Por Humberto Pinho da Silva
A cada passo deparamos com notícias sensacionais, declarando: que algures, jovem, geralmente humilde, viu ou recebeu revelações, de anjos ou da Mãe de Jesus.
Em regra são embustes e ilusões, ou autossugestão patológica; ms há, as que levantam sérias dúvidas, mesmo não confirmadas positivamente. Encontram-se, nesse caso, entre outras, a aparição de Barral – Ponte da Barca.
Todavia, mais numerosos, são os cadáveres incorruptos. Corpos encontrados intactos, após anos de serem sepultados.
O povo – que em tudo vê mistério, – logo considera o fenómeno, prova se santidade. Por esse Portugal fora, não faltam “santinhas”, “ canonizadas”, apenas por não haver vestígios de corrupção.
Entre eles, temos o caso de Carmina Lara (cemitério de Arzila – Coimbra) e de Maria Adelaide – Arcozelo.
Muitas vezes, as “santinhas”, foram, e são, exploradas por astuciosos, que aproveitam a boa-fé e a ignorância religiosa do nosso povo, para usufruírem vantagens.
Relata, agora, o jornal: “ Maria da Fonte” de 02/02/2018, o interessante caso da “santa” Izildinha, venerada em Monte Alto (SP) – Brasil; mas natural da Povoa do Lanhoso (17-06-1897).
O pai, funcionário público, fora transferido para Guimarães, e, naturalmente, a filha – ainda criança, – acompanhou-o.
Tempo depois de estarem instalados nessa cidade portuguesa, a menina, ficou gravemente enferma, e, segundo o atestado de óbito, faleceu de leucemia.
Nada, até aqui, é digno de registo.
A mocinha ficaria, certamente, tranquila na sua sepultura, se não fosse o caso do irmão, ao emigrar, em 1950, para o Brasil, fazer questão de a levar.
Devo esclarecer o leitor, que a justificação, apresentada, foi a do corpo se encontrar incorrupto. Não só o corpo, mas as vestes e as próprias flores, que a acompanharam no funeral, permaneceram intactas.
Chegado a Santos, logo tratou de levantar capela, onde colocou o corpo da irmã (31-08-1950).
Rapidamente se espalhou a notícia. Populares, curiosos, e futuros devotos, foram visitar a capela, solicitando favores e graças, para os males que os atormentavam.
Entretanto, decorreram oito anos (1958). O irmão da “santa” transformou-se em abastado negociante, obtendo o honroso título de Comendador.
Por esse tempo, o irmão de Izildinha, assentou montar fábrica de produtos alimentícios, em Monte Alto (SP). Com ele, levou o corpo da irmã. Ergueu, então, em Monte Alto, sumptuoso túmulo, onde a colocou (a transladação ocorreu em 1958).
A “santidade” de Izildinha espalhou-se pela cidade, e muitos devotos asseveravam terem recebido graças, por sua intervenção.
Mas, nos anos sessenta, o Comendador, teve que vender a fábrica, e como pretendia residir em São Paulo, e não querendo separar-se da irmã, tratou de a transladar para essa cidade.
Mas o povo estava acostumado a ter a “santa” na sua cidade, e tanto protestou, tanto barulho levantou, que foi preciso resolver o assunto, na justiça.
Terminou a contenda, o tribunal, determinou (06-05-1964): que o corpo venerado em Monte Alto, deveria pertencer à cidade e não á família.
Não teve, o Comendador, outro remédio, senão obedecer à justiça. Quando faleceu, o irmão de Izildinha, foi sepultado no jazigo, em São Paulo, que mandara construir para a irmã.
A rocambolesca história, terminaria aqui, se não fosse o deputado Valdemar Corauci Sobrinho, ter conseguido que a festa, em honra de Izildinha (17 -Junho) fosse mencionada no Calendário Turístico do Estado de São Paulo.
As biografias da menina Izildinha, que consultei, têm ligeiras divergências. Por a considerar mais crível, utilizei a do conhecido jornalista José Abílio Coelho, publicada in: “ Maria da Fonte” – jornal centenário de Póvoa do Lanhoso.
Por Humberto Pinho da Silva
Escritor português do Blogue luso-brasileiro: “PAZ”
http://solpaz.blogs.sapo.pt/