Sócrates: Ex-primeiro-ministro recusa prisão domiciliar e critica justiça

Mundo Lusíada
Com Lusa

O ex-primeiro-ministro, José Sócrates (E), no interior de um carro da polícia, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) no Campus de Justiça, em Lisboa, 23 de novembro. ANDRÉ KOSTERS/LUSA
O ex-primeiro-ministro, José Sócrates (E), no interior de um carro da polícia, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) no Campus de Justiça, em Lisboa, 23 de novembro. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

O ex-primeiro-ministro José Sócrates recusou a proposta do Ministério Público para aguardar o desenrolar da “Operação Marquês” em prisão domiciliária, com vigilância eletrônica.

“Agora, o Ministério Público (MP) propõe prisão domiciliária com vigilância eletrônica, que continua a ser prisão, só que necessita do meu acordo. Nunca, em consciência, poderia dá-lo”, responde José Sócrates, numa carta divulgada pela SIC em 08 de junho. Com esta decisão, Sócrates vai continuar em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Évora.

Na declaração divulgada, José Sócrates diz que meditou longamente nesta decisão, no que ela significa de “sacrifício pessoal” e, principalmente, no sacrifício que ela representa para a sua família e para os seus amigos. “Todavia, o critério de decisão é simples – ela tem de estar de acordo com o respeito que devo a mim próprio e com o respeito que devo aos cargos públicos que exerci. Nas situações mais difíceis há sempre uma escolha. A minha é esta: digo não”, sublinhou o ex-líder do PS.

Sócrates reitera que a sua prisão constituiu uma “enorme e cruel injustiça”, lembrando que está há seis meses sem acusação e sem acesso aos autos. “Seis meses de uma furiosa campanha mediática de denegrimento e de difamação, permitida, se não dirigida, pelo MP. Seis meses de imputações falsas, absurdas e, pior – infundamentadas, o que significa que o MP não as poderia nem deveria fazer, por não estarem sustentadas nem em indícios, nem em fatos, nem em provas. Seis meses, enfim, de arbítrio e de abuso”, salienta o antigo chefe do governo.

Na declaração, Sócrates pede que cada um assuma as suas responsabilidades, alegando que a sua prisão foi uma “violência exercida injustamente contra” si, de “forma unilateral” e imposta. “Estas ‘meias-libertações’ não têm outro objetivo que não seja disfarçar o erro original e o sucessivo falhanço: depois de seis meses de prisão, nem factos, nem provas, nem acusação”, conclui.

José Sócrates foi detido a 21 de novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, no âmbito da “Operação Marquês”. Está indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção, sendo o único arguido ainda em prisão preventiva neste processo, depois de o empresário Carlos Santos Silva ter passado a prisão domiciliária, com pulseira eletrônica, no final de maio.

No âmbito do processo, são ainda suspeitos os empresários Joaquim Barroca Rodrigues, do Grupo Lena, Lalanda de Castro e Inês do Rosário, mulher de Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o antigo motorista de José Sócrates João Perna.

Pior para o PS
Em declarações ao programa ‘Falar Claro’ da Renascença, Nuno Morais Sarmento defendeu que a decisão do antigo primeiro-ministro em recusar a pulseira eletrônica foi a melhor para o Partido Socialista. “Era muito pior para o Partido Socialista do que se se mantiver em Évora”, considera o antigo ministro da Presidência.

O social-democrata entende que a decisão de José Sócrates foi “corajosa e com enorme impacto”. “Se em Évora foi o que foi, a romaria, aquilo tudo a que nós assistimos, imagine-se com um horário alargado de visitas”, afirma.

Morais Sarmento não acredita que a recusa de Sócrates tenha tido a ver com um possível benefício para o PS, mas sim, com o fato de se tratar de uma pessoa que não tem nada a perder e “coloca toda a pressão na justiça”.

“Tem um enorme impacto durante dois ou três dias, mas depois Sócrates continua em Évora e a campanha eleitoral no resto do país”.

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