Da Redação com Lusa
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro de Portugal denunciou hoje a exploração a que muitos trabalhadores do setor estão a ser sujeitos em Fátima, no distrito de Santarém, e no distrito de Leiria.
O dirigente sindical António Baião afirmou hoje, numa conferência de imprensa, em Leiria, que “existem situações extremamente graves”.
Segundo disse, em Fátima, “onde há uma grande comunidade brasileira, há trabalhadores a serem explorados. Na restauração há patrões que pagam o salário ao dia 10 ou 15 do mês, em prestações”, exemplificou.
“Os trabalhadores disseram-nos: ‘isto faz com que nos sintamos presos, porque temos necessidade de receber o resto do dinheiro e não saímos da empresa’. É uma “prisão” diferente, mas os trabalhadores sentem que são explorados em horários completamente desregulados e com o salário pago tarde e a más horas”, relatou o dirigente sindical, afirmando que estarão cerca de mil trabalhadores em Fátima em incumprimento com o contrato coletivo de trabalho.
António Baião disse ainda que na zona de Óbidos há trabalhadores imigrantes, sobretudo asiáticos, que “vivem em situações desumanas”, como “estarem 30 trabalhadores numa casa”.
“Muitos só trabalham à noite, são transportados em carrinhas do local de residência para o local de trabalho para que não tenham contato com mais ninguém e nem sabemos se estão legalizados no país. Não falam português e nem têm recibo de vencimento”, sublinhou.
Segundo o dirigente sindical, “para alguns destes trabalhadores enviar para os seus países de origem 200 ou 300 euros por mês, é uma fortuna, e, por isso, aguentam tudo”.
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro, afeto à CGTP, pretende “enviar uma missiva a Sua Santidade o Papa” para que nesta visita a Portugal, na Jornada Mundial da Juventude, “possa também tomar em conta esta situação que se vive no setor”.
“Todos os peregrinos são bem tratados em termos de restauração e hotelaria, mas os trabalhadores que os servem principescamente são explorados todos os dias no destino turístico de Fátima. Vamos fazer participação à ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] e à senhora ministra do Trabalho”, adiantou.
Depois da visita a Fátima e a Leiria, os dirigentes vão visitar as unidades principais nos concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche para se reunirem com trabalhadores do setor.
Esta ação surge no âmbito de uma campanha que o Sindicato está a realizar a nível nacional, tendo em conta “a ofensiva que está a haver por parte dos patrões no setor da hotelaria e do turismo, com a ideia que estão querer passar para a sociedade em geral, mas muito em concreto para o Governo, de que há falta de mão-de-obra no setor e que há necessidade de aligeirar as medidas que possam levar à vinda de trabalhadores estrangeiros para o país”.
António Baião adiantou que será uma quinzena de luta, que terminará com uma greve agendada para o dia 28 de julho, com concentração junto à secretaria de Estado do Turismo. “Iremos falar com o secretário de Estado do Turismo para colocar as nossas razões, porque é que há falta de trabalhadores no setor”, disse o dirigente sindical.
Para o sindicalista, os baixos salários e os horários são os principais fatores que afastam trabalhadores do setor.
Exibindo um documento que está a ser entregue aos trabalhadores, António Baião considerou que os trabalhadores deverão ser pagos a 200% aos feriados, receber um acréscimo de 50% no salário aos fins de semana e à noite, garantir dois dias de descanso semanal seguidos e um fim de semana por mês.
Além destas reivindicações, o dirigente sindical entende ainda que para fixar pessoas no setor é necessário garantir 35 horas para todos e o combate à desregulação dos horários, criar um regime de diuturnidades e a integração no quadro de todos os trabalhadores precários.