Mundo Lusíada
Com Lusa
Segundo Manuel Caldeira Cabral, o “calçado português” é uma marca “que ajuda a vender as empresas” nacionais e representa um setor que deve servir de exemplo.
“O calçado português é hoje uma marca que vende e que ajuda a vender as empresas portuguesas. É um bom exemplo de como, quando se diz ‘Made in Portugal’ no calçado, as pessoas acreditam que é bom e isso ajuda a vender em qualquer parte do mundo”, realçou o governante na sua primeira visita à maior feita do setor a nível mundial, a Micam, em Milão.
Manuel Caldeira Cabral começou por visitar as empresas portuguesas na Mipel – espaço na feira dedicado às malas e artigos de pele -, onde recebeu um porta-moedas.
Passou depois para a parte do calçado, percorreu alguns dos muitos corredores com sapatos, botas e botins, conheceu os empresários portugueses, ouviu-lhes as histórias e as preocupações e ainda lhes disse que muito do mérito do setor se deve ao trabalho da APICCAPS, Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado.
“É importante reproduzir este êxito noutros setores”, defendeu num dos stands que visitou.
Aos jornalistas, reiterou esta ideia e destacou que este “é um bom exemplo para o país e para outros setores de como, através da tecnologia, do investimento na qualificação das pessoas e da formação profissional, se pode conseguir melhorar a qualidade, criar mais valor e, com isso, ser competitivo”.
“É esse exemplo que o calçado está a dar aqui em Milão e é por esse exemplo que as exportações do calçado conseguiram nos últimos seis anos crescer 50%, não só porque se estão a vender mais pares de sapatos, mas porque também se estão a vender melhores, com mais valor, com base em marcas próprias”, sublinhou.
E se o calçado encerrou 2015 com a exportação no máximo histórico de 79 milhões de pares de sapatos, no valor de 1.865 milhões de euros, Caldeira Cabral quer que “2016 tenha um crescimento ainda superior”.
Para atingir este objetivo, o Governo prepara-se para lançar novos programas de apoio à inovação, internacionalização e qualificação de mão-de-obra.
“Vamos fazer vários programas para incentivar este setor e vamos fazer programas que o que visam é fazer e apoiar mais este e outros setores que façam o que fez o calçado português”, destacou o ministro da Economia, cuja visão para a indústria portuguesa é aquela “que crie mais valor em Portugal”.
Caldeira Cabral acrescentou que as próximas medidas, que serão lançadas depois de terminado o programa “100 dias 100 milhões”, “serão também muito importantes e muito determinantes, não só para os setores tidos como mais tecnológicos, mas também para estes setores tidos como tradicionais, que tiveram uma grande evolução tecnológica, de design e de inovação e que são hoje setores que concorrem a partir de Portugal”.
A Micam decorre entre os dias 14 e 17 de fevereiro e contará com a presença de mais de 1.600 expositores, de cerca de 50 países, e mais de 40 mil visitantes profissionais. A maior feira do calçado do mundo conta com a participação de 95 empresas portuguesas, responsáveis por 500 milhões de euros em exportações e oito mil postos de trabalho.
Nos 95 expositores da feira estão 16 mil amostras de calçado e artigos de pele que ocupam 2.800 metros quadrados, mais 31% de área que nos últimos quatro anos. A participação portuguesa neste evento implicou 28 camiões TIR, 600 viagens, uma equipe de montagem de 80 pessoas, dez dias de trabalho e um investimento total de dois milhões de euros.
Combustíveis
O ministro da Economia disse ainda que o aumento do preço dos combustíveis não vai afetar a competitividade do setor do calçado que, pelo contrário, está a beneficiar da queda do Euro.
“Não me parece que vá, por essa via, haver perda de competitividade do setor, pelo contrário. O que vemos é um setor com muita vitalidade, muita competitividade, que está neste momento também a beneficiar do Euro estar mais baixo para exportar e entrar em novos mercados”.
Manuel Caldeira Cabral acrescentou que “os combustíveis baixaram muito no último ano e o aumento da tributação sobre os combustíveis vai ter um ligeiro acréscimo no preço”.
“Exatamente para não prejudicar as indústrias exportadoras, o que se colocou foi uma majoração que vai facilitar às empresas transportadoras compensar esse aumento da tributação sobre o efeito petrolífero”, declarou o governante. Segundo Caldeira Cabral, “o efeito nas exportações e transportadoras vai ser por essa via anulado”.
Mas se do lado do Governo o cenário é otimista, já os próprios empresários temem que a subida do preço dos combustíveis afete o negócio. “Provavelmente afetará. Esperemos que não se reflita nos preços”, afirmou Américo Pinto, responsável das marcas Pratik e Imagini que, em 2015, atingiram uma faturação de 34 milhões de euros, com a exportação a valer 85% da produção.
Voos
O porta-voz da Associação dos Industriais de Calçado admitiu que o setor está a acompanhar “com apreensão” o eventual fim das ligações Porto/Milão pela TAP, que foi sempre “a companhia de excelência” das empresas daquela fileira.
“Acompanhamos esta situação com apreensão”, afirmou à Lusa Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).
O responsável lembrou que só este ano a associação realizou oito feiras no norte de Itália, onde está localizado o aeroporto de Milão, e que para esta edição da Micam viajaram cerca de 600 portugueses.
Segundo Paulo Gonçalves, “há uma tradição de relacionamento institucional entre a APICCAPS e a TAP no sentido de ajustar a oferta aérea às necessidades das empresas, de tal forma que, em várias ocasiões, a TAP substituiu voos de menor capacidade por outros de maior dimensão”.
Por esse motivo, disse, a transportadora “sempre foi a companhia aérea de excelência das empresas de calçado”.
O porta-voz do setor do calçado admitiu que daqui a seis meses, data em que se realiza a nova edição da Micam, em Milão, caso já não exista a ligação da TAP com partida do Porto, podem os empresários “recorrer a outras empresas” transportadoras.