Da Redação
Com Lusa
O vírus que provoca a covid-19 está a “competir com ele próprio neste momento”, gerando novas variantes que vão predominar em qualquer parte do mundo em função da eficácia de disseminação que apresentarem, segundo o virologista Pedro Simas.
Em declarações à Lusa, o especialista do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa considerou que, recentemente, o “aumento vertiginoso dos casos apareceu em países que não confinaram” e não tanto pelo surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 numa determinada região do mundo.
“Mais ou menos ao mesmo tempo, e de uma forma espontânea, surgiram três variantes em três continentes que partilham a mesma mutação que lhes confere esta eficiência em disseminarem-se”, adiantou Pedro Simas, referindo-se às mutações do novo coronavírus detetadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil.
Segundo disse, enquanto o SARS-CoV-2 apresentar características pandêmicas, ou seja, provocar um elevado e generalizado número de infeções diárias, as variantes que surgirem com uma maior capacidade de disseminação “vão-se espalhar por todo o mundo” e não apenas numa determinada área geográfica, seja a Ocidente ou a Oriente.
“O vírus está a competir com ele próprio neste momento. As variantes que forem mais eficientes a disseminar serão as que vão predominar em qualquer parte do mundo. Há tantas infeções nos vários continentes que as mutações aparecem de forma aleatória. Como há tanta infeção, há uma grande possibilidade dessas mutações aparecerem”, explicou Pedro Simas.
De acordo com o especialista, no caso de Portugal, a terceira vaga de casos de infeção pelo novo coronavírus que aconteceu no início deste ano deve ser atribuída mais ao alívio das medidas restritivas na época do Natal do que à nova variante do Reino Unido.
“Essa terceira vaga aconteceu porque relaxamos as medidas, tanto que, quando entramos em confinamento, começamos a ver decrescer o número de casos”, disse Pedro Simas à Lusa, ao salientar a eficiência das medidas de contenção, apontando o exemplo do próprio Reino Unido, onde os casos de infeção também estão a diminuir.
Até à última quarta-feira, o Reino Unido já registrou 109.335 mortes de covid-19 e 3.871.825 casos. Entre 28 de janeiro e 03 de fevereiro, foram registradas 7.448 mortes, um decréscimo de 13,4% em relação aos sete dias anteriores, para uma média diária de 1.064 óbitos.
“Estão sempre a surgir variantes, que dificultam a nossa vida, mas não é isso que faz a terceira vaga” por si só, assegurou o virologista, para quem a “boa notícia” é que nenhuma das variantes detetadas até agora parece “causar mais doença”.
“Temos de estar atentos para corrigir a vacina” caso isso se altere, alertou Pedro Simas, ao referir que, no caso das vacinas de RNA, “é muito fácil fazer essa correção” em comparação, por exemplo, com as vacinas contra gripe.
Variante da África
Nesta sexta-feira, o epidemiologista sul-africano Salim Abdool Karim, especialista em doenças infecciosas, considerou ser inapropriado referir-se à variante 501Y.V2 do novo coronavírus como uma “variante sul-africana”, sendo sim “uma detetada pela primeira vez” no país.
Abdool Karim, que é diretor do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul (SAMRC, na sigla em inglês), e lidera o comité consultivo ministerial (MAC, na sigla em inglês) do Governo sul-africano para a covid-19, explicou que a variante 501Y.V2 do SARS-CoV-2 “não é uma variante sul-africana, mas uma estirpe que surgiu no país”.
Assim, “referir-se à 501Y.V2 como a variante sul-africana é inapropriado”, disse o investigador, citado pelo portal sul-africano TimesLive.
“Devo salientar que, embora o vírus nesta variante em particular tenha sido descrito pela primeira vez na África do Sul, ele poderá não ter emanado da África do Sul, é impróprio chamá-lo de variante sul-africana, é melhor chamá-lo pelo seu nome”, sublinha o professor da Universidade do KwaZulu-Natal, na África do Sul, e da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
A variante 501Y.V2 do novo coronavírus, descoberta por cientistas sul-africanos pela primeira vez no Cabo Oriental, foi considerada como sendo mais infecciosa do que o vírus original e, desde então, foi detetada em pelo menos 30 outros países, escreve a publicação online sul-africana.
O portal acrescenta que “no início da semana, 11 pessoas testaram positivo com a 501Y.V2, em várias regiões de Inglaterra, sem terem tido qualquer contacto com outras pessoas que tinham viajado recentemente”, salientando que “o Governo do Reino Unido começou a testar pessoas em oito condados de Inglaterra, independentemente dos sintomas, na tentativa de identificar e erradicar a variante”.
Com mais de 8,4 milhões de testes de covid-19 realizados desde março e 31.032 novos testes nas últimas vinte e quatro horas, a África do Sul contabiliza 1.466.767 infeções do novo coronavírus, 45.605 óbitos por covid-19, e 93.976 casos ativos da doença pandêmica, segundo as autoridades.