Da Redação
Com Lusa
O reconhecimento de Portugal de Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela criou “esperança” e “expectativa” na comunidade portuguesa radicada na Venezuela sobre o futuro do país, por entre receios de possíveis represálias.
“Agora, tudo depende da reação do Governo venezuelano. Espero que (o Governo venezuelano) não tire isso do contexto político, porque isso poderia provocar uma reação desagradável”, disse o conselheiro das comunidades Fernando Campos.
O conselheiro relata ter percebido “que as pessoas, na sua grande maioria, ficaram contentes, satisfeitas, algumas dizem que isso já deveria ter sido feito antes, mas falam sempre muito com o coração e não medem o resto das consequências”.
O receio, afirma, são eventuais consequências para a comunidade por parte do Governo ou de apoiantes do Presidente Nicolás Maduro, após o anúncio feito hoje por Lisboa – e outros países europeus -, reconhecendo Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela: “Que alguém não comece a dizer coisas por aí, a falar mal dos portugueses, porque sim pode ser perigoso”, disse.
Por outro lado, o conselheiro Leonel Moniz, também acompanha com preocupação a situação no país e a vida da comunidade portuguesa.
“De momento todos estamos bem. Há muita gente que pensa que agora Portugal vai enviar aviões e isso não é assim”, disse.
O conselheiro acrescentou que se avizinham “tempos difíceis” e recorda que “não há soluções da noite para a manhã”. Assumiu ainda que qualquer coisa que venha a acontecer no país “não será fácil”, seja para os venezuelanos como para os portugueses.
Segundo Leonel Moniz, alguns portugueses mantêm uma “posição negativa” face a Portugal e à atenção que Lisboa dá aos emigrantes.
O conselheiro diz ter conhecimento de estatísticas da Embaixada de Espanha na Venezuela, que dão conta que atualmente apenas têm inscritos 160.000 cidadãos espanhóis naquele país, quase menos metade da estimativa da comunidade portuguesa e lusodescendente.
“Passamos a ser a maior comunidade europeia. Temos mais de 300 mil portugueses aqui, sem contar os que não estão registados, filhos, netos e bisnetos. A nossa população total está perto de um milhão de habitantes, incluindo as terceiras e quartas-gerações”, alertou.
Vários portugueses contactados pela agência Lusa em Caracas referiram que a posição de Portugal “já era esperada” principalmente por estar “no contexto europeu”.
No entanto, temem que uma eventual situação de isolamento, tanto interna como externa, “complique a crise no país” e que ocorram “situações de violência, pilhagem e mesmo um agravamento da insegurança”.
“Estamos na expetativa. São momentos de tensão. A maioria (da população) está com o Guaidó, mas ainda há muita gente que apoia o regime, que precisa dos subsídios do Governo e que já não mudam de posição. Esperemos que não hajam situações de violência”, disse o comerciante português José Vasconcelos.
Relações
O Presidente Nicolás Maduro ordenou “rever integralmente” as relações bilaterais com os países da Europa que reconheceram o deputado Juan Guaidó como presidente encarregado de realizar eleições presidenciais livres na Venezuela.
“O Governo da República Bolivariana da Venezuela irá rever integralmente as relações bilaterais com esses governos, a partir deste momento, até que se produza uma retificação que descarte a seu apoio aos planos golpistas e se caminhe para o respeito estrito pelo direito internacional”, explica um comunicado do Ministério de Relações Exteriores venezuelanos.
No documento, divulgado em Caracas, o Governo de Maduro apela “aos governos europeus para que transitem pelo caminho da moderação e do equilíbrio, para que sejam capazes de contribuir construtivamente para uma via política, pacífica e dialogada, que permita abordar as diferenças entre as forças políticas venezuelanas”.
O presidente da assembleia nacional da Venezuela, Juan Guaidó, garantiu novos apoios internacionais, após oito países da União Europeia (UE), incluindo Portugal, o terem reconhecido como Presidente interino do país até à convocação de eleições presidenciais.
Estes reconhecimentos foram anunciados poucas horas depois de ter expirado o ultimato de oito dias emitido pela UE, mas sem unanimidade, para que o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocasse eleições livres e democráticas.