Da Redação
Com Lusa
O primeiro-ministro português, António Costa, defendeu nesta quarta-feira que o acordo com o Mercosul é um acordo “pela geopolítica da Europa” e servirá para garantir que o Atlântico não perde a “importância que tem”.
“O debate sobre o Mercosul não é em primeiro lugar um debate econômico. Claro que todos sabemos que é o mais importante acordo econômico que a Europa pode celebrar. Mas é, em primeiro lugar, um acordo pela geopolítica da Europa porque neste novo mundo global, o Atlântico não pode perder a importância que tem, deixando a nova centralização do mundo incidir no Indo-Pacífico”, referiu o primeiro-ministro.
António Costa falava durante um debate no Parlamento Europeu (PE), onde apresentou as prioridades da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) aos eurodeputados.
Na sua intervenção final, o primeiro-ministro frisou que a Europa precisa de “ter uma presença externa mais forte” para se tornar “verdadeiramente” num “agente global”, o que não acontecerá se recusar negociar com outros parceiros.
“Nós não seremos um agente global nem criando muros para evitar migrações, nem fechando as portas às relações comerciais que temos de abrir com todas as outras economias do mundo”, sublinhou.
Nesse âmbito, e sublinhando que “não ignora” a importância da região do Indo-Pacífico – como testemunha o facto de Portugal ter “colocado como prioridade” da presidência a “realização da cimeira com a Índia” – o chefe do executivo destacou que “o Atlântico continua a ser o espaço” da Europa.
“O Atlântico continua a ser o nosso espaço e apesar do Reino Unido ter saído, temos de ter com o Reino Unido relações de grande proximidade, é por isso que temos de encarar com esperança esta nova relação com o Presidente Biden, é por isso que temos de celebrar o ELA Link ligando fisicamente por cabo a Europa à América Latina como um elemento da maior importância, mas é por isso, também, que precisamos de um acordo com o Mercosul”, referiu António Costa.
O primeiro-ministro português referiu assim que aguarda “as conclusões dos estudos da Comissão sobre o impacto ambiental” do acordo com o Mercosul e sobre “os passos a dar” na sua negociação, mas defendeu também que “ninguém” pode querer “esconder na floresta da Amazônia o metano produzido pelo legado europeu”.
“Não, não podemos querer esconder na floresta da Amazônia aquilo que é verdadeiramente protecionismo de uma política agrícola que tem de ser ajustada com as prioridades da transição climática e dos valores ambientais. O objetivo ambiental tem de estar presente em todas as políticas europeias”, referiu António Costa.
O acordo comercial, alcançado em junho de 2019 entre a UE e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), após duas décadas de negociações, deverá entrar em vigor ainda este ano, cabendo agora aos países europeus ratificá-lo, uma responsabilidade que o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu, no passado dia 07 de janeiro, ser da presidência rotativa do Conselho da UE.
No entanto, tanto alguns Estados-membros como certos eurodeputados do PE mostram reservas relativamente à ratificação do acordo, por terem preocupações relativas à sua compatibilidade com o cumprimento do Acordo de Paris e com o impacto que terá para o aquecimento global.