Um viajante nos corredores da Universidade Politécnica de Maputo

Maputo. Foto Jean Carlos Vieira Santos

Por Jean Carlos Vieira Santos

Este texto narra a história da tradição musical do povo de um país repleto de diferentes paisagens culturais que valorizam o destino turístico. Nesse universo se destacam elementos como o bairro de Mafala, o Museu de História Natural, a Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia (FEIMA) e os mercados do Povo, Municipal e, em especial, Janet, localizado à Avenida Mao Tsé-Tung, perto da Catedral de Nossa Senhora das Vitórias. Tais territórios sinalizam o processo organizacional de variados grupos sociais construídos ao longo do espaço e tempo.

Nesse cenário, fui apresentado à música de Moçambique nos corredores da Universidade Politécnica em 2018, durante o Congresso Internacional “Cultura e Turismo: desenvolvimento nacional, promoção da paz e aproximação entre nações”. Entre palestras e outras agendas científicas, comprei o livro “O Septuagésimo Aniversário do Disco da Música Moçambicana de Samuel Matusse”, obra muito sensível sobre a arte dessa nação no litoral Índico.

Maputo. Foto Jean Carlos Vieira Santos

Com a leitura do trabalho de Matusse, pude constatar que o primeiro disco foi produzido no período colonial de Moçambique, momento no qual fervilhava o pensamento de libertação do colonialismo em frentes diversificadas. Assim, cumpre observar que o primeiro registro de música moçambicana aconteceu em 1945, mas, antes disso, o povo já cantava em qualquer tipo de evento, seja ele alegre, triste ou de celebração.

Em um encadeamento sensível aos elementos culturais, torna-se necessário valorizar algumas tribos africanas, cujo repertório é composto por canções de melodias alegres com um ritmo dançante e, em plenas exéquias, muitas vezes se dança de forma efusiva, não como uma ação espontânea, mas como resultado de um ensaio prévio. No artigo ora apresentado, compreendo que a música e a dança são duas faces da mesma moeda no país africano, pois o nome de um estilo musical é, simultaneamente, a denominação de uma dança.

Nesse entremeio, revela-se que os instrumentos da música moçambicana foram feitos primeiramente com o que era fornecido pela natureza, como troncos de árvores, peles dos animais etc. Enquanto isso, em um tempo mais atual, marcado pela modernidade, começou-se a fabricar instrumentos com materiais artificiais. Ademais, elencam-se relevantes músicos e vozes de Moçambique, como Fany Mpfumo, Alexandre Langa, Armando Magaia, Paulo Miambo, Francisco Mahecuane, Ben Massinga, Alexandre Jafety, Gabriel Muthemba, Tonganyane, Eusébio Tamele, Ilda Isabel Estevão e Macunguele Matánia Dabula.

Ainda na Universidade Politécnica, fui presenteado pela autora Alda Damas com o livro “Mafalala: das origens à actualidade”. Nessa obra, uma imagem de Fany Mpfumo chama a atenção deste leitor e viajante, por representar um músico que tem em mãos um instrumento semelhante à guitarra de fado português; no entanto, o livro sublinha que o envolvimento profissional do artista com a música se deu na vizinha África do Sul. Tal figura nos colocou diante da necessidade de outras leituras sobre a música desse destino africano, pois as viagens por livros e lugares não têm um ponto final em si.

Desse modo, o presente ensaio procurou sintetizar experiências marcantes vividas em Moçambique, ao dizer sim para o inesquecível por meio de um olhar estrangeiro, com o objetivo de apresentar obras que relatam parte da história musical moçambicana, conhecidas por este viajante nos corredores da Universidade Politécnica de Maputo. Diante do panorama contextualizado, pretendi dar notabilidade a importantes nomes (cantores e pesquisadores) da cultura musical de Moçambique, país banhado não somente pelas águas do Oceano Índico, mas também pelas influências culturais trazidas por ele no passado e durante as primeiras décadas do século XXI.

A viagem pela musicalidade lusófona é ininterrupta, pois sempre oportuniza a concepção de um universo construído por sujeitos preocupados em sociabilizar a arte, o modo de vida e o jeito de ser.

 

Referências

DAMAS, Alda; FENHANE, João; MUNHEQUETE, Angélica; TAIBO, Ruben; WANE, Marílio; AMINAGI, Dulámito. Mafalala: das origens à acturalidade. Maputo: Académica/ARPAC, 2017.

MATUSSE, Samuel. O Septuagésimo Aniversário do Disco da Música Moçambicana. Maputo: Minerva Print, 2016.

 

Por Jean Carlos Vieira Santos

Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutoramento em Turismo pela Universidade do Algarve/Portugal e Doutoramento em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).

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