior igualdade de oportunidades de acesso aos diversos serviços, e bens disponibilizados: pelo Estado, pelas empresas, associações e pela sociedade civil, esta aqui entendida como todos os cidadãos que não integram o aparelho da administração pública.
Viver bem com sabedoria: pressupõe o envolvimento de toda a comunidade, proporcionando um crescimento equitativo e sustentado; implica, uma melhor repartição das riquezas e recursos naturais e produzidos através da comparticipação de todos; exige, o estabelecimento de critérios objetivos na aplicação das contribuições da população por forma, justamente, a favorecer os que mais precisam, investindo em infraestruturas que promovam maior qualidade de vida; postula, uma política de verdadeiros incentivos ao estudo, ao trabalho, à poupança, numa perspectiva de autonomia e constituição de um futuro melhor; finalmente, impõe, que sejam tomadas medidas concernentes à maior estabilidade, pacificação política e social, respeito pela dignidade da pessoa humana, qualquer que seja o seu estatuto, social, profissional, político, religioso ou outro.
Pede-se aos detentores do poder decisório, político, judicial, religioso, empresarial e qualquer outro, conjugação de esforços, sabedoria para congregar as boas sinergias e converte-las em soluções ecléticas, que conduzam à estabilidade, ao progresso, ao fim das desigualdades.
Apela-se aos indivíduos, famílias e grupos organizados que abdiquem de posições egocêntricas, exacerbadamente individualistas e adotem: a virtude da partilha, da prudência e da sabedoria, considerando que: «A maior ameaça à estabilidade global reside na desigualdade entre os que têm e os que não têm. Precisamos de crescimento, pelo menos o suficiente para que os que não têm transponham o fosso, pois ninguém acredita que os ricos se disponham a dar o que têm. A continuação da desigualdade levar-nos-á sem dúvida tanto a desastres naturais (fome, epidemias) como ao conflito armado. O problema consiste, pois, em conduzir o crescimento de forma adequada, ajudando os pobres a libertarem-se da armadilha da miséria, através da transição demográfica. Só depois de o conseguirem, poderemos encarar de forma optimista qualquer viabilidade de um futuro melhor.» (GRIBBIN, 1999:312).
Bibliografia
GRIBBIN, John, (1999). Génesis. As Origens do Homem e do Universo. 2ª Ed. Tradução, Raul Sousa Machado. Mem Martins: Publicações Europa América.
Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Professor Universitário, Escritor, Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea.
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