Vírus: Cientistas investigam morte de dezenas de botos no litoral do Rio

Da Redação
Com ABr

A morte de dezenas de botos-cinza na Baía de Sepetiba, no litoral do estado do Rio de Janeiro, vem preocupando cientistas e grupos engajados na proteção da espécie, que é ameaçada de extinção. Diariamente estão sendo avistadas carcaças com lesões na pele, mas as causas da mortandade até o momento são desconhecidas. Exames estão sendo realizados em laboratórios especializados na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e na Universidade de São Paulo (USP).

O Instituto Boto Cinza, criado em 2009 com o objetivo de contribuir para a preservação da espécie, informou em nota ter encontrado 78 carcaças em apenas 17 dias. “A partir do dia 16 de dezembro, começamos a recolher quatro a cinco botos mortos todos dias, quantidade que era mensal. A mortalidade, que era de cinco por mês, já era insustentável para essa população”, registra o texto. A nota também destaca que, entre os animais vivos, foram observados que alguns estão magros e também possuem lesões na pele.

O boto-cinza é um dos menores golfinhos da família dos Delphinidae e vive entre 30 e 35 anos. Listado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como espécie ameaçada, habita áreas abrigadas, como enseadas e baías, especialmente próximas a manguezais. Como não têm o hábito de migrar, são extremamente dependentes do equilíbrio ambiental de onde vivem.

Investigação

De acordo com a entidade, os principais motivos para mortes de botos na região são o avanço do desenvolvimento portuário e industrial no entorno da baía e a pesca predatória que acaba com os peixes dos quais eles se alimentam. No entanto, houve uma mudança no padrão dos casos, o que pode indicar uma causa distinta. Até então, as vítimas mais frequentes eram adultos machos, mas a maioria dos episódios recentes envolvem filhotes e fêmeas.

No Brasil, os botos-cinzas podem ser encontrados em diversas localidades desde o Pará até Santa Catarina. A maior população do mundo fica justamente na Baía de Sepetiba, que banha a zona oeste do Rio de Janeiro e os municípios de Itaguaí e Mangaratiba. A baía se forma por meio de uma barreira parcial imposta ao Oceano Atlântico pela restinga de Marambaia. Estima-se que 800 botos vivam no local. Com isso, de acordo com a contabilidade do Instituto Boto Cinza, a mortandade já teria afetado até o momento quase 10% da população.

Em análise preliminar, a organização suspeita que alguma enfermidade esteja afetando a população. “A pesca em larga escala industrial pode capturar os golfinhos. No entanto, não observamos nada de anormal na pesca dentro da Baía de Sepetiba. A maré vermelha [aglomeração de micro-plânctons] e a poluição por derramamento de óleos e substâncias químicas causaria também a mortalidade em peixes, crustáceos, tartarugas e aves marinhas. Como não há evidencias até o momento da pesca industrial, da poluição aguda e da maré vermelha, a mais provável causa está ligada a doença específica dos golfinhos”.

A entidade cobra ações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para diminuir as ameaças à espécie. Uma solução apresentada é a criação de uma Unidade de Conservação Marinha que assegure um refúgio saudável para os botos outros animais.

Procurado pela Agência Brasil, o Inea disse que desde novembro intensificou as vistorias nas baías. Além disso, o órgão informa que, em abril de 2016, firmou convênio com a Transpetro, que atua em operações de importação e exportação de derivados do petróleo, gás e etanol. Pelo acordo, a empresa deve destinar R$10 milhões para o Instituto Maqua da Uerj, o que possibilitará intensificar as atividades relacionadas com a proteção de cetáceos, dentre eles os botos-cinza, nas baias da Ilha Grande e Sepetiba. Entre essas atividades, estão a autópsia e biópsia nas carcaças com o objetivo de identificar as causas das mortes. Cerca de R$1,8 milhões já teriam sido repassados.

Já o Ibama informou que realiza operações regulares de fiscalização na Baía de Sepetiba em conjunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Segundo o órgão, não há suspeita de que as mortes tenham ocorrido por pesca predatória e também não houve registro de nenhuma alteração recente no habitat que possa ter provocado a situação.

Hipóteses

O oceanógrafo e pesquisador da Uerj, David Zee, levanta outras hipóteses. Para ele, é preciso estudar possíveis efeitos do ciclo lunar. “Estamos em uma época em que a lua está próxima do perigeu. A lua está mais próxima da Terra. Com isso, as flutuações da maré são mais intensas”, explica.

Segundo ele, o fenômeno pode estar promovendo a entrada e o acúmulo de água poluída na Baía de Sepetiba, o que explicaria a grande quantidade de filhotes entre as vítimas, já que os animais mais novos são mais suscetíveis à contaminação da água. Outra hipótese levantada pelo pesquisador está relacionada à proliferação de algas nocivas, o que poderia estar ocorrendo por influência do calor intenso e de outros fatores.

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