Temer e o “estancamento da sangria”

O Brasil entrou no ano de 2017 ainda sob tensão política e econômica. É verdade que o governo Temer teve vitórias importantes no Congresso. Ele conseguiu fazer as duas presidências, isto é, emplacou o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) como novo mandante da casa, eleito com 61 votos contra 10 de José Medeiros (PSD-MT) e 10 brancos. Eunício, assim, substitui Renan Calheiros (PMDB-AL). E na Câmara Federal, por sua vez, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se reelegeu com tranqüilidade. Seus 293 votos superaram até a performance do ex-presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O deputado fluminense do DEM conseguiu reunir 13 partidos a favor de seu nome, considerando-se ainda que, o segundo colocado, Jovair Arantes (PTB-GO), 105 votos, era o representante do chamado ‘Centrão’, o bloco que foi fundamental para a derrubada de Dilma em 2015/2016, liderado exatamente por Eduardo Cunha. Aqui, apenas um parêntese de fato curioso: o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que também se candidatou, foi o menos votado de todos, perdendo, inclusive, para os votos em branco. Mas, enfim, o Executivo conseguiu dar demonstração de força nas casas legislativas federais. No entanto, a vida está bastante complicada ainda para Temer, que tenta levar adiante de todas as formas possíveis seus Projetos ‘amargos’ para ‘tirar o País da crise’, conforme foi dito pelos conselheiros do atual mandatário. Leia-se aqui, medidas pró- mercado, de diminuição dos gastos sociais, das políticas públicas, que na visão do ministro da Fazenda H. Meirelles e de Eliseu Padilha, da Casa Civil, darão credibilidade aos investidores.

O País completou dois anos de recessão, atingindo 12 milhões de desempregados auferidos nas pesquisas. Segundo o IBGE, o número se estabilizou, com a taxa de desemprego mantida assim desde julho/2016. A inflação deve retrair, logicamente por conta de menos pressão no consumo, fazendo os preços terem redução. Desta forma, espera-se um estímulo aos técnicos do Banco Central para baixarem a taxa de juros, que hoje está ainda em 13,75% ao ano, um grande incomodo para quem precisa captar crédito e consumir. Isto pode auxiliar na economia real. Porem, são expectativas.

No concreto, para a opinião pública, mesmo com a maneira cordial que a imprensa comercial o trata quotidianamente, a pesquisa Pulso Brasil da consultoria Ipsos, mostrou que Temer saiu de janeiro com 75% como pior ou igual a Dilma. E, nos últimos dias, sua imagem tende a se tornar mais danificada pela indicação de Moreira Franco como ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e de Alexandre Moraes ao STF.

No caso de Moreira Franco, simplesmente Temer buscou preservar o companheiro, colocando-o no governo em uma posição em que a Lei lhe daria foro privilegiado contra investigações. Sabe-se que Moreira Franco é chamado de “Angorá” nas confissões de acusados na Lava Jato, nas temidas planilhas da Odebrecht (http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/quem-e-quem-nas-planilhas-da-odebrecht/). Até agora, vazado pela imprensa, Moreira Franco já foi beneficiário de R$ 4 milhões, conforme as listas. A PGR – Procuradoria-Geral da República investiga o caso. Não custa lembrar que durante o governo Dilma, Lula foi colocado em situação análoga e, de imediato, na imprensa e na justiça, choveram críticas e liminares, com o ex-presidente saindo do cargo em 24 hs. A tentativa de Temer, assim, tornou-se algo absolutamente constrangedor.

E, no episódio do advogado Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, Temer o indicou para a vaga de Teori Zavascki, morto em acidente aéreo dias atrás, ao Supremo Tribunal Federal – STF. Moraes é filiado ao PSDB, partido que participou com intensidade da derrubada de Dilma e que tem grandes motivos para não levar adiante as investigações da Operação Lava Jato, porque neste momento, após a caça aos petistas, a investigação não poderá deixar de agir sobre os tucanos e seus pares, arrolados nas listas das empreiteiras. Moraes já foi criticado ao assumir a pasta e lidar com inaptidão na crise carcerária, que gerou dezenas de mortos e feridos, em janeiro, assim como na revisão do sistema de remarcação das terras indígenas. Esta semana, recebeu denúncia contra seu trabalho como escritor, pelo plágio contra o jurista espanhol Rubio LLorente. E também foi questionado frente ao caos estabelecido na segurança pública do Espírito Santo. Sabe-se que Moraes ganhou a estima de Temer enquanto era secretário de justiça em São Paulo. Em abril/ 2016, o celular de Marcela Temer foi clonado e Moraes cuidou pessoalmente do caso. Um hacker pedia R$ 300 mil para não vazar fotos íntimas, textos e audios da esposa de Temer. Em pouco mais de um mês tudo estava resolvido e de forma silenciosa. A gratidão levou Moraes para o ministério. E agora é indicado para o STF.

Na sexta feira, 10/17, o colunista da Folha, Josias de Souza, disse que os fatos da última semana revelam que Temer e seus pares perderam a inibição de mostrar que seu real objetivo é estancar a “sangria da Lava Jato”, conforme áudio de Romero Jucá (PMDB/AL) em 2016 e a “saída Michel” (http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/05/leia-os-trechos-dos-dialogos-entre-romero-juca-e-sergio-machado.html). Em seu blog ele escreveu “À procura de um torniquete, a oligarquia política decidiu ligar o botão de dane-se!”. Esta posição também foi refletida no editorial do jornal. “Acumulam-se, nestes últimos dias, os sinais de que o governo do peemedebista Michel Temer — a exemplo do mundo político em geral — deixa de lado o compromisso com as aparências republicanas e adota como prioridade a sobrevivência de seu núcleo de poder”. Preocupação com sua própria sobrevivência e a de seus aliados, peixes-grandes, suspeitos nos processos. Em tempo: Não se ouve panelaço e indivíduos verde-amarelos convocando manifestações em repúdio a corrupção e o refreamento de investigações. Onde estão todos cidadãos indignados? Triste Brasil. São Paulo, 10 de fevereiro de 2017

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo

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