Uma mancha em expansão

Diz um velho ditado popular digno de registo, que não há fumo sem fogo. Enfim, é uma regra empírica, porque eu tinha, na minha meninice, um excelente comboio elétrico da marca americana, Lionnel, em cuja chaminé da locomotiva se colocava um pequeno comprimido, e que, pelo contacto com uma resistência elétrica quente, se sublimava, deitando um fuminho branco. Não havia fogo, portanto.
Porém, em casos envolvendo corrupção e gente ou instituições com poder, a regra tem logo uma elevadíssima probabilidade de traduzir uma realidade material palpável. Vem tudo isto a propósito do mais recente alegado escândalo envolvendo gente ou negócios do Vaticano, e que foi noticiado por um jornal italiano.
Custa-me acreditar que um qualquer jornal, para mais italiano, possa escrever o que eu li, mas sendo tudo mentira. Bom, a probabilidade de tal acontecer é imensamente pequena. Admito que podem ter ocorrido imprecisões, ou até informações dúbias, mas terá de existir algum fundamento para tal realidade ter sido noticiada.
Por outro lado, há um outro velho ditado popular, por igual digno de registo, e a cuja luz, quem mente uma vez, mente sempre. E não é verdade que tanta gente no seio de estruturas diversas da Igreja Católica sempre foi negando a existência de práticas pedófilas por parte de padres, e um pouco por todo o Mundo? Portanto, se aceitarmos este último ditado, teremos de continuar a admitir que, com probabilidade muito longe de zero, idênticas mentiras poderão voltar a ocorrer.
Ora, eu tenho deste caso a mesma opinião que sempre defendi no caso dos padres pedófilos e que o Vativano já hoje aplica: leve-se este caso da corrupção ao mundo da justiça italiana, e ali tirar-se-ão as dúvidas (possíveis). E não é por igual verdade que um outro ditado popular nos diz que quem não deve, não teme? Portanto, se, como disse o padre Lombardi, tudo não passa de uma mentira, coloquem o jornalista e o jornal em tribunal. Ficamos todos à espera do resultado final.
Mau grado toda esta questão da alegada corrupção com o – ou no – Vaticano, sempre há coisas que acabam por levar-nos a rir. Desta vez foi o caso de um pároco italiano que explicou aos seus paroquianos que iria ausentar-se, de molde a realizar um essencial retiro espiritual. Simplesmente, talvez porque Deus escreva direito por linhas tortas, eis que o pobre do padre viu a sua mentira posta a descoberto: afinal, o nosso amigo, ao que se diz com familiares, foi passear no cruzeiro do Costa Concordia…
Claro que o tal retiro espiritual também podia ter lugar no Costa Concordia, só que seria um retiro espiritual de luxo. Mas se Deus pôs às claras a peta do padre italiano, não lhe levando a vida, ainda acabará por oferecer-lhe, como a cada um dos seus familiares, uns quinze mil euros por tudo o que passou. E que irão fazer os paroquianos? Sorrir? Continuar a pagar para os peditórios futuros do senhor pároco? Ainda é o mais certo. Enfim, tudo está bem quando termina bem, como nos refere uma outra regra empírica da vida.

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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