Sócrates defende que PS deveria ter perguntado pelas provas contra ele

Da Redação
Com Lusa

Foto arquivo, Março de 2011-NUNO ANDRE FERREIRA/LUSA
Foto arquivo, Março de 2011-NUNO ANDRE FERREIRA/LUSA

Durante entrevista, o ex-primeiro-ministro José Sócrates defendeu que, ao fim de seis meses em prisão preventiva, o PS deveria ter perguntado pelas provas do seu processo, considerando que teve como efeito prejudicar os socialistas nas eleições legislativas.

Estas afirmações foram proferidas por José Sócrates em entrevista à TVI, depois de confrontado com a posição oficial do PS, liderado por António Costa, de separação entre justiça e política, não se pronunciando sobre o seu caso judicial.

“Ao fim de seis meses, eu realmente o que contava não é que o PS interviesse no processo, mas que o PS dissesse: Desculpem, mas não será o momento de apresentarem as provas? Acham que isto não passou já a mais? Não acham que o PS está a ser prejudicado por isto?”, declarou o ex-primeiro-ministro, numa alusão crítica à direção do seu partido.

De acordo com José Sócrates, o processo judicial que o envolve “serviu para alimentar a conversa” do executivo PSD/CDS-PP “sobre o Governo anterior” do PS, “porque lançou um manto de suspeição sobre o Governo anterior: Um Governo desonesto”.

José Sócrates defendeu depois que “o Ministério Público devia ter e tinha consciência disso”, referindo-se às consequências políticas do processo que o envolve.

A seguir, no entanto, ressalvou: “Não digo que tivesse essa intenção, mas o resultado foi esse: Prejudicar o PS, e prejudicar [o PS] nas eleições. Repare, só me soltaram depois das eleições. É por isso que eu acho que a justiça se expôs. Eu quando digo justiça, a comunidade jurídica percebe o que estou a dizer: Estou a falar destas pessoas que tomaram decisões”, apontou.

Para o ex-secretário-geral do PS, “as decisões que foram tomadas neste caso deixam a suspeição de que as consequências foram obtidas”.

“Já não precisam de apresentar a acusação, já não precisam de apresentar a prova e já não precisam sequer de fazer julgamento, porque o julgamento já foi feito nos jornais. É essa a impressão que dá”, sustentou ainda o ex-primeiro-ministro.

Na entrevista, José Sócrates recusou-se a esclarecer quais as suas relações atuais com o secretário-geral do PS, mas deixou um recado: “Ao longo deste último ano não me faltaram os amigos” disse. “Todos aqueles que queria que estivessem comigo estiveram e continuaram comigo”.

Sem suporte
Sócrates ainda declarou que a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, foi a “principal responsável pelo comportamento do Ministério Público” no processo “operação Marquês”. Segundo o ex-primeiro ministro, Vidal “é a principal responsável por este processo, tem de dar uma explicação pública pelo comportamento do Ministério Público (MP) e pelo fato de todos os prazos estarem esgotados”.

O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público reagiu dizendo que as acusações de Sócrates ao trabalho dos magistrados da “Operação Marquês” é uma “narrativa sem qualquer suporte de realidade”. “Toda a narrativa construída ontem [segunda-feira] não tem qualquer suporte na realidade, por esta razão: o Ministério Público (MP) não é nenhuma associação criminosa que se dedica a aterrorizar as famílias dos arguidos. O MP tem como objetivo o exercício da ação penal daqueles que cometeram crimes”, disse António Ventinhas.

Para o sindicalista, o que está em causa é “uma investigação criminal pela prática de crimes relacionada com a criminalidade econômica-financeira, a chamada criminalidade do colarinho branco. É isso que o MP tem feito, tem recolhido provas, têm-se formado fortes indícios que levaram à prisão preventiva”.

O ex-líder socialista, que esteve em preso preventivamente e está indiciado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, insistiu em dizer que “um ano depois [da detenção] não há provas, nem fatos, nem vai haver porque não podem provar o que não aconteceu” e que “as acusações são falsas, injustas e absurdas”.

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