No Brasil, Durão Barroso defendeu cooperação em biocombustível sustentável. Protestos de ambientalistas, evento em comemoração aos 200 anos, encontros com presidente Lula marcaram sua visita.
Do Jornal Mundo Lusíada
Marcello Casal JR/ABr
PROTESTO >> A organização não-governamental Greenpeace faz manifestação durante a visita do presidente da União Européia, Durão Barroso, ao Brasil.
Durante uma curta visita ao Brasil, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, defendeu, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a necessidade de atuação conjunta em questões de interesse global. Estão entre elas as negociações por um regime pós Protocolo de Quioto, com novas metas de redução de emissões de gases causadores de efeito estufa. Para Barroso, nesse contexto, ganha especial relevância o estabelecimento de um mercado global para os biocombustíveis.
“Com o papel de liderança do Brasil na questão dos biocombustíveis, estamos trabalhando juntos para garantir que os biocombustíveis serão sustentáveis, serão bons para o ambiente, serão bons para reduzir os gases com efeito estufa e, portanto, para garantir a qualidade de vida do nosso planeta”.
Segundo Durão Barroso, o Brasil e a União Européia podem, além de aprofundar o diálogo sobre questões de interesse comum, dar uma contribuição para resolver problemas globais. “Se juntarmos o Brasil e a UE, podemos fazer grandes coisas juntos. Por exemplo, contribuir para o sucesso da rodada de Doha. Nós acreditamos que é possível, se todos fizermos um esforço para isso”.
Sobre a crise entre Brasil e Espanha provocada pelas repatriações de cidadãos, apenas Lula se pronunciou, limitando-se a dizer que a questão é tratada bilateralmente, sem fazer qualquer referência à Convenção de Schengen (espaço europeu de direito e de livre circulação). “Estamos tratando a questão da imigração com a Espanha. Durão Barroso já nos ajudou muito quando tivemos problemas com Portugal e agora nós temos de tratar diretamente com a Espanha, que é onde o problema está mais grave”, disse Lula, acrescentando que “estas coisas serão resolvidas logo, logo”.
Além desta questão, Lula e Durão Barroso também não mencionaram o embargo europeu à carne brasileira. O assunto não consta na declaração conjunta divulgada ao final do encontro, os dois mandatários apenas saudaram a instalação do Mecanismo de Consultas sobre Questões Sanitárias e Fitossanitárias, que em breve iniciará suas atividades de consulta e coordenação entre o Brasil e a Comissão Européia.
A retomada das negociações de um Tratado de Livre Comércio entre Mercosul e União Européia, outro tema que interessa aos dois presidentes, também foi tratada na reunião do dia 19 de março. “A discussão que estamos fazendo sobre a questão da parceria União Européia e Mercosul é uma coisa para nós extremamente importante, e temos trabalhado nesse sentido”, disse Lula.
Na declaração conjunta, os dois mandatários também reiteraram o interesse em dinamizar a cooperação no campo da navegação e observação por satélite e de pesquisa em energia de fusão nuclear e mencionam a possibilidade de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Europeu de Investimento (BEI), em especial na área da mitigação dos efeitos da mudança do clima e no financiamento do projeto brasileiro de trem de alta velocidade.
Antes do encontro entre Lula e Durão Barroso, manifestantes do Greenpeace, empunhando cartazes, protestaram à frente do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, contra o desmatamento da Amazônia. Os ambientalistas acusaram a União Européia de ser co-responsável pela destruição da Amazônia por importar a madeira da região sem possuir um sistema de verificação de origem do produto.
Durante a visita oficial ao Brasil, o presidente da Comissão Européia participou, dia 17 de março em São Paulo, da abertura da conferência “O euro: implicações globais e importância para a América Latina” e recebeu o título de “doutor honoris causa” da Pontifícia Universidade Católica. A visita de Durão Barroso ao Brasil serviu também de preparação para a 2ª cúpula UE-Brasil, que acontece em dezembro em território brasileiro, já que Brasil e União Européia pretendem aprofundar a parceria estratégica firmada em julho do ano passado. De Brasília, Durão Barroso seguiu para o Rio de Janeiro, onde participou de um jantar de comemoração aos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil.200 Anos: Globalização e diversidadeO presidente da Comissão Européia (braço executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, afirmou no Rio de Janeiro que o fenômeno da globalização não ameaça a diversidade cultural dos povos. “O Brasil é a prova cabal de que a globalização não é sinônimo de uniformização, nem um rolo compressor da diversidade cultural”, disse, durante jantar na Academia Brasileira de Letras (ABL), em comemoração aos 200 anos da chegada da família real portuguesa.
“O Rio de Janeiro de D. João VI e sua corte, microcosmo da globalização, foi o terreno fértil onde se gerou a identidade e a nacionalidade brasileiras, fruto de um intenso diálogo entre culturas”, acredita o líder europeu, sublinhando que falava a “título pessoal, não como presidente da Comissão Européia”.
Durão Barroso afirmou que D. João VI simbolizou a “visão globalizante de um rei que deixou marcas profundas no Brasil e na sua cultura”. “A nova condição de sede do império português e a abertura dos portos transformou a grande aldeia tropical do Rio de Janeiro em uma cidade cosmopolita e em um grande centro populacional, onde se concentravam representantes estrangeiros, comerciantes, viajantes, artistas e estudiosos europeus”, lembrou.
Barroso ainda saudou a “feliz coincidência” da comemoração sobre a chegada da corte estar sendo feita no Ano Europeu do Diálogo Intercultural. Citando parcerias e objetivos comuns entre o bloco europeu e o Brasil, o presidente da comissão discursou sobre a “unidade política e proximidade física e cultural estabelecida por D. João VI entre os dois lados do Atlântico”, concluindo que “a globalização faz da cultura um dos motores das relações internacionais e um vetor de difusão dos valores que ela veicula”.
Boicote: Jogos de PequimDiante de uma hipótese de boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, por conta do atual conflito entre a China e o Tibete, o presidente da Comissão Européia apelou aos 27 países europeus que definam uma “posição conjunta” em relação aos jogos. “Não estamos de forma alguma seguros que qualquer eventual boicote levasse a um maior respeito pela lei da China ou no Tibete”, afirmou José Manuel Durão Barroso, após a cerimônia em que se tornou confrade da Academia Portuguesa de História.
Barroso disse estar “muito preocupado” com a situação de conflito que se vive entre a China e o território do Tibete, apelando “a todas as partes envolvidas para que terminem com a violência”. Segundo afirmou, “os Jogos Olímpicos não são um acontecimento político, mas sim um grande evento desportivo e humano”, em relação ao qual “não se podem defraudar as hipóteses dos jovens atletas”. Os Jogos Olímpicos de Pequim acontecem entre 8 e 24 de agosto. Com Agencias.