São Paulo e Rio de Janeiro recebem retrospectiva de cineastas portugueses

Da Redação
Com Lusa

O Instituto Moreira Salles vai receber, nos espaços em São Paulo e Rio de Janeiro, uma retrospetiva do cinema dos realizadores portugueses Margarida Cordeiro e António Reis, que começa em 08 de outubro.

Ao todo, serão sete os filmes exibidos, quatro pelo casal, numa seleção que inclui também trabalhos de Reis a solo, como “Painéis do Porto” (1963) ou ainda “Do Céu ao Rio”, feito em colaboração com César Guerra Leal em 1964.

Num texto de apresentação, o instituto assinala a presença dos filmes “inéditos no Brasil”, excetuando “Trás-Os-Montes” (1976) e “Mudar de vida” (1966), filme de Paulo Rocha para o qual António Reis escreveu os diálogos, e também a forma como o corpo da obra “abarca o fim do regime salazarista e o processo de abertura democrática de Portugal”.

“A retrospetiva apresenta obras que se caracterizam por uma observação atenta no retrato de personagens e das paisagens em que habitam, nos quais simplicidade e humildade não são meros exotismos”, pode ler-se no texto, que menciona ainda Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, alunos de António Reis, e o “rigor ético e estético” dos filmes.

A mostra retrospectiva vai decorrer de 08 a 16 de outubro, em São Paulo, passando depois para o Rio de Janeiro, de 15 a 22.

A ‘docu-ficção’ “Trás-os-Montes” (1976) é destacada pela organização, como uma das obras de maior sucesso da dupla, tendo sido exibida em quase duas dezenas de festivais e premiada em quatro, nomeadamente em Mannheim-Heidelberg, em Pesaro e em Valladolid, com grandes prêmios e prêmios da crítica.

Quando da estreia de “Trás-os-Montes”, o cineasta João César Monteiro escreveu, na revista Cinéfilo: “Um dos mais belos filmes da história do cinema”, “uma etapa decisiva e original do cinema moderno”.

A retrospectiva contará ainda com “Jaime”, curta metragem de 1974, além das longas “Ana” (1982) e “Rosa de Areia” (1989), último filme realizado pela dupla dois anos antes da morte de António Reis, uma “peregrinação” descrita como tendo um imaginário mais abstrato e particular na forma.

Em novembro de 2018, o realizador João Pedro Rodrigues disse à Lusa que os filmes da dupla “não envelhecem ou passam de moda”. “O olhar que tiveram sobre aqueles lugares e pessoas é único”, considerou então o realizador de “O Ornitólogo”, à margem de uma retrospetiva dedicada à dupla Reis/Cordeiro, no festival Porto/Post/Doc.

O “olhar quase etnográfico” dos realizadores já levou a outras retrospetivas, como no Harvard Film Archive, em 2012, que incluiu também filmes de realizadores portugueses marcados pela sua obra, mas também em cidades de França e Espanha.

Para João Pedro Rodrigues, o mais importante será “editar os filmes, porque são quase impossíveis de ver”, fora de circuitos dos festivais, missão para a qual pede “empenho estatal” e fundos.

“Devia ser uma coisa prioritária, porque são obras fundamentais do cinema português e até mundial”, afirmou.

Na primeira edição do “Dicionário do Cinema Português”, de Jorge Leitão Ramos, na entrada dedicada a António Reis (e Margarida Cordeiro), lê-se que o cinema do realizador “tem a ambição desmedida da poesia, único critério da sua verdade, do seu vigor”, “sem paralelo” com nada já erguido. São “poemas fílmicos, belíssimos e solidários, majestáticos”. “Dir-se-iam castanheiros…”, conclui, o crítico aludindo às grandes e resistentes árvores dos soutos trasmontanos.

António Reis nasceu em Valadares, Vila Nova de Gaia, em 1927, e morreu em Lisboa, em 1991, enquanto Margarida Cordeiro, que começou a trabalhar com o cineasta e poeta em “Jaime”, nasceu em 1938, em Mogadouro, e trabalhou como médica psiquiatra.

Reis, que também foi poeta, começou como assistente de realização de Manoel de Oliveira, em filmes como “Acto da Primavera” (1962). Depois, como argumentista, escreveu os diálogos de “Mudar de Vida”, de Paulo Rocha. Mais tarde afirmou-se como realizador de documentários e obras de ficção, assumindo um papel importante na vaga do Cinema Novo português, na década de 1960.

Muitas das suas obras foram bem recebidas e premiadas em festivais internacionais, como a curta-metragem documental “Jaime” (1974), prêmio de melhor ‘curta’ no Festival de Locarno.

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