Das substâncias analisadas, muitas delas já foram banidas no exterior. É o caso do bisfenol que continua sendo utilizado por empresas no Brasil.
Da Redação
Uma pesquisa feita na USP estuda comportamento de peixes para avaliar risco ambiental e detecção de poluente aquáticos. A nova abordagem é considerada inovadora.
O descarte indiscriminado de substâncias tóxicas em rios, lagos e mares é uma fonte de estresse para os organismos aquáticos. Nestas condições, os peixes naturalmente migram para áreas menos afetadas pelos poluentes. Segundo o pesquisador e biólogo Daniel Clemente, que defendeu tese sobre o assunto no Instituto de Biociências da USP, este fenômeno afeta o equilíbrio ecossistêmico e pode gerar uma redução da população de peixes, causando uma possível extinção local de alguns organismos, explica.
A pesquisa feita na USP foi baseada em um método desenvolvido pelo professor Rui Ribeiro e Matilde Moreira-Santos, da Universidade de Coimbra, Portugal, e adaptado pelo pesquisador Cristiano V. M Araujo. A tese Efeitos de poluentes aquáticos na seleção e habitat e distribuição espacial em peixes: uma abordagem complementar aos testes ecotoxilógicos tradicionais foi defendida em dezembro no Instituto de Biociências (IB), sob orientação do professor Marcelo Luiz Martins Pompêo.
Na pesquisa realizada no laboratório de Ecotoxicologia, da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, sob a supervisão da professora Teresa Paiva, foram analisadas várias substâncias tóxicas de interesse ambiental: o bisfenol, a atrazina, o triclosan e o cobre.
Segundo o biólogo, cada país possui uma legislação específica sobre o uso das substâncias e as concentrações máximas permitidas nos corpos hídricos.
Das substâncias analisadas, muitas delas já foram banidas no exterior. É o caso do bisfenol que teve seu uso proibido no Canadá, na Dinamarca, na Costa-Rica e em alguns estados norte-americanos, mas no Brasil, continua sendo utilizado por empresas na produção de garrafas plásticas, pratos e vasilhas domésticas, mamadeiras, brinquedos, dentre outros produtos.
O bisfenol é considerado um desregulador endócrino. Os peixes usados na pesquisa foram o Dario rerio e o Poecilia retícula, popularmente conhecidos como peixe-zebra e barrigudinho, respectivamente.
Para observar a migração dos peixes, o biólogo utilizou um sistema formado por várias câmaras de vidro, onde foram colocados os peixes juntamente com diferentes gradações de poluentes, sendo que em algumas com concentrações abaixo das permitidas pelas agências ambientais.
Embora os peixes tenham ficados expostos aos poluentes por até quatro horas, logo nos primeiros minutos, eles já começaram a migrar para as câmaras que tinham menos poluentes.
Sobre o bisfenol, o estudo detectou que mesmo estando abaixo das concentrações consideradas seguras pelas agências ambientais, de um micrograma por litro de água, a substância causou grande impacto no ambiente e na população aquática, fazendo com que os peixes migrassem para áreas com menores concentrações do composto.
Clemente acredita que o método de análise de fuga de peixes expostos em ambientes poluídos contribui para um melhor entendimento dos riscos ambientais causados pelos poluentes em corpos hídricos, conclui.