Da Redação com Lusa
A seleção de natação surdolímpica da Ucrânia ficou retida em Portugal, após a invasão russa, e prepara agora, em Rio Maior, os Jogos Surdolímpicos 2022, em Caxias do Sul, no Brasil, onde querem nadar pela paz.
“A nossa equipe é forte e quer mostrar ao mundo que o nosso país também é. Queremos mostrar, no nosso desporto, a mesma garra que os nossos militares e civis têm demonstrado a lutar pelas nossas fronteiras, pela liberdade do nosso país, pela paz”, afirmou o selecionador Volodymyr Zinenko, em declarações à agência Lusa.
O responsável técnico da equipe ucraniana de nadadores com deficiência auditiva assumiu a gratidão a Portugal, e em especial à Federação Portuguesa de Natação (FPN) e a Vítor Pereira, Diretor Técnico da Associação de Natação da Madeira, pela ajuda na permanência no país da comitiva de 21 elementos, 15 dos quais atletas.
Aquele que era mais um estágio, no Funchal, tendo em vista a presença ucraniana nos Jogos Surdolímpicos, em Caxias do Sul, entre 01 e 15 de maio, foi abalado pelo início da ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, em 24 de fevereiro.
“Estava previsto ficarmos na Madeira até 06 de março, mas, como não podíamos voltar à nossa terra, porque o espaço aéreo foi fechado e as nossas cidades foram atacadas, fomos ficando e, depois, com a ajuda da FPN e do senhor Vítor Pereira, acabamos por vir para aqui”, referiu Volodymyr Zinenko, no quinto dia de permanência na cidade ribatejana.
À distância, a ansiedade provocada pela guerra é enfrentada em cada treino, “para competir” e “defender o país”, na 24.ª edição do segundo evento multidesportivo mais antigo do mundo, cuja estreia ocorreu em Paris, em 1924.
A entrevista ao treinador Volodymyr Zinenko foi intermediada pela tradução do nadador Vladylav Hrytsenko e presenciada pela equipe técnica, que, pontualmente, acrescentavam alguns detalhes sobre cada um dos elementos da seleção.
“A maior parte dos nossos familiares deixou o país, foram para países mais seguros, mas, mesmo as mulheres e mães, estão a tentar regressar para ajudar a ganhar esta guerra e alcançar a paz o mais rapidamente possível. Estamos bem aqui, mas queremos regressar a casa”, vincou.
Os Jogos Surdolímpicos, inicialmente conhecidos como Jogos Internacionais Silenciosos, destinam-se a atletas com problemas auditivos, deficiência que não integra o programa dos Jogos Paralímpicos. A 24.ª edição da competição estava marcada para entre 05 e 21 de dezembro de 2021, mas foi adiada para 2022, devido à pandemia de covid-19.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, que causou centenas de mortos e milhares de feridos entre a população civil, incluindo mais de 130 crianças, e provocou a fuga de cerca de 5,2 milhões de pessoas, segundo dados da ONU.
Além da seleção de nadadores surdolímpicos, uma treinadora e uma atleta ucraniana de natação artística vão ser acolhidos em Lagos, com o apoio do município algarvio, enquanto o guarda-redes internacional português de polo aquático Nicolay Yanochko, que nasceu na Ucrânia, promoveu a vinda de vários atletas para o país.