Por Ígor Lopes
O Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro vai ser palco, até 17 de fevereiro, da exposição “Vieira da Silva – Agora”. Estarão disponíveis 51 obras inéditas, ou pouco conhecidas no Brasil, e também uma fotobiografia dessa artista portuguesa, que faleceu há 20 anos. O evento faz parte da programação do ano de Portugal no Brasil.
Em cena, a arte de uma das mais reconhecidas artistas portuguesas. Num local recheado de cultura, Vieira da Silva ganha vida em vários tons que visam a despertar o interesse do público brasileiro. Mais de meia centena de trabalhos vão recordar o talento desse nome que marcou época e que encontrou no Rio uma espécie de refúgio. A pintora é considerada pelos críticos uma das mais importantes artistas plásticas do século XX.
Os desenhos e pinturas da mostra foram produzidos entre 1934 e 1986 e traçam um arco praticamente completo do trabalho de Vieira da Silva, num conjunto de obras-primas vindas de colecionadores particulares e institucionais do Brasil e de Portugal.
“Reunir trabalhos que cobrem cinco décadas de produção nos permitiu apresentar ao público carioca o desenvolvimento de sua trajetória e a constante renovação de sua linguagem pictórica”, afirma Luiz Camillo Osório, um dos curadores da mostra.
“Maria Helena Vieira da Silva é uma artista singular para retratar a criatividade e o conhecimento portugueses nas artes, cultura e pensamento. Essa exposição é emblemática nas comemorações do Ano de Portugal no Brasil. A artista maior nos panoramas português e internacional da arte contemporânea manteve estreitos laços com o Brasil, onde viveu e influenciou diversos artistas entre 1940 e 1947”, explica o comissário-geral do Ano de Portugal no Brasil, Miguel Horta e Costa.
A mostra tem curadoria também de Marina Bairrão Ruivo, da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva (FASVS).
Diálogos com Vieira
Em paralelo à exposição principal, em que o público carioca vai poder acompanhar cinco décadas de produção da artista franco-portuguesa, já que ela se naturalizou francesa nos anos 50, o MAM preparou a mostra “Diálogos com Vieira da Silva”, que reúne 28 obras de 21 brasileiros que efetivamente dialogaram com a artista. Nomes como Volpi, Guignard, Antônio Bandeira, Lygia Clark e Carlos Scliar, entre outros, representarão a troca artística.
Trabalho “intenso”
A obra de Vieira da Silva ilustra um percurso estético notável, intenso, transcendente e atual, confirmando a excepcional dimensão da artista no panorama internacional da arte contemporânea.
Durante a Segunda Guerra mundial, Vieira da Silva e seu marido, o pintor húngaro de origem judaica, Arpad Szenes, viveram no Rio, temendo as represálias contra os judeus na Europa. Na capital fluminense, conviveram com intelectuais e artistas como Cecília Meireles, Athos Bulcão, Murilo Mendes e Carlos Scliar.
“O embate entre figuração e abstração acompanhou a construção de sua poética, colocando dentro de um universo muito pessoal, as vezes lírico, as vezes trágico, aspectos relevantes da pintura do pós-guerra – momento de maturidade de sua linguagem”, afirma Luiz Camillo Osório.
Marina Bairrão Ruivo lembra que “sua pintura é um testemunho da inteligente associação de um passado – em que Lisboa permanece como um referente cultural – a um presente de renovação e modernidade, simbolizado por Paris”.