As notícias da macroeconomia sob o ponto de vista internacional continuaram a deixar os analistas muito preocupados. E, para complicar, as novidades que apareceram também dentro do Brasil não são muito tranqüilas. A coisa está ficando realmente nebulosa.
O Boletim Focus, elaborado pelo BC – Banco Central a partir de consultas feitas a instituições financeiras, avalia semanalmente como o mercado sente o andamento da economia. Na edição mais recente, pela primeira vez, indicou-se um crescimento menor do que 3% para o PIB – Produto Interno Bruto neste ano. O governo, na alvorada de 2012, apostava em algo em torno de 4,5%. Mas, com o passar dos dias e os apontamentos indicados por vários índices, essa crença foi perdendo o vigor. No entendimento do mercado, a projeção do PIB em 2012 caiu para 2,9%. E no caso da interpretação do governo, o Ministério da Fazenda aponta que projeção oficial de crescimento da economia pode ser reduzida dos originais 4,5% para 4% neste ano, caso haja um ‘estresse maior’ no cenário internacional. Uma coisa é certa: o primeiro trimestre talvez nem chegue a 0,5% de crescimento por aqui. Então, de fato, o problema está ganhando maiores dimensões.
Considerando todas as conexões da atual economia globalizada, ampliam-se as pedras do caminho. O crescimento da Índia acaba de registrar desaceleração. O período janeiro-março representou o menor crescimento do PIB em um trimestre desde 2002-2003. Para a China, o Banco Mundial reduziu sua perspectiva de crescimento econômico neste ano de 8,4% para 8,2%. Bem distante de tempos atrás onde o país marcava subidas de dois dígitos. Comentários de técnicos do Banco Central dos EUA afirmam que eles se preparam para enfrentar a ‘piora da crise na Europa’. Isto, ao mesmo tempo em que a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico entende que EUA e Japão dão indícios de melhora, mas muito frágil frente a todos os problemas da zona do euro que, para a entidade, encolherá 0,1% este ano. Na prática, o PIB da União Européia, como um todo, já estagnou em zero neste primeiro trimestre. Lembrando que EUA e Europa, juntos, dividem 25% para cada lado do PIB mundial. Conseguirão EUA e Japão acelerar a recuperação e auxiliar os parceiros e a economia internacional?
No Brasil o Copom – Comitê de Política Monetária do BC reduziu mais 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. A taxa caiu de 9% para 8,5% ao ano, o menor patamar da série histórica iniciada em 1986. Ainda assim, o Brasil ocupa a terceira posição entre os maiores juros reais – taxa já descontada a inflação – do planeta. Juros mais baixos facilitam o consumo. Mas, os investimentos privados não dão sinais de reagir, a produção industrial só retrocede e já se reflete na geração de empregos formais. O governo deve mexer-se mais para buscar aquecer o cenário. Há muita gente que reclama por isso. Os investimentos do estado este ano estão recuando. Em 2010, representavam 1,2% do PIB e, no ano passado, caíram para 1%. Deve a atual gestão influenciar mais as circunstâncias, injetando liquidez no sistema, facilitar mais os investimentos industriais para fugir da recessão. E permanecer apostando no consumo da Classe C que, no primeiro trimestre, ajudou aumentar as vendas nos supermercados 11,9%, informática 32%, além de eletrodomésticos e móveis, 15,9%. Claro, sem esquecer um dado importante: a inadimplência que se avoluma. Em ano e meio, o índice mais de que dobrou. Com a redução dos juros há uma expectativa de facilitar essa resolução. É preciso cuidado.
É bom lembrar que a crise explodiu em 2008, quando o banco Lehman Brothers teve que assumir sua bancarrota. Isto resultou num grande impacto sobre o sistema financeiro norte-americano que, dadas as redes, explodiu também sobre o sistema financeiro europeu. Este segundo impacto contaminou as contas dos países no Velho Mundo, ampliando déficits e dívidas públicas, levando à recessão presente. Porém, os emergentes conseguiram se esquivar com menores danos dessa situação e a economia internacional realçou novos personagens, como o Brics. A China, entre eles, com seu reduzido câmbio fixo, mão de obra barata e alta produção em escala, foi responsável pela importação intensa de commodities internacionais, que ajudou muito aos países exportadores de produtos primários e outros emergentes. Todavia, tudo tem limite.
Conforme analistas, as commodities vem perdendo preço. E o consumo vem baixando. A China começa a se preocupar menos com o mercado de exportação e mais com o mercado interno. Há cálculos que o país nos próximos anos chegará a crescer parcos 5%. Isto valendo também para os demais participantes do Brics. Os juros no mundo desenvolvido já andam baixos e investidores não aparecem para agir. Segundo análise de J. P. Kupfer, a queda dos juros, em paralelo com o aumento das incertezas na economia real, tem se refletido nos resultados fracos contabilizados pelos fundos privados globais. Calcula-se que algo entre US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões, apenas nos EUA, está sendo mantido em caixa, na expectativa de melhores oportunidades de aplicação. E, além do dólar e de bônus alemães, já se nota aumento da procura por francos suíços. Quem tem dinheiro se defende. E quem não tem? A OIT -Organização Internacional do Trabalho prevê que, até o final do ano, deverá passar de 202 milhões o número de pessoas desempregadas em todo o mundo, um aumento de 6 milhões em relação a 2011.
É um cenário de tormentas que não dá tréguas. O governo brasileiro deve permanecer atento para não perder o fôlego, porque vai precisar de muita força para agüentar o repuxo que aparenta ser longo, amplo e duro. Prometeu incrementar o investimento. Que assim seja. O tenso amarelo está presente e isso não é bom sinal. São Paulo, 31 de maio de 2012
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.