Entre as vantagens que a produção no Nordeste tem apresentado estão a ausência de doenças, a baixa incidência de pragas e a possibilidade de até duas safras por ano na mesma planta.
Da Redação
Conhecido pelo calor intenso e pela escassez de chuva em grande parte de sua área, o Nordeste brasileiro vem surpreendendo o mundo com a produção irrigada de frutas de ambientes mais amenos, como a uva e a manga.
Agora, os tradicionais “carros-fortes” da economia da região são frutas de clima temperado, como a pera, a maçã e o caqui.
A viabilidade destes cultivos no Semiárido vem sendo avaliada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em áreas irrigadas dos estados de Pernambuco, Ceará e Sergipe.
Segundo o órgão, os resultados são promissores, com boa produtividade, qualidade dos frutos e – o que é o grande diferencial da região – possibilidade de colheita em qualquer época do ano.
O objetivo do trabalho é possibilitar a produção dessas culturas em épocas diferenciadas das tradicionais região produtoras, o que vai possibilitar aos agricultores a conquista de melhores preços e mercados, como afirma o pesquisador Paulo Roberto Coelho Lopes, líder dos estudos com novas fruteiras na Embrapa Semiárido (Petrolina, PE).
“Não temos a pretensão de competir com o Centro-Sul do país, que tem produtividade e qualidade superior à nossa, mas aproveitar as janelas de mercado para colocar nossas frutas no mercado regional”, afirma.
Espaço para isso não falta, já que o Brasil importa um grande volume destas frutas. Somente da pera, cerca de 90 a 95% do consumo nacional é procedente de outros países. Em 2012, por exemplo, foram importadas 172 mil toneladas, enquanto a produção nacional chegou a apenas 21 mil.
Vantagens – De acordo com o pesquisador João Caetano Fioravanço, da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), a interação das fruteiras com o clima ocorre de forma bastante distinta no Nordeste e no Sul do país. “No Sul, o índice de chuvas é bom para o fornecimento de água para as culturas, mas, por vezes, o excesso prejudica a floração e a colheita. Além disso, temos eventos climáticos que o Nordeste sequer conhece, como as geadas e o granizo, que causam prejuízos quase todos os anos”, destaca.
Entre as vantagens que a produção no Nordeste tem apresentado estão a ausência de doenças, a baixa incidência de pragas e a possibilidade de até duas safras por ano na mesma planta. Além, especialmente, de se configurar como alternativa para a diversificação dos cultivos da região, atualmente centrados em poucas variedades.
A possibilidade já começa a atrair agricultores, a exemplo de Hiroto Yukihara, produtor de uva de Petrolina (PE). Ele iniciou a implantação de um hectare de caqui em parceria com a Embrapa, e antes mesmo da primeira colheita já estendeu a área para mais dois hectares. “Na agricultura você não pode se basear apenas em uma cultura, tem que diversificar. O Vale do São Francisco é maravilhoso, mas tudo tem um risco”, observa.
Já o produtor Andre Pavesi, também de Petrolina (PE), está apostando na maçã. Em sua propriedade a Embrapa implantou, há três anos, uma área de meio hectare para experimentos, na qual ele já identifica o potencial da cultura. “Comercialmente ainda não temos muita informação, pois não tivemos volume de produção, mas a aceitação no mercado foi muito boa, o que criou um estímulo ainda maior”. Animado, ele espera em 2015 já estar pronto para enfrentar uma produção comercial.
Resultados – As pesquisas com frutas de clima temperado realizadas pela Embrapa, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), iniciaram com a avaliação da adaptação das culturas às condições da região. Com os bons resultados, agora se centram em estudos para determinação de parâmetros como espaçamento, sistema de condução, adubação, monitoramento de pragas e doenças, lâminas de irrigação, uso de indutores de brotação e avaliação da qualidade dos frutos e dos custos, entre outras.
Algumas variedades já despontam como mais promissoras, como o caqui Rama Forte e Giombo, a maçã Princesa, Eva e Julieta, e a pera Triunfo, Princesinha e Housui. No entanto, o pesquisador Paulo Roberto explica que o cultivo ainda não está sendo recomendado, pois muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas.