Variante associada à Índia representa quase 5% dos novos casos – ministra portuguesa

Da redação com Lusa

Nesta sexta-feira, a ministra portuguesa da Saúde manifestou preocupação com a situação epidemiológica da covid-19 em Lisboa e adiantou que, a manter um número elevado de casos, as medidas a aplicar serão iguais às de “qualquer outro território”.

“Lisboa tinha ontem [quinta-feira] 153 casos por 100 mil habitantes é, portanto, uma daquelas situações que nos preocupa, mas que tem um quadro muito distinto daquele que enfrentamos já no passado””, disse Marta Temido aos jornalistas no final da reunião no Infarmed, em Lisboa, que reuniu peritos, o Presidente português e membros do Governo.

A ministra destacou também o fato de a variante associada à Índia representar, neste momento, quase 5% dos novos casos sequenciado no mês de maio.

Apesar destas circunstâncias, a vacinação continua a ser a “melhor arma”, disse, acreditando que no final do verão 70% da população adulta esteja vacinada.

“Estamos numa fase de transição entre o momento em que só tínhamos, por nós, a questão das medidas não farmacológicas, as máscaras, as lavagens de mãos, o distanciamento físico, os confinamentos (…) para o momento em que temos a expectativa de ter uma imunidade pela vacinação, mas esse é um momento futuro, no momento ainda estamos a tentar afirmar essa imunidade, essa vacinação mais alargada e daí a necessidade de manter a prudência”, afirmou.

Em Portugal, a pandemia de covid-19 já provocou 17.022 mortes entre os 847.006 casos confirmados de infecção com o coronavírus SARS-CoV-2, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A ministra sublinhou que “um concelho que tem 120 casos por 100 mil habitantes entra em alerta e quando repete esse valor permanece em alerta”.

“Vamos todos trabalhar para que esses números não sejam atingidos, garantindo que as medidas que são aplicáveis num território são aplicáveis pelos mesmos critérios num qualquer outro território”, vincou Marta Temido.

Segundo o boletim epidemiológico, a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) continua a ser a que tem mais novos casos confirmados, com 295 dos 598 registrados hoje e um óbito.

Marta Temido destacou quatro mensagens referidas pelos peritos na reunião sobre a situação epidemiológica do país, sendo a primeira que “o impacto da pandemia de covid-19 na população portuguesa se modificou”

“Temos hoje os adultos mais jovens, entre os 20 e os 29 anos, como os principais alvos dos novos casos de infecção por SARS-CoV- 2 e, por outro lado, temos o grupo etário dos 40 aos 59 anos, como aquele que representa o maior número de hospitalizações, neste momento, e temos felizmente os idosos com uma incidência bastante baixa, sobretudo os mais de 80 anos, e uma letalidade que é muito baixa”, salientou

Realçou ainda que a incidência de óbitos acumulada a 14 dias é inferior a três, o que significa que o país está “claramente com um padrão diferente da situação epidemiológica”.

Por outro lado, apontou, “a doença continua” e a sua incidência está “numa fase ligeiramente crescente”, estando com um risco efetivo de transmissão de cerca de 1,07 calculado para os últimos cinco dias com uma heterogeneidade espacial.

“Neste momento, de todas as regiões do país, só a região Norte e a região do Algarve estão com um risco de transmissão efetivo inferior a 1”, havendo, contudo, situações “mais preocupantes” e que “inspiram maior prudência, maior ponderação designadamente em alguns concelhos da Região de Lisboa e Vale do Tejo, mas não só”.

Também a situação na União Europeia está a melhorar genericamente, não havendo neste momento nenhum país com mais de 500 casos por 100 mil habitantes.

Sobre o alerta do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) para a circulação da variante do SARS-CoV-2 associada à India e para a necessidade de um controle rigoroso de fronteiras, Marta Temido disse que, “por precaução”, o país tem apostado na sequenciação das variantes, bem como no controlo das fronteiras que tem de ser mantido “com responsabilidade e com atenção”.

“Portugal é hoje um país que analisa laboratorialmente aquilo que são os casos positivos no sentido de identificar as diferentes mutações do vírus e identificar eventuais ligações entre indivíduos infetados, através da sequenciação genética, e isso é um instrumento essencial para continuar a garantir esta segurança”, salientou.

Para a ministra “a questão da transmissão de novas variantes através de mutações do vírus em populações eventualmente menos vacinadas é um dos riscos desta nova fase de combate à pandemia”.

Variantes

Nove em cada 10 casos de covid-19 ocorridos em Portugal são causados pela variante detectada Reino Unido, segundo dados do INSA, que apontam para “um ligeiro decréscimo” da presença desta variante no país.

A variante do Reino Unido começou “em força” em janeiro, com 16% do total de casos, em fevereiro subiu para quase 60% e em abril atingiu o máximo, com 91%, descreveu o pesquisador João Paulo Gomes na reunião do Infarmed, em Lisboa.

De acordo com os dados disponíveis, observou-se “um ligeiro decréscimo”, situando-se nos 87,2%, disse o coordenador do estudo sobre a diversidade genética do novo coronavírus em Portugal.

No que respeita à variante de Manaus (Brasil), o investigador disse que começou com “níveis basais”, teve um pico em abril com 4,3%, e em maio há uma estabilização deste valor nos 3%, o que corresponde a uma disseminação por 16 distritos e 48 concelhos do país.

A variante associada à África do Sul começou também de “uma forma relativamente modesta” em Portugal e teve o seu pico em março, com 2,5% de todos os casos de covid-19 no país, e decresceu em abril para 1,3% e em maio ronda os 2%.

“Dá a sensação que, tanto a variante de Manaus como a variante associada à África do Sul, andam entre os 2 e os 4%”, o que indica que estão numa situação “relativamente estável”. Segundo ele, a variante da África do Sul foi já encontrada em 13 distritos e em 41 concelhos.

Já a variante associada à Índia, representou em maio 4,6% do total de casos, estando já em nove distritos e 13 concelhos do país, adiantou João Paulo Gomes.

“A situação atual das principais variantes reflete, por um lado, a adaptação do vírus” e “a situação imunológica da população a qual melhora todas as semanas”, salientou.

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