Mundo Lusíada
Com agencias
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, disse que o encontro dos líderes dos Estados Unidos da América (EUA) e da Coreia do Norte “foi um passo crucial e necessário” para a desnuclearização da península, divulgou a Lusa.
“O principal objetivo, partilhado por toda a comunidade internacional e expresso pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, continua a ser a desnuclearização total, verificável e irreversível da Península Coreana. A declaração conjunta hoje assinada pelos líderes dos EUA e da Coreia do Norte é um sinal claro de que este objetivo pode ser atingido”, disse Mogherini, em comunicado.
Para a Alta Representante para a Política Externa e de Defesa da UE, “esta cimeira foi um passo crucial e necessário para se aprofundar os desenvolvimentos positivos alcançados até agora nas relações entre as Coreias, graças à liderança, sabedoria e determinação do Presidente da República da Coreia, Moon Jae-in”.
A cimeira de hoje, acrescentou, “reafirma a nossa forte convicção de que a diplomacia é a única via para uma paz duradoura” na região. “Seguir a via diplomática é frequentemente um desafio, mas sempre recompensador”, adiantou também.
A cimeira histórica entre o Presidente dos Estados Unidos e o líder da Coreia do Norte realizou-se hoje, em Singapura, e começou com um simbólico aperto de mão entre Donald Trump e Kim Jong-un.
Este foi o primeiro encontro entre os líderes dos dois países depois de quase 70 anos de confrontos políticos no seguimento da Guerra da Coreia e de 25 anos de tensão sobre o programa nuclear de Pyongyang.
O presidente dos Estados Unidos não poupou elogios a Kim Jong-un, sublinhando que “foi um prazer [encontrar-se com o líder da Coreia do Norte]” e acrescentando que foram “horas intensas” de conversa entre os dois.
O presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que “todos podem fazer a guerra, mas só os mais corajosos podem fazer a paz”. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, disse que “decidiram deixar o passado para trás” e que “o mundo vai ver grandes mudanças”.
Analistas
Apesar do entusiasmo e otimismo expressado pelos presidentes Donald Trump, e Kim Jong-un, após o encontro em Cingapura, analistas encaram o resultado do acordo com ceticismo. A ausência de referências aos mísseis ou a prazos para a desnuclearização da Coreia são apontados como fragilidades do documento.
O retrospecto de tentativas de acordo entre os dois países deixa espaço para dúvidas. O jornal português Expresso publicou um breve histórico da diplomacia nuclear entre os dois países, em que relembra as tentativas frustradas de acordos no passado, inclusive com os presidentes Bill Clinton, George Bush e Barack Obama.
“As lições a retirar dos outros dois acordos, um assinado em 1994 e outro em 2005, é que o problema não é tanto o de acordar as reuniões, o problema é – ou tem sido – fazer valer o que fica escrito no papel”, diz o periódico de Portugal.
Trump afirmou ainda acreditar que Kim vai respeitar o acordo e que as sanções à Coreia serão levantadas assim que as armas nucleares deixarem de ser uma preocupação. Acrescentou que inspetores internacionais e norte-americanos vão acompanhar o processo de desnuclearização.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, já havia dito ontem que o encontro dos líderes seria apenas o primeiro passo de um processo lento e arriscado. “Um passo bastante significativo, ainda assim, se considerarmos que há apenas alguns meses Kim e Trump trocavam insultos e ameaças e comparavam a dimensão dos respectivos arsenais nucleares”, afirma o Expresso.
O jornal francês Le Figaro traz na manchete a pergunta “o que contém o acordo Trump-Kim?” e faz um balanço dos elementos incluídos no documento. “Donald Trump assegurou que o líder norte-coreano prometeu, após assinar o documento conjunto, destruir em breve um local de grandes testes de mísseis, embora também tenha dito que essa desnuclearização levaria muito tempo, sem dar uma duração precisa”, afirma o Le Figaro. O jornal francês lembra que as negociações sobre a implementação do acordo começarão na próxima semana.
O Le Figaro afirma também que Trump anunciou que encerraria exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul contra a Coreia do Norte, descritos como “muito provocativos e muito caros”. Trump reiterou o desejo de retirar, quando chegar a hora, as tropas dos EUA na Coreia do Sul.
A britânica BBC deu destaque à afirmação de Trump sobre Kim: “direto e honesto”. Em uma série de matérias, o veículo trata da repercussão do encontro dos dois líderes. “Trump disse que interromperia os “jogos de guerra”, enquanto Kim prometera destruir um local de testes de mísseis. O acordo também incluiu um compromisso de Kim de livrar a Península Coreana de armas nucleares. É a primeira vez que um presidente americano e um líder norte-coreano se encontram”, afirmou a BBC.
Ainda de acordo com a BBC, Trump disse que havia tratado da questão dos direitos humanos com o norte-coreano, “que administra um regime totalitário com censura extrema e campos de trabalhos forçados”. O presidente norte-americano afirmou que o assunto dos direitos humanos será retomado oportunamente.
O jornal italiano Corriere Della Sera também traz uma pergunta na capa: “A Guerra da Coreia acabou?”. E afirma que um resultado definitivo ainda é desafio. “Donald Trump chama-se ‘o artista do acordo’ e garante que é capaz de avaliar ‘em um minuto se Kim Jong-un é sincero’. Mesmo após o teste dos 60 segundos para os dois, persiste o problema de apresentar ao mundo um resultado de impacto”, afirma o Corriere.