Mundo Lusíada com Lusa
Portugal está a preparar um novo pacote de assistência militar à Ucrânia, disse em Kiev o ministro dos Negócios Estrangeiros, que nesta terça-feira foi condecorado pelo Presidente ucraniano, no fim de uma visita de dois dias ao país.
João Gomes Cravinho indicou aos jornalistas portugueses, no balanço da sua presença na Ucrânia, que Portugal “vai anunciar muito em breve um novo pacote de ajuda correspondendo àquilo que são as necessidades do momento” das autoridades de Kiev.
O chefe da diplomacia portuguesa não precisou o tipo de ajuda que está em preparação, remetendo para um anúncio a ser realizado pela ministra da Defesa, Helena Carreiras, que, referiu, “tem feito esforços muito grandes” nesse sentido.
Segundo dados do Ministério da Defesa fornecidos à Lusa no final de dezembro, Portugal já entregou à Ucrânia, desde o primeiro trimestre de 2022, viaturas blindadas de transporte de pessoal M113 (total de 28) e respetivo armamento, além de três carros de combate Leopard 2A6.
Foi ainda disponibilizado armamento (espingardas automáticas, acessórios diversos, metralhadoras pesadas), equipamentos de proteção (capacetes, coletes balísticos, óculos de visão noturna), equipamento de comunicações, material médico e sanitário, munições de artilharia, sistemas aéreos não tripulados e geradores para produção de eletricidade.
O mais recente apoio previsto envolve três viaturas blindadas de transporte de pessoal M113 e duas M577 em versão de socorro e apoio médico.
Apoios
Cravinho afirmou que a condecoração que lhe foi atribuída pelo Presidente ucraniano é um agradecimento ao apoio de Portugal às autoridades de Kiev contra a invasão russa.
“A condecoração que o Presidente Zelensky me outorgou deve ser entendida como um agradecimento a Portugal por aquilo que Portugal tem feito e por aquilo que os portugueses sentem em relação à Ucrânia”, afirmou aos jornalistas João Gomes Cravinho, na sua chegada à capital ucraniana para visita de dois dias.
“Estamos a fazê-lo politicamente, estamos a fazê-lo militarmente e financeiramente”, declarou o ministro, lembrando também o acolhimento de mais de 60 mil refugiados desde a data da invasão e reafirmando o apoio de Portugal a Kiev “pelo tempo que for necessário, enquanto se defende da agressão russa”.
João Gomes Cravinho falava aos jornalistas ao lado do ministro da Educação, João Costa, no dia 05 em Jitomir, na Ucrânia central, a cerca de 150 quilômetros a oeste de Kiev, onde os dois governantes visitaram ao início da tarde o Liceu 25, uma escola destruída pelos bombardeamentos russos, em março de 2022, e que será recuperada com apoio português.
Antes, os ministros participaram no Fórum de Reconstrução de Jitomir, com dezenas de intervenientes ao longo do dia, numa organização tripartida de Portugal, Ucrânia e Estónia.
À chegada a Kiev, na sua quarta visita à Ucrânia desde a invasão russa, João Gomes Cravinho relacionou o significado desta deslocação, numa fase em que a Rússia parece ter a iniciativa nas frentes de guerra e de dificuldades dos aliados na ajuda a Kiev, com as características de longo prazo deste conflito.
“É muito importante mantermo-nos unidos e solidários com a Ucrânia. Há momentos melhores, há momentos piores. O fundamental é que, se a Rússia tiver ganho o que está em causa, vai haver instabilidade em todo o continente europeu por décadas”, observou.
Nesse sentido, o chefe da diplomacia assegurou que a estratégia de fundo de Portugal “continua exatamente igual, que é apoiar a Ucrânia até que consiga os seus objetivos”, ou seja “expulsar os invasores russos e nisso nada mudou”.
O ministro ucraniano Dmytro Kuleba voltou a saudar a recente aprovação de um pacote de assistência de 50 mil milhões de euros da União Europeia e mencionou “mensagens tranquilizadoras dos Estados Unidos de que o apoio dos americanos também será prestado”, em alusão a um financiamento aprovado no Senado de cerca de 60 mil milhões de dólares (46,6 mil milhões de euros), mas que encontra ainda resistências da ala radical do Partido Republicano na Câmara de Representantes.
Ao fim de quase dois anos desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano manifestou hoje a sua intenção de permanecer no cargo, deixando duas razões apenas que possam levar à sua saída.
“A primeira é se o Presidente [Zelensky] me pedir que o faça, porque ofereceu-me este cargo e penso que é justo que, se ele quiser ver outra pessoa como ministro dos Negócios Estrangeiros, eu não continue”, observou.
O segundo motivo, apontou, está relacionado com eventuais divergências sobre a forma como a política externa da Ucrânia é definida e gerida.
“Nenhuma destas duas razões existe neste momento. Por conseguinte, continuo a trabalhar. Mas, mais uma vez, gostaria de sublinhar que o Presidente tem esse direito”, declarou, insistindo que Zelensky tem a prerrogativa de afastar em qualquer momento os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, bem como o comandante das Forças Armadas.