Vindima de prejuízos para alguns produtores do Douro devido ao granizo

Da Redação com Lusa

Produtores do Douro queixam-se de uma “vindima de prejuízos” devido às tempestades de granizo que, em maio e junho, afetaram algumas localidades da região demarcada e “praticamente destruíram” o trabalho de um ano na vinha.

Na Região Demarcada do Douro, segundo dados da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), o granizo atingiu cerca de 3.800 hectares de vinha, estimando-se que tenha afetado à volta de 2.000 viticultores e que o prejuízo ronde os 7,9 milhões de euros.

Com vinhas na Galafura, Peso da Régua, e Guiães, Vila Real, a empresa Coimbra de Mattos foi atingida por dois episódios de granizo, a 31 de maio e a 11 de junho. O mais grave ocorreu numa vinha de 20 hectares na Galafura, onde os prejuízos, segundo o engenheiro agrícola Rui Meireles, são na “ordem dos 95%”.

Em Portugal a vindima acontece nas próximas semanas, mas os encargos com a mão-de-obra serão muito superiores à colheita.

Rui Meireles disse que, depois de “tanto esforço”, custa deixar as uvas nas videiras, apontando os seis tratamento feitos antes do mau tempo e que foram mantidos nas fases seguintes para “salvar os poucos cachos que há”.

Nesta vinha a empresa não tem seguro, mas já tem numa outra em Guiães, onde o granizo provocou estragos na “ordem dos 70%”. “Aqui temos a maior parte da área e o seguro torna-se um encargo elevado e, a parte de Guiães, é aquela que costuma ser mais afetada”, explicou.

Vitor Herdeiro, dirigente da Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (Avadouriense) e produtor em Fontelo, na freguesia de Abaças (Vila Real), descreve um “ano desastroso”.

“Costumo colher cerca de 30 pipas de vinho e este ano se tiver uma pipa (550 litros) será muito”, afirmou, referindo não ter seguro particular por “ser muito caro” e que os apoios anunciados pelo Governo, após as intempéries, “ainda não chegaram ao terreno”.

Disse que esta vindima “vai ser um autêntico rebusco” e que não vai colher uvas suficientes para preencher o benefício, ou seja, a quantidade de mosto destinado à produção de Vinho do Porto. O benefício representa um importante rendimento para os produtores do Douro.

“Nas parcelas onde tive o prejuízo, a quebra de produção é seguramente de 80 a 85%. Só tive uma parcela que não foi afetada, mas, nas outras, é preciso andar a correr metros e metros para colher um quilo de uvas”, afirmou Melchior Xavier, viticultor em Valdigem, concelho de Lamego.

O produtor referiu não ter seguro porque “são caríssimos”.

“Nem sequer vou fazer vindima, a quebra de produção é tão alta que nem sequer compensa apanhar a uva naquela parcela”, afirmou à Lusa Rui Soares, viticultor e presidente da Associação de Viticultores Profissionais do Douro – ProDouro.

Também em Valdigem, o produtor disse que o granizo afetou entre “quatro a cinco hectares”, que a quebra de produção ronda os “95%” e que possui seguro de colheita.

“O seguro paga uma parte da despesa que tivemos na produção de uva, mas nada substitui a uva em si. Se não tiver a uva não posso transformá-la e deixo de ter vinho para vender e isto o seguro não cobre”, apontou.

Por isso mesmo, reforçou a necessidade de se atuar preventivamente e lembrou a luta, travada há três anos pela ProDouro, para instalar um projeto piloto de luta anti granizo em Alijó e Sabrosa.

Segundo a DRAPN, “só cerca de 15 a 20%” dos viticultores têm seguro neste território, onde o vinho é a principal atividade econômica.

A diretora regional, Carla Alves, disse que tem “estado a promover e a divulgar o sistema de seguros agrícolas junto das estruturas organizativas do setor”.

Organizações e produtores apontam como “bom exemplo” o seguro coletivo de colheitas da Comissão Vitivinícola da Região dos Vinhos Verdes, que abrange a totalidade dos produtores que entreguem manifesto de produção.

No Douro, é ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) que cabe a certificação das denominações de origem e a execução da política vitivinícola na região.

“O atual enquadramento jurídico do IVDP não permite contratar um seguro de colheitas. Não obstante, no regulamento de comunicado de vindima na Região Demarcada do Douro, está prevista a possibilidade de transferência de mosto generoso (benefício) entre parcelas do viticultor ou entre os viticultores”, afirmou o instituto público à Lusa.

Para Vítor Herdeiro, a solução para a região poderia passar pela Casa do Douro, reinstitucionalizada como associação pública de inscrição obrigatória, logo com “capacidade para avançar com um seguro coletivo” que garanta “uma cobertura digna” aos produtores.

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