Por Jean Carlos Vieira Santos
Ao iniciar o presente texto para abordar o fado encontrei, em minhas leituras sobre esse gênero musical, ideias, conceitos e, sobretudo, um ciclo incessante de conhecimento de autores portugueses e brasileiros. Fontes impressas e virtuais possibilitaram desdobramentos de uma consciência artística revelada em particularidades e vivências científica e turística, ao juntar diferenças de uma arte capaz de conectar os indivíduos do mundo lusófono, os lugares aos quais ela pertence, as pessoas que a amam, os momentos já vividos.
O fado vai muito além das vibrações do sentimento, pois faz viajar pelo desconhecido, mesmo que ocorra apenas no imaginário. É provável que isso explique o motivo de tal música ter se tornado parte dos lugares, paisagens e territórios, em que o homem apreende o mundo por meio dos próprios sentidos. Sabe-se que o fado é feito de informações que circulam entre palcos urbanos, especialmente nos tradicionais bairros de Lisboa, e é uma música que teve forças para eliminar barreiras territoriais e confinamentos espaciais, ao se transformar em uma referência
internacional.
Nessa perspectiva, a música símbolo de Portugal se tornou uma realidade de escalas local, regional e global, com seus versos e poemas intimamente ligados à cultura dos povos de língua portuguesa e que expressam tanto manifestações estabelecidas com o espaço urbano quanto angústias, prazeres e outras expressões da vida cotidiana. Talvez por isso, a pesquisadora Heloisa Valente defina o fado como uma canção viajante e de liberdades poéticas. Afinal, como falar desse gênero musical, dos palcos do mundo, da Lisboa fadista e não lembrar as comemorações do centenário de Amália Rodrigues em 2020, voz única de uma língua e cultura?
Assim, posso afirmar que essa artista universal, que nasceu fadista em 23 de julho de 1920, no tempo das cerejeiras e que possui legado plural, provocou, em muitos amantes do fado e da guitarra portuguesa, o desejo de celebrar os 100 anos de uma carreira apoteótica, ao propor uma viagem que não se perdeu nas névoas do esquecimento, mas que se mantém viva em papéis de investigações e poemas, sobretudo em discos que são símbolos de uma história particular que enriquece a alma de quem ouve. O ato de celebrar nos faz mais íntimos da voz de Amália Rodrigues em novos palcos e de forma inédita, pois tudo isto é fado!
Por Jean Carlos Vieira Santos
Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutoramento em Turismo pela Universidade do Algarve/Portugal e Doutoramento em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).