“Vamos assistir a migrações de sul para norte” de Portugal, diz escritor

Da Redação com Lusa

O escritor e ex-professor universitário Carlos Taibo, autor do livro “Ibéria Esvaziada”, defendeu um movimento migratório de sul para norte de Portugal, decorrente do despovoamento, das alterações climáticas, e da teoria do colapso.

“Vamos assistir a migrações de sul para norte. O norte, em termos climatológicos, vai resistir melhor do que o sul. Isto é evidente. Este é o anúncio, também, dentro de Portugal, de migrações para o norte”, disse o escritor em entrevista à Lusa, no Porto.

Carlos Taibo esteve na cidade para duas conferências no dia 22 de julho, a primeira na Faculdade de Letras (denominada Rússia e Ucrânia: impérios, povos, energia) e a segunda no Espaço Musas, sobre o tema do Decrescimento.

O antigo acadêmico, que lecionou mais de 30 anos na Universidade Autónoma de Madrid, afirma que, “segundo a teoria”, na Galiza e no Norte de Portugal, “na sua versão litoral, as mudanças climáticas não vão gerar uma temperatura mais alta”.

“Mas esse não é o cenário de Ourense nem de Trás-os-Montes”, aponta, fazendo referência à recolha estatística que fez acerca do interior daquela província galega, que, paradoxalmente, perde população para o sul da Península Ibérica.

Segundo Carlos Taibo, a Espanha que se desertifica (em termos climáticos), no sudeste “ganha população”, mas a “Galiza, Astúrias, Leão, o norte de Portugal, perdem população”, num processo “muito significativo”.

“Haverá que ativar um procedimento de correção. E entendo que a correção vai ser traumática”, disse à Lusa o também autor de “Colapso” (2019), “Decrescimento, crise, capitalismo” (2010), “Parecia não pisar o chão. Treze ensaios sobre as vidas de Fernando Pessoa” (2010) e “Galego, português, galego-português?”, com Arturo de Nieves (2013).

Dentro da “Ibéria Esvaziada” do “Despovoamento, Decrescimento, Colapso” que dão título ao seu livro, Carlos Taibo sustenta que também há um ‘Portugal esvaziado’, numa área que vai desde o Baixo Alentejo a Trás-os-Montes, e mesmo um ‘Portugal hiperesvaziado’, próximo à província de Ourense, na Galiza.

O antigo professor universitário aventa que o panorama nos territórios portugueses contíguos àquela província espanhola será “semelhante ao da Galiza do interior”, uma área “de despovoamento evidente, com um crescimento notável da população idosa”, algo que “obviamente tem relação com este processo geral de abandono do mundo rural”.

Junto a Ourense, “num primeiro olhar, não são terras pobres”, afirma.

“São terras com muita vegetação, que permitiriam o crescimento de uma atividade, mas vivemos em modelos políticos muito marcados pelas cidades”, refere ainda, pois “os partidos políticos são formações urbanas” e “os dirigentes políticos são gente que mora nas cidades”, o que “não pode gerar outro cenário que este do abandono completo”.

O escritor parte também da “certeza de que há uma biorregião da Galiza e Norte de Portugal”, antecipando que “no cenário das mudanças climáticas, é a parte da Península Ibérica que vai padecer de menos problemas”.

O mesmo sucederá num cenário de colapso: “as regiões esquecidas, deprimidas, vão levar o colapso de melhor maneira do que as regiões não esquecidas”, afirma Carlos Taibo.

No seu entender, isso acontecerá “porque dependem menos de energias e de tecnologias que, por definição, têm de chegar de nós”, considerando que “o colapso vai ser um golpe muito mais forte nas cidades do que no mundo rural”.

“A minha tese é de que estamos nos inícios de um colapso geral”, afirma, dizendo que hoje “é muito mais fácil” de convencer alguém deste cenário “do que era há três anos”.

“A pandemia colocou dentro da nossa cabeça a ideia de que as coisas não iam muito bem”, cenário a que se juntam, segundo o autor, os “problemas de abastecimento de matérias-primas energéticas, do encarecimento dos custos de transporte de todas as mercadorias, curto-circuitos em processos econômicos e financeiros”, e agora “as consequências da guerra da Ucrânia”.

Para Carlos Taibo, “a causa é estrutural”, e “a combinação é tal entre mudanças climáticas e esgotamento das matérias-primas energéticas, que [o colapso] é dificilmente negável, no momento presente”.

O colapso, segundo descreve em “Ibéria Esvaziada”, é “um processo ou um momento” com “várias consequências delicadas” para a sociedade, como “mudanças substanciais e irreversíveis”, “profundas alterações no que se refere à satisfação de necessidades básicas”, “reduções significativas no tamanho de população humana”, “perda de complexidade” e “crescente fragmentação” social ou o “desaparecimento das instituições previamente existentes”.

“Por fim, a falência das ideologias legitimadoras, e de muitos dos mecanismos de comunicação, da ordem anterior”, teoriza Carlos Taibo no livro.

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