Vindima no Douro mais cedo para salvar uva e trabalho conta com imigrantes

A vindima no Douro, quinta em Alijó, 18 de agosto de 2022. PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Da Redação com Lusa

A vindima começou mais cedo no Douro para “salvar” a uva da seca e do calor e, pelos valados de uma quinta, em Alijó, cruzam-se vindimadores portugueses, timorenses e ucranianos, que minimizam a falta de mão-de-obra.

“Este ano antecipamos a colheita das uvas porque não choveu e as videiras estão a sofrer muito ‘stress’ hídrico”, afirmou à agência Lusa José Morais, da Casa dos Lagares, localizada na aldeia de Cheires, no concelho de Alijó, distrito de Vila Real.

Cortam-se, para já, as uvas brancas, daqui a uns dias iniciar-se-á o corte das uvas tintas e, pela adega e valados da propriedade, ouvem-se diferentes línguas: português, inglês, ucraniano e tétum.

Aqui a vindima faz-se com imigrantes que ajudam a colmatar a falta de mão-de-obra que afeta a região.

“Neste momento estão a participar na nossa vindima senhores timorenses e ucranianos e trabalham todos muito bem”, referiu José Morais, apontando que a adaptação está a ser fácil.

O vindimador português Diamantino Correia Bravo, 64 anos, ainda se recorda das rogas, grupos de homens e mulheres que desciam da montanha para as vindimas do Douro. Com ele, são, neste momento, quatro as pessoas de Cheires que trabalham na propriedade, os restantes são estrangeiros.

O trabalhador salientou que os estrangeiros é que têm ajudado, porque “os de cá não querem trabalhar”, ou “já estão reformados”.

Na vinha, os timorenses arranham o português e, na adega, as duas ucranianas, ali a trabalhar no dia em que a Lusa fez a reportagem, só falam na língua materna. A língua dificulta a comunicação, mas tradutores ‘online’, os gestos e as demonstrações permitem a aprendizagem e a realização do trabalho.

O timorense Edgar Ximenes dos Santos, 40 anos, chegou a Portugal há três meses, veio logo trabalhar para a agricultura e disse que está a gostar do trabalho”, que não considerou difícil de fazer.

Também vindos de Timor, Fernando Alves, 26 anos, disse que gosta de Portugal, e que está também a gostar desta que é a sua primeira vindima, e Atanagio Ramos, 26 anos, também se estreia na vindima, depois de ter chegado há um mês ao país.

“Eu gosto deste trabalho, não me vejo a fazer outra coisa, gosto de trabalhar aqui, na agricultura, gosto de mexer na terra”, afirmou, por sua vez, a duriense Sara Pimenta, 37 anos.

Já Bruno Oliveira, 40 anos, concilia o trabalho na vinha com o voluntariado no quartel dos bombeiros de Cheires.

“No verão, como há pouco trabalho no campo, aproveita-se e vai-se para os bombeiros e este está a ser um ano muito complicado. Agora, com o início das vindimas, começa a ser mais complicado conciliar, mas vamos tentando e ver o que se pode fazer”, afirmou.

No meio da vinha, o produtor José Morais explicou que as uvas estão a amadurecer mal, a transformar-se em passas e, por isso, optou-se por colher agora, enquanto ainda têm líquido.

“Isto é tipo cesariana (…), é colher antes que seja tarde. Cada dia que passa é um prejuízo”, frisou.

A floração da planta foi boa, havia muitas uvas à nascença, não houve pressão de doenças e, até há cerca de um mês, tudo indicava tratar-se de um “bom ano em qualidade e quantidade”.

Depois, devido ao calor e à falta de água, já que os solos estão secos pela falta de chuva, as uvas pararam de crescer, começaram a desidratar e, segundo José Morais, pela primeira vez está-se também a ver a “morte de videiras”.

O Douro não é um território homogêneo. As maiores dificuldades sentem-se nas regiões do Douro Superior e Cima Corgo e menos no Baixo Corgo. Mesmo em Cheires, as vinhas mais afetadas estão nas zonas de baixa altitude e mais quentes, junto às margens dos afluentes do rio Douro.

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) prevê quebras de 20% na Região Demarcada do Douro de 20%, face à campanha anterior.

Apesar de previsões difíceis de fazer, o produtor estima uma quebra de produção, nas vinhas mais afetadas, entre “50 a 90%”.

A vindima culmina um ano complexo, também devido ao aumento do preço dos combustíveis, dos produtos enológicos, de garrafas ou rolhas.

“Realmente, está a ser muito difícil porque ainda vendemos os vinhos ao mesmo preço. Era preciso subir na escala de valor, ainda mais numa zona, como é o Douro, onde as produções por hectare são baixíssimas”, salientou o produtor.

A Casa dos Lagares é uma empresa familiar que tem 18 hectares de vinha e a produção média ronda entre “os 50 a 70 mil litros” repartidos por vinho do Porto, moscatel, vinho branco, tinto e rosé.

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