A reportagem da Agência Porto de Notícias visitou e aprovou dois recantos de tranqüilidade: um Santo Antonio do Pinhal (SP) e outro em Monte Verde (MG). Conheça-os agora
Por Fernando Porto
Editor da APN
Todo turista apaixonado pelo inverno tem um encontro marcado a cada temporada com uma região sempre cortejada: a Serra da Mantiqueira, que se estende por três Estados e que se caracteriza por sua paisagem verde, de montanhas altas – acima de mil metros –, reservas ecológicas e, principalmente, baixas temperaturas que a igualam a um destino europeu. Entre centenas de pousadas espalhadas pela Mantiqueira, nossa reportagem foi conferir dois perfis diferentes mas que são exemplos típicos dessa hospedagem serrana, que une conforto, requinte e cenário romântico ao seu redor. Saiba agora o que esperar do Jardim Suspenso da Babilônia, (SP) São Paulo e do Kuriuwa Hotel (MG)
Terras suspensas
Hospedar-se no chalé futurista dos “Jetsons” e participar de uma jam session sem nunca ter tocado nenhum instrumento musical em toda sua vida. Esse mundo idílico já existe e pode perfeitamente ser vivido por qualquer um que se hospede no Jardim Suspenso da Babilônia. Antes que alguém pense que o repórter tomou um porre homérico antes de escrever, vale uma explicação dessa experiência surreal. Jardim Suspenso da Babilônia é o nome de uma pousada, erguida imponentemente em uma colina, na bela região de Santo Antônio do Pinhal.
Lá, já funcionava desde 1997 o conhecido spa musical – um espaço que recebe músicos e suas famílias para reuniões em meio à natureza, jam sessions e até gravações em um estúdio lá montado. Hoje, essa terapia musical sem compromisso é compartilhada com qualquer hóspede – músico ou não – que resolva se reunir ao grupo, sem qualquer recriminação ao som desafinado que sair da guitarra, baixo ou bateria. É claro que, convenhamos, seria sobrenatural a melodia sair do nada, vinda de neófitos – apesar de os simpaticíssimos proprietários João Pinheiro e Sílvia Mazza garantirem que a mágica acontece de vez em quando (após umas doses a mais, brincam os dois). Sobre esse casal protagonista da história, já falamos.
Sobre o misterioso chalé futurista dos Jetsons (se você tem pelo menos 40 anos, sabe a que desenho se refere), trata-se do Chalé Suspenso Maior – o destaque entre os cinco oferecidos pela pousada – que foi construído em forma arredondada sobre um alto e sólido tronco de madeira, praticamente uma colina maciça. O vão embaixo da estrutura do chalé serve como alpendre coberto, com direito a rede e churrasqueira. Mas é no interior dessa “nave espacial” de madeira que vem a surpreendente estrutura aconchegante para um casal em lua-de-mel ou simplesmente em busca de dias de intimidade. São 34 metros quadrados de piso em assoalho de madeira encerado, uma banheira de hidromassagem redonda no centro do quarto – onde é possível assistir a um DVD lá disponível, enquanto toma-se um vinho em suas águas borbulhantes. Há também uma – mais do que necessária no inverno – salamandra de ferro à lenha, que aquece muito bem ao ambiente.
O chalé “dos Jetsons” pode até causar estranheza nas primeiras horas por causa do balanço da estrutura em alguns movimentos mais bruscos. Mas, após a primeira noite, vais ser difícil tirar o casal de lá para caminhar na trilha do sítio ou para subir até o salão social e restaurante. Não que isso seja um problema, porque o café-da-manhã incluso na diária (almoços e jantares são à parte, com reservas antecipadas) pode ser entregue no quarto em uma cesta, se o hóspede preferir – e o que é melhor, no horário que quiser.
O idealizador do Chalé Suspenso é o paulistano João César Pinheiro, dono da propriedade e que teve a idéia a partir de seu trabalho como engenheiro agrônomo, com o qual aprendeu a construir casas para colonos em regiões inóspitas. Ele se autodefine como um “pau-pra-toda-obra” porque passa o tempo inventando coisas novas para seu “jardim suspenso”. Outra vantagem do chalé suspenso maior é o silêncio que impera a maior parte do tempo, quebrado apenas pelo agradável barulho da corredeira do riacho dentro da propriedade ou pelo ronco distante de um eventual caminhão na estrada.
Com passagens pela Alemanha – onde morou dois anos na cidade universitária de Tübingen – e Estados Unidos – vivendo da música –, João divide a simpatia no atendimento dos Jardins Suspensos com sua companheira Sílvia Mazza, atriz experiente e jornalista nas horas vagas, que traz na bagagem sete anos de vivência no exterior em países díspares, como Inglaterra, Tailândia, Japão, Hong Kong, Filipinas, entre outros. Aproveitando a estrutura ainda existente do spa musical, os dois se dedicam a produções áudio-visuais, gravam CDs para novos músicos, e desenvolvem projetos de educação ambiental para crianças de 5 a 12 anos da região.
Para os hóspedes, as noites de sábado em seu espaço cultural são reservadas para shows de músicos convidados e espetáculos teatrais curtos escritos e apresentados por Sílvia. Além de novos talentos do jazz e da MPB, já deram canja por lá músicos conhecidos como o Duofel. Enfim, a liberdade é a filosofia da pousada, com capacidade máxima para 14 pessoas em cinco chalés – quatro deles com ofurô e um com hidro.
Pode não agradar quem não está disposto a caminhadas em terreno íngreme (os hóspedes acabam usando o carro para chegar à sede no alto da colina) ou quem detesta o contato direto com a natureza. Mas é o lugar ideal para quem procura se desligar da correria urbana, andar à cavalo, caminhar na mata selvagem – repleta de animais silvestres – ouvir boa música ou, quem sabe, testar sem vergonha seus dotes musicais num lugar que não existem vaias ou críticas. Foi o caso do casal Jorge Mourão e Andréa Munhoz, que estava no mesmo fim de semana que a reportagem APN, arriscando uma “palhinha” no teclado e no atabaque, respectivamente, acompanhados na percussão pelo casal anfitrião.
É, enfim, o paraíso imaginado pelos paulistanos Sílvia e João que, como o rei Nabucodonosor, cultivaram ano a ano os canteiros de seus próprios Jardins Suspensos. A diferença é que, longe da feição carrancuda de um rei, os hóspedes encontram um atendimento simples e bem-humorado, de uma informalidade agradável e espontânea, como se visitássemos parentes bem próximos. O que não deixam de ser qualidades desejadas em reis e rainhas.
* Agradecimentos ao Jardim Suspenso da Babilônia