Da Redação
Entre os meses de junho a dezembro deste ano, o Reino Unido vai realizar o maior experimento de sua história sobre redução de jornada de trabalho e qualidade de vida. A intenção é testar a eficácia de uma semana com apenas 4 dias de atividades, sem corte de salários.
A experiência irá averiguar se a produtividade dos funcionários vai ser mantida, cairá ou vai aumentar trabalhando apenas 4 dias por semana. Ao mesmo tempo, irá analisar se houve acréscimo considerável na qualidade de vida dos participantes.
A análise envolve mais 3,3 mil trabalhadores de 70 empresas da Grã-Bretanha, de diferentes segmentos como lojas, restaurantes, áreas de recrutamento, desenvolvedores de softwares, entre outros. A ação será coordenada por pesquisadores das universidades britânicas de Cambridge e Oxford e do Boston College, nos Estados Unidos.
As solicitações para reduzir a semana de trabalho ganharam força nos últimos anos em vários países, devido aos trabalhos remotos iniciados com a pandemia. A Suécia, por exemplo, adotou um modelo de 6 horas diárias. A Finlândia testou uma jornada de quatro dias e os resultados foram positivos.
O projeto piloto da pesquisa que será realizada no Reino Unido foi desenvolvido pelo 4 Day Week Global, grupo de especialistas que defendem a semana mais curta e que farão testes equivalentes em países como Irlanda, EUA, Nova Zelândia, Canadá e Austrália no futuro.
Segundo Joe O’Connor, CEO da 4 Day Week, “à medida que emergimos da pandemia, mais e mais empresas estão reconhecendo que a nova fronteira para a concorrência é a qualidade de vida, o que faz o trabalho com uma jornada reduzida e focado na produção ser uma forma de dar a elas uma vantagem competitiva”.
Também em Portugal, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, anunciou no mês passado que o Governo vai desenvolver com os parceiros sociais a realização de um estudo no qual serão definidos requisitos e condições para os projetos-piloto sobre a semana dos quatro dias.
“Este estudo será desenvolvido em sede de Concertação Social”, disse a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, acentuando que será através desse estudo que serão “identificados os requisitos e condições” para os projetos-piloto que, precisou que já existe “adesão voluntária” por parte das empresas.
No Brasil
No Brasil existem regras sobre a duração do trabalho, como o artigo 7º, inciso XIII da Constituição Federal, que limita jornada a 8h por dia e 44h semanais, salvo ajustes de compensação.
Acordo por convenção coletiva ou ajustes individuais entre empregado e empregador pode estabelecer jornada de 12 horas, seguidas de 36 horas de descanso. Mas se a situação de trabalho for enquadrada no artigo 62 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em que o trabalhador externo – cujas atividades são incompatíveis com o controle de jornada, exercício de cargo de confiança e teletrabalho – não se submeterá a regras de duração como limites diário e semanal, intervalo, labor noturno, entre outros.
Como exemplo, no Grupo Ruggi Administradora de Condomínios, que atua em Curitiba e Região Metropolitana, a situação do Reino Unido já é vivenciada na prática. A semana reduzida já existe há cerca de dois anos, os funcionários têm mais tempo livre para cuidar de suas atividades pessoais, a produtividade foi mantida e os salários não foram alterados.
Com uma estrutura adaptável e sistemas de tecnologia que operam online, a empresa já atuava remotamente antes da pandemia. A chegada do Coronavírus acelerou os trabalhos à distância e tudo foi realizado em home office; desde a comunicação com os moradores até as assembleias dos condomínios.
“Em determinados períodos do mês – quando as tarefas estão em dia e não há situações emergenciais – 90% da equipe consegue encerrar o expediente às 12h de sexta-feira. O time é muito organizado, a produtividade foi mantida e por isso os funcionários ganham mais tempo para cuidar de suas vidas pessoais”, explica o diretor Maurilei Ruggi.
Menos presença, mais entrega
Para o consultor de empresas Eduardo Ferraz, que tem 35 anos de experiência e escreveu 5 livros sobre gestão de pessoas, estudos na Europa devem comprovar uma realidade que ele presencia no Brasil.
“Se o funcionário atua por metas e não fica restrito à duração da jornada, ele pode se beneficiar e também a empresa que ele presta serviços. Afinal, não importa se o colaborador trabalha 40 horas por semana. O que conta de fato é o resultado que ele entrega. Se cumprir as atividades estipuladas, por ambas as partes, em 3 ou 4 dias, está resolvido. Isso é bom para o empregado e ótimo para as empresas, que terão pessoas cada vez mais pessoas engajadas e focadas nos resultados”, explica.
Contudo, Ferraz salienta que esse tipo de relação funciona muito bem para quem tem disciplina, atua com trabalhos de intelecto que podem ser feitos à distância, têm metas muito bem definidas e fazem as tarefas sem a necessidade de ser cobrado o tempo todo.
No livro Por que a gente é do jeito que a gente é? (Selo Planeta Estratégia, da Editora Planeta, 224 págs., R$ 49,90), o consultor de empresas aborda com bom humor os diferentes estilos de personalidade humana, cita exemplos reais e mostra onde as pessoas podem se destacar no trabalho, respeitando suas individualidades.
“Atividades braçais que dependem da presença física ou quem deve cumprir jornada estabelecida não se enquadram. Por isso, é fundamental conhecer muito bem as demandas da companhia e as próprias habilidades para não prometer uma coisa e entregar outra”, complementa.