Sobre Jovens Interessados e Jovens Interesseiros

 

Na última edição deste jornal, o Dr. Antonio de Almeida e Silva, na sua condição de presidente do Conselho das Comunidades Luso-Brasileiras do Estado de São Paulo, entre perplexo e decepcionado atribuiu a “erros cometidos no passado” a fraca adesão dos jovens às iniciativas relacionadas a nossa Comunidade. E citou o II Encontro de Jovens que aconteceu em 2010 em São Paulo como exemplo desse desinteresse.
O II Encontro de Jovens realizado na cidade de São Paulo, em setembro de 2010, antecedeu em dois meses o 1º Encontro de Jovens Luso-Descendentes Venezuelanos, em  Caracas, que reuniu 150 jovens de 15 regiões da Venezuela que debateram os seus anseios com alegria e entusiasmo.
O citado Encontro em São Paulo foi um fracasso que apenas repetiu o fracasso da edição anterior que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro. Organizado pelo Grupo Infante (alguém conhece?) que está ligado a Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras do Rio de Janeiro o investimento foi excessivo para os  parcos recursos do Conselho que, segundo é referido no seu site, vive apenas de doações e contribuições dos seus Associados (físicos e jurídicos).
Cenários mirabolantes, camisetas, impressos, custos de divulgação, pagamento a profissionais que rondam a nossa Comunidade mas nada fazem por ela, gratuitamente. Resultados nulos mas apresentados como iniciativas de sucesso apenas por parte da comunicação social luso-brasileira e portuguesa conivente e beneficiada. Até quando continuaremos a esconder o sol com a peneira?
Em meados dos anos 90, um grupo de então jovens decidiu criar a Associação dos Luso-Descendentes do Estado de São Paulo, a ALDESP. A Casa de Portugal facultou as suas instalações para encontros e atividades, tudo parecia bem encaminhado até que os Interesseiros começaram a sobrepor-se aos Interessados, degladiando-se pelos tachos (alguns dos quais ainda mantidos) e lançando num mar de difamação os outrora parceiros, aos quais, nada mais restou do que se afastarem da Comunidade. Extingiu-se a ALDESP.
Com os tachos garantidos, os Interesseiros se acomodaram enquanto os interessados pela nossa Comunidade continuavam a fazer os seus programas de rádio sem patrocinadores, a participar dos eventos Associativos, a frequentar assiduamente os ensaios dos seus grupos folclóricos e a olhar com desdém para os “senhores engravatados que sempre saem bem nas fotos”.
Possui o Conselho no seu quadro diretivo pessoas de reconhecido mérito mas duas pessoas que reúnem, na minha opinião, qualidades excepcionais para o trato associativo: Teresa Morgado, diretora do Departamento Feminino e Antonio Joaquim Freixo, diretor de Apoio as Associações. Por que não delegar a ambos a função de liderar uma Comissão para Assuntos da Juventude Luso-Brasileira? Pesquisas respondidas anonimamente para garantir a liberdade de expressão dos nossos jovens poderiam fornecer elementos informativos sobre falhas de comunicação. O interesse de apenas um casal de cada Associação significaria um total de 92 jovens num próximo Encontro. Tenho a certeza absoluta de que os nossos jovens que olham para os mais velhos para criticá-los (como nós já fizemos um dia), não se reconhecem nos ditos Interesseiros da nossa Comunidade e tem a energia e o vigor necessários para defender ideais e contribuir desde que sejam ouvidos.
Com os ditos Interesseiros, “jovens abutres” e já não tão jovens quanto isso que rondam o que julgam ser a carniça da nossa Comunidade, ocupando postos chaves como já ocupam em alguns setores da nossa Comunidade, com a sua arrogância, prepotência e ar de “sabichões” com as costas quentes, idealizando projetos mirabolantes que significam apenas mais dinheiro para as suas contas bancárias e esgotam possíveis patrocinadores com as suas propostas, tempos bem difíceis virão para aqueles que se orgulham das suas heranças culturais e históricas portuguesas.

EULÁLIA MORENO
Jornalista da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira de São Paulo (ACIE-SP).

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