Da Redação
Símbolo da presença jesuítica no Brasil, o Santuário Nacional de São José de Anchieta, no município de Anchieta no estado do Espírito Santo, será totalmente restaurado. O museu do Santuário do século XVI, um dos mais antigos monumentos católicos do país, irá passar por obras de acessibilidade e ganhar rampas, plataformas elevatórias, banheiro adaptado, além de sinalização em braile.
A intervenção tem o propósito de democratizar o acesso às salas do museu, como a histórica Cela de São José de Anchieta. O local receberá projeto museográfico de organização do acervo, que contempla investimentos na climatização, telhamento, iluminação, comunicação, sonorização e restauro de peças.
Na segunda etapa da obra, serão executados o restauro da Igreja, a montagem da sala de documentação e estudos e o paisagismo na área do entorno do Santuário. O projeto, contratado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), será executado pelo Instituto Modus Vivendi. A primeira etapa conta com patrocínio da Vale, que investirá R$ 5,6 milhões, via lei Rouanet.
A assinatura da ordem de início das obras foi assinada dia 25 de maio, com a presença da presidente do Iphan, Kátia Bogéa; o governador do Espírito Santo, Paulo César Hartung; o presidente da Vale, Fabio Schvartsman; o deputado federal Evair de Melo, e ainda representantes do Ibram, Instituto Modus Vivendi, BNDES, e Iphan-ES.
Um santo museu
O conjunto arquitetônico que abriga a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, além de antiga residência dos jesuítas e museu, é tombado pelo Iphan, desde 1943. Um dos pontos mais relevantes do restauro e readequação do museu será a sala de documentação para estudos e reflexões sobre a vida de São José de Anchieta, dos jesuítas e dos ameríndios, com um material único de pesquisa sobre todo o processo de canonização.
O material de pesquisa será oferecido em salas interativas, com mesas digitais e uso de novas mídias. A tecnologia e o projeto de gestão documental irão facilitar o acesso a pesquisadores, estudantes e todos os visitantes. O acervo desta sala é de grande importância histórica para todo o Brasil já que a documentação compreende correspondências e documentações dos séculos XVI ao XXI produzidas pelos jesuítas e pelo alto clero sobre a evangelização do Brasil, com destaque à figura de José de Anchieta, e reúne cerca de 59 volumes contendo cartas, mapas e outras documentações de 1534 a 1997. Outra coleção, composta de sete volumes, é a da Acta Romana, de 1910 a 1997. Em um extenso material sobre a beatificação de José de Anchieta, destaca-se a bula de canonização assinada pelo Papa Francisco.
O Santuário de São José de Anchieta é parte dos espaços físicos do conjunto arquitetônico jesuítico de Anchieta, no estado. O local se destaca pela sua importância no processo religioso e cultural de numerosos grupos indígenas de distintas etnias e proveniências, conduzido pela Companhia de Jesus entre os séculos XVI e XVIII, em modelo considerado pioneiro.
O lugar foi escolhido pelo sacerdote José de Anchieta para viver os últimos anos de sua vida, onde faleceu, em 9 de junho de 1597. Beatificado pelo Papa João Paulo II em 1980, o padre foi canonizado em 2014 pelo Papa Francisco, tornando-se o terceiro santo brasileiro.
Igreja Nossa Senhora da Assunção
O aldeamento de Reritiba foi fundado em 1579 pelo Padre José de Anchieta, à época o responsável máximo pela Companhia de Jesus no Brasil. A aldeia onde viviam índios tupiniquins acabou por se transformar num dos polos de evangelização e desenvolvimento do Espírito Santo tendo, igualmente servido como laboratório pelo qual passavam obrigatoriamente os jesuítas em formação para aprendizado da língua geral.
Por determinação de D. José I, Rei de Portugal, pouco antes da saída dos jesuítas, em janeiro de 1760, devido ao expressivo número de habitantes cristianizados, Reritiba foi elevada à categoria de vila com o nome de Benavente, tendo a cidade sido criada com a designação de Anchieta, o mais ilustre dos seus moradores, em 12 de agosto de 1887, e ratificada por nova lei do Estado em 1921.
Os jesuítas deixaram marcas por onde passaram. No Espírito Santo, além do aspecto religioso, tiveram significativo papel na educação e no empreendedorismo. Fundaram o Colégio de São Tiago (atual Palácio Anchieta), em Vitória, e as aldeias de Reis Magos, em Nova Almeida, e de Reritiba, em Anchieta, além das fazendas de Muribeca, em Presidente Kennedy, Itapoca, em Serra, e Araçatiba, em Viana.
As fazendas garantiam a subsistência do Colégio e a continuidade de seus trabalhos, assegurando-lhe independência autárquica, além da função específica de ensino. Elas tiveram significativa influência na vida econômica da capitania ao se tornarem os mais importantes centros de produção da época.
A herança dos Jesuítas também é relevante no conjunto arquitetônico do patrimônio histórico no estado. A relação de prédios inclui o Palácio Anchieta, em Vitória; a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta; a Igreja de Reis Magos, em Nova Almeida; a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari; a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Viana; a Igreja de São João de Carapina, em Serra; a Igreja de Nossa Senhora das Neves, em Presidente Kennedy e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari.