Por Jean Carlos Vieira Santos
O primeiro contato com a cultura açoriana para além das páginas de turismo perpassa períodos de estudos na Universidade do Algarve (UAlg), em Portugal. Esse ciclo foi potenciado pelo poder dos portugueses em divulgar sua história, arte e cultura, assim como pela honrosa convivência com o professor doutor João Albino Silva, um dos maiores nomes das pesquisas em turismo no mundo e nascido nos Açores.
Ao longo desse período, entre as leituras sobre a atividade turística e as olarias portuguesas, as reflexões sobre o turismo e os sujeitos oleiros do território autônomo da república portuguesa cruzaram por vezes o nosso olhar. Assim, asseveraramos que a UAlg foi o elo que me permitiram interessar pelos Açores, sem nunca termos visitado a ilha lusitana localizada no Atlântico, fascinante destino turístico que está entre os meridianos 25º e 31º de longitude oeste e os paralelos 36º e 39º da latitude norte.
Diante desse transito intercontinental nos restou, ao retornarmos ao Brasil Central, região do cerrado, planejar a ida a Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis, Santa Catarina, onde conhecer a Casa Açoriana Artes e Tramoias Ilhoas seria o ponto culminante da visita. De um lado, havia a condição de turista interessado por cultura e arte, e, de outro, as conexões trazidas da estadia em terras algarvias.
A primeira etapa nessa região da ilha se refere a um restaurante localizado na rua Quinze de Novembro; depois, flertamos com outros comércios na mesma senda e seguimos, a passos pausados, até a Igreja Nossa Senhora das Necessidades, patrimônio que se destaca na paisagem. Depois de sairmos do espaço religioso, dirigimo-nos à rua Cônego Serpa para chegarmos à Casa Açoriana, uma galeria de arte repleta de história e significado – tal edifício, inclusive, nos remeteu a algumas casas das Aldeias do Algarve próximas ao Atlântico.
Esse atrativo da Ilha de Santa Catarina é um ambiente decorado, receptivo e organizado com espaço de visibilidade para os artistas locais, aspecto particular que reforça a história e o trabalho artesanal/manual como importantes componentes turísticos do destino. Também é um sítio que estimula a circulação de informações culturais, ao aproximar os visitantes em relação à paragem açoriana catarinense.
No quintal dos fundos, há um café, lugar que também responde às especificidades da paisagem de Santo Antônio de Lisboa como parte do processo de formação cultural, com gastronomia que atrai o visitante que chega à Casa Açoriana. O uso desse espaço simboliza o tempo do ócio associado à história e aos hábitos e costumes de uma região de Florianópolis assentada na hospitalidade.
Ao adentrarmos no lugar, sublinhamos que a atividade turística representa novas características e formas de usos desse quintal, ao torná-lo apto ao turismo e inteiramente adequado às funcionalidades das atividades culturais. Isso reforça a importância dos cafés para ambientes como a Casa Açoriana, onde é possível se sentar e celebrar o encontro com a própria viagem.
Visitar a Casa Açoriana e seu café nos instiga a conhecer outros cafés que fortificam a atratividade de territórios entre muros. Com isso, aprofundamos o desejo de aprender sobre valores artísticos, notabilidade para o turismo cultural e a salvaguarda do valor da memória, conhecimentos que proporcionam um prazer inigualável, ao ressaltarmos a relevância desses espaços para o ciclo de vida dos destinos turísticos.
Nesse ambiente permeado pela história de um povo, os turistas que ali se aportam valorizam a arte e a cultura do lugar são vistas de fato, pois, na Casa Açoriana localizada em um bairro de várias cores, as palavras não se cansam, os olhares são roubados do mar e existe um café à tua espera.
Fica aqui a narrativa que valoriza a visita a esse lugar!
Por Jean Carlos Vieira Santos
Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve (UALg/Portugal) e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).