Saúde define linhas orientadoras para a `long covid´ em crescimento em Portugal

Da Redação com Lusa

Na quinta-feira, a Direção-Geral da Saúde publicou linhas orientadoras de diagnóstico e abordagem clínica da `long covid´, que está em “em crescimento” em Portugal e que pode “interferir na qualidade de vida” das pessoas afetadas.

“O espetro de sintomas mais frequentes na condição pós-covid-19 inclui fadiga, dispneia (falta de ar), alterações do olfato e do paladar, depressão e ansiedade e disfunção cognitiva”, adianta a norma assinada pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e dirigida aos profissionais de saúde.

Também conhecida como `long covid´, a condição pós-covid-19 é definida pelo espetro de sintomas que ocorrem em pessoas com infecção provável ou confirmada pelo coronavírus SARS-CoV-2, habitualmente três meses após o início da fase aguda da infeção e com pelo menos dois meses de duração.

“Os sintomas podem desenvolver-se durante ou após a infeção aguda por SARS-CoV-2, apresentam impacto na qualidade de vida da pessoa afetada e não são explicados por diagnóstico alternativo”, refere a norma publicada.

A `long covid´ tem repercussões funcionais potencialmente graves, que interferem com a qualidade de vida e capacidade laboral das pessoas afetadas, com óbvio impacto socioeconômico, adianta ainda a DGS, que considera que a “persistência dos sintomas além das quatro semanas tem vindo a ser pouco estudada nos cuidados de saúde primários, local de acompanhamento da maioria das infeções por SARS-CoV-2”.

Segundo as regras agora publicadas, as equipas de ligação entre os cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares “devem otimizar a articulação entre os diferentes níveis de cuidados”.

“A nível hospitalar, as instituições devem promover o trabalho multidisciplinar e multiespecializado, através de um circuito que permita uma adequada articulação com os cuidados de saúde primários, no âmbito da gestão da condição pós-covid-19 e numa ótica de continuidade de cuidados”, refere a DGS.

O principal objetivo da abordagem prevista na norma à `long covid´ é o reconhecimento precoce de sintomas e sinais que possam indiciar “complicações graves e ameaçadoras da vida e a recuperação sintomática e funcional” da pessoa afetada.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que entre 10% a 20% das pessoas com covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase aguda da infecção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a saúde mental.

“Embora os dados sejam escassos, estimativas recentes apontam que 10 a 20% das pessoas com covid-19 experimentam doença contínua durante semanas ou meses após a fase aguda da infeção”, refere o Relatório Europeu da Saúde 2021 da OMS divulgado em 10 de março.

“A condição pós-covid-19 é imprevisível e debilitante e pode, posteriormente, levar a problemas de saúde mental, tais como ansiedade, depressão e sintomatologia pós-traumática”, alerta o capítulo do relatório dedicado à pandemia.

De acordo com o documento da OMS Europa, o que influencia o desenvolvimento e gravidade do `long covid´ é, até agora, desconhecido, mas não parece estar correlacionado com a gravidade da infeção inicial por SARS-CoV-2 ou com a duração dos sintomas associados, sendo, porém, mais comum em pessoas que foram hospitalizadas.

“Espera-se que o número absoluto de casos aumente à medida que ocorrem novas ondas de infeção na região europeia e é necessária mais investigação e vigilância” a esta condição específica provocada pela covid-19, adianta ainda o documento.

A covid-19 provocou pelo menos 6.011.769 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Números Covid – Portugal registrou 78.464 casos de infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 entre 08 e 14 de março, 123 mortes associados à covid-19 e uma redução de internamentos.

Segundo o boletim epidemiológico semanal, o número de casos confirmados de infecção desceu 811 em relação à semana anterior, registrando-se ainda uma redução de 39 óbitos na comparação entre os dois períodos.

Quanto à ocupação hospitalar em Portugal continental por covid-19, a DGS passou a divulgar às sextas-feiras os dados dos internamentos referentes à segunda-feira anterior à publicação do relatório e com base nesse critério o boletim indica que, na última segunda-feira, estavam internadas 1.140 pessoas, menos 85 do que no mesmo dia da semana anterior, e 66 doentes estavam em unidades de cuidados intensivos, menos 12.

Enquanto isso, Gripe aumenta

A taxa de incidência de síndrome gripal quase triplicou, fixando-se em 43,5 por cada 100.000 habitantes, numa tendência que continua crescente e com “atividade epidêmica disseminada”, segundo o Instituto Ricardo Jorge.

O boletim de vigilância da gripe do INSA, referente à semana de 07 a 13 de março, diz que a taxa de incidência de infeção respiratória aguda (IRA) foi de 43,5 por 100.000 habitantes e que foram reportados dois casos de gripe pelas 17 unidades de cuidados intensivos que enviaram informação, ambos referentes a doentes com doença crônica que não estavam vacinados.

Segundo o boletim, a Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe (Hospitais) detetou, nesta semana, 447 casos positivos para o vírus da gripe, dos quais 398 do tipo A, oito do tipo B e 41 não tipados. Em 52 dos casos foi identificado o subtipo A(H3).

Em toda a época 2021/2022, os laboratórios da Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe notificaram 61.914 casos de infecção respiratória e foram identificados 1.073 casos de gripe.

Até ao momento, foram detetados 39 casos de co-infecção pelo vírus da gripe e SARS-CoV-2.

Quanto à gravidade, além dos dois casos apontados pelas 17 unidades de cuidados intensivos, foi reportado um caso de gripe pelas três enfermarias que enviaram informação. Trata-se de uma criança de dois anos de idade, sem doença crónica e não vacinada, tendo sido identificado o vírus Influenza A(H3N2).

“Os vírus que estão a circular em Portugal, que são maioritariamente vírus do tipo A, do subtipo AH3, e aqueles que foram analisados no programa de vigilância da gripe, são antigenicamente distintos daqueles que constam da vacina”, disse Ana Paula Rodrigues, acrescentando: “Nós não temos ainda os dados dos estudos de efetividade porque não há um número de casos suficientes”.

A vacinação contra a gripe arrancou em Portugal no final de setembro, mais cedo do que o habitual devido à pandemia de covid-19, estando já vacinadas mais de 2,5 milhões de pessoas.

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