Da Redação com Lusa
Moscou criticou hoje a decisão do Governo português de enviar seis helicópteros de combate a incêndios para a Ucrânia, de origem russa, dizendo que se trata de uma “violação das suas obrigações contratuais”.
A diplomacia russa considera que a decisão tomada pelo Governo português de enviar seis helicópteros Kamov de combate a incêndios para a Ucrânia, ajudando na luta contra a invasão russa, é uma “violação das obrigações contratuais” por parte de Lisboa, referindo-se ao facto de serem aeronaves de origem russa.
“Pedimos aos nossos colegas (portugueses) de se inibirem de dar passos que possam desacreditar Portugal como um parceiro fiável”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, na rede social Twitter.
Em outubro, Portugal anunciou o envio para a Ucrânia dos seis helicópteros Kamov, que estavam atualmente sem licença para operar, por serem de origem russa, um dos quais estava inoperacional.
“A pedido da Ucrânia e em articulação com o Ministério da Administração Interna vamos disponibilizar à Ucrânia a nossa frota de helicópteros Kamov que, em virtude do cenário atual, das sanções impostas à Rússia, deixamos de poder operar, aliás não têm os seus certificados de aeronavegabilidade e nem sequer poderemos repará-los”, disse na altura a ministra a Defesa de Portugal, Helena Carreiras.
A ministra sublinhou que os helicópteros seriam transferidos no estado em que se encontravam, precisando de reparação, mas acreditando que serão “muitíssimo úteis à Ucrânia”, acrescentando que Kiev tinha agradecido o gesto do Governo português.
Com orgulho
Na quarta-feira, o primeiro-ministro afirmou que o Governo cedeu “com muito orgulho” os seis helicópteros Kamov à Ucrânia, após um “pedido expresso” de Kiev, assegurando que Portugal continuará a fornecer material militar para que o país “se possa defender”.
No debate parlamentar preparatório do próximo Conselho Europeu, quinta e sexta-feira em Bruxelas, o deputado do Chega André Ventura questionou António Costa sobre os seis helicópteros Kamov que o Governo vai enviar para a Ucrânia.
Ventura questionou o primeiro-ministro se “se sente aliviado por dar estes seis Kamov”, tendo em conta que “nunca funcionaram” em Portugal, perguntando de seguida porque é que haveriam de funcionar na Ucrânia.
“Quer dizer, chegar ao fim do ano e dizer ‘Portugal deu seis Kamov à Ucrânia’, e depois o [Presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky dizer-lhe ‘ó senhor primeiro-ministro, eu agradeço-lhe muito, mas é que eles não pegam’. Eu acho que isto é desagradável”, disse Ventura, perante os aplausos e algumas gargalhadas da bancada do Chega.
Na resposta, o primeiro-ministro reiterou que o seu Governo condena “absolutamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia, e o apoio à Ucrânia tem que se manter”.
“Só mesmo o senhor deputado André Ventura teria tido o mau gosto de conseguir gracejar sobre uma tragédia como aquela que os ucranianos estão a sofrer pela guerra desencadeada por um autocrata inimigo da democracia e da liberdade, como é o senhor [Presidente da Federação Russa, Vladimir] Putin”, criticou António Costa.
No que se refere aos Kamov, Costa salientou que se trata de um “pedido expresso do Governo ucraniano”, que solicitou que o Governo português os cedesse.
“Não disse que não cedia, e cedemos com muito orgulho, da mesma forma como temos cedido outro material que nos tem sido solicitado pela Ucrânia, e continuaremos a ceder para que a Ucrânia se possa defender, em nome do direito internacional, para garantir a sua soberania nacional e a integridade do seu território”, sublinhou.
Perante as questões de alguns deputados do Chega sobre o facto de os helicópteros Kamov não funcionarem em Portugal, Costa respondeu que “na Ucrânia, pelos vistos, o Governo ucraniano acredita que vão funcionar”.
“Como eu também [acredito], como também já os vi a funcionar cá. E sei porque razão é que eles não funcionam cá”, referiu, em referência ao facto de não terem licença para operar por serem de origem russa.
A ofensiva militar lançada dia 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e econômicas.