Salva-vidas: Diferentes nacionalidades juntam-se na vigilância das praias em Portugal

Os salva-vidas Matias Barreto (E), argentino de 30 anos, Filipa Santos (C), portuguesa de 21 anos, e Fábio André da Silva (D), cidadão brasileiro de 50 anos, durante um dia de trabalho de vigilância numa praia da Costa de Caparica, em Almada, 01 de junho de 2023. A falta de 'nadadores-salvadores' portugueses para a vigilância das praias tem sido uma dificuldade apontada nos últimos anos e que está a ser colmatada com a contratação de estrangeiros, inicialmente brasileiros mas recentemente também de argentinos. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Da Redação com Lusa

Matias é um dos muitos cidadãos argentinos que este ano vigiam as praias portuguesas embarcando numa aventura “para deixar fluir”, como as águas do mar que observa num país do qual pouco sabia, mas que sonhou um dia conhecer.

“Sou de Buenos Aires, tenho 30 anos e estou em Portugal há um mês para uma temporada de praia compartilhada com portugueses, brasileiros e argentinos”, explicou Matias, em declarações à agência Lusa.

A falta de salva-vidas portugueses para a vigilância das praias tem sido uma dificuldade nos últimos anos, colmatada com a contratação de estrangeiros – primeiro brasileiros, mas recentemente também argentinos.

Matias, que no seu país é chamado de guarda-vidas, é uma dessas recentes contratações, exercendo vigilância na praia da Morena, na Costa da Caparica, no concelho de Almada (distrito de Setúbal), depois de uma formação que permitiu a equivalência do seu título argentino.

É a primeira vez que vem à Europa e, apesar de considerar que o salário é melhor do que aquele que ganha no seu país (cerca de 1.250 euros), deparou-se com um custo de vida elevado, mas que acaba por ser amortecido pela entreajuda entre “companheiros” também eles argentinos com quem compartilha uma casa alugada perto da Costa da Caparica.

A estreia de Matias contrasta com a repetição da experiência de Fábio André da Silva, um cidadão brasileiro de 50 anos que fez a época balnear de 2022 em Portugal e que regressou este ano para mais uma comissão.

“Sou guarda-vidas desde 2005. Trabalhei na época passada em Portugal, retornei ao Brasil, onde fiz a temporada de verão, e agora estou de volta”, explicou.

Fábio é do estado de Santa Catarina, trabalhando lá na praia de Palmas, em Governador Celso Ramos, um município vizinho de Florianópolis onde o mar costuma ser bastante agitado.

Entre este mar (Costa da Caparica) e o outro (no Brasil) o que mais nota de diferente é mesmo a temperatura da água, porque, quanto às dificuldades de salvamento, Fábio, um surfista habituado “a pegar ondas”, considera que são semelhantes.

Igualmente semelhante é o salário que aufere, mas fazer temporadas em Portugal é uma forma de poder trabalhar durante o ano inteiro na área que mais ama.

“Tive outros trabalhos como qualquer cidadão, mas desde 2005 tenho exercido esta profissão porque é muito gratificante. Quando a gente trabalha com o que a gente gosta, com a que a gente ama, com o que nos dá prazer, não há preço”, afirmou.

Ainda sobre as diferenças entre o seu país e Portugal, e sobre a experiência que tem vindo a ter, Fábio assinalou que os apoios de praia deveriam ser melhorados para evitar que os vigilantes estejam tão expostos ao sol, ao vento e à chuva.

Também experiente, apesar dos seus 21 anos, é Filipa Santos, “nadadora-salvadora” portuguesa que partilha o posto de vigia com o argentino Matias. Há quatro anos que optou por preencher as suas férias de verão de estudante por uma temporada de trabalho no socorro aos banhistas.

Filipa é atualmente estudante de mestrado em Gestão, o que lhe permitiu começar a temporada balnear mais cedo. Nos anos anteriores, quando frequentava a licenciatura, o início desta tarefa de verão só era possível a meio de junho.

Há quatro anos que nota um decréscimo do número de portugueses a abraçar esta ocupação de verão.

“No meu primeiro ano éramos maioritariamente portugueses, era raro fazer posto com alguém que não tivesse a mesma nacionalidade do que eu e neste momento estamos apenas três dos que começaram no primeiro ano. Agora nas comunicações de rádio ouve-se mais outras línguas”, disse.

A escassez de profissionais não é exclusiva deste ano. Segundo a Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (FEPONS), a desmotivação, a falta de disponibilidade, a carência de novos materiais e a sazonalidade são alguns dos motivos, além do facto de muitos serem estudantes universitários, só disponíveis para as funções após os exames.

Uma visão partilhada pelo presidente da Federação Portuguesa de Concessionários de Praia, João Carreira, concessionário das praias da Morena e da Sereia, também na Costa da Caparica.

“Quem são os nossos nadadores? A maior parte são estudantes. Estão a tirar os seus cursos e nesta altura começa a época balnear. Este pessoal que vem acaba por ajudar imenso na solução”, disse, acrescentando que a seguir aos exames começam sempre a aparecer mais nadadores.

Os estrangeiros que têm passado pela Costa da Caparica, referiu, são ótimos profissionais e uma mais-valia para o todo o processo de segurança das pessoas nas praias.

Contudo, João Carreira defende que, ainda que os concessionários façam a sua parte, o Estado deveria começar a olhar para o problema de outra forma: os custos são elevados, despendendo cada concessão valores na ordem dos 3.500 a 4.000 euros por mês no pagamento de salários e alimentação.

Portugal conta na época balnear deste ano com 589 praias vigiadas, mais quatro do que em 2022.

Nadador-salvador ou guarda-vidas, nas diferentes línguas que podem ser crescentemente ouvidas nos areais das praias portuguesas, são apenas designações diferentes para uma única missão: socorrer quem precisa.

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