Mundo Lusíada
Com agencias
O saldo das trocas comerciais entre Portugal e o Brasil tem sido desfavorável ao país europeu pelo menos desde 2011, tendo piorado 127% no primeiro semestre deste ano, para uma balança comercial desfavorável em 427,1 milhões de euros.
De acordo com os dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AIECP), as exportações portuguesas para o Brasil diminuíram quase 19% no primeiro semestre do ano, de 335,6 milhões para 272 milhões de euros, enquanto as importações aumentaram 33,5%, passando de 523,8 milhões para quase 700 milhões nos primeiros seis meses deste ano.
A balança comercial entre os dois países tem sido, pelo menos nesta década, sempre favorável ao Brasil, com valores que chegam a um excedente de 879 milhões de euros, em 2011, mas que quase se equilibraram, para 93 milhões em 2013.
Na base deste saldo está essencialmente a estagnação das exportações, que entre 2011 e 2015 aumentaram apenas 0,2%, o que ainda assim é positivo face à diminuição das compras de Portugal ao Brasil, que diminuíram 10,6% nesses anos.
Os produtos agrícolas, veículos e máquinas e aparelhos representam mais de dois terços das vendas de Portugal para o Brasil, enquanto que só o petróleo e a soja são responsáveis por praticamente metade das compras portuguesas ao Brasil.
As trocas comerciais entre Portugal e os países lusófonos aproximaram-se dos 5,5 mil milhões de euros no ano passado, caindo 22% face aos quase 7 mil milhões de 2014, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas.
De acordo com os dados compilados pela Lusa, as trocas comerciais entre Portugal e Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, totalizaram 6,99 mil milhões de euros em 2014, tendo descido para 5,43 mil milhões no ano passado.
Olhando para a balança comercial do ano passado, que mostra o saldo entre as exportações e as importações de Portugal face a estes países, comprava-se que o saldo só foi negativo face ao Brasil e à Guiné Equatorial, mas não o suficiente para influenciar o saldo total, positivo para Portugal em 1,3 mil milhões de euros.
Cimeiras
As questões econômicas, como a cooperação no domínio do emprego, energia e recursos naturais e no combate ao crime transnacional, bem como o intercâmbio acadêmico foram temas abordados nas últimas cimeiras entre Portugal e Brasil.
No dia 01 de novembro, o primeiro-ministro português, António Costa, e o Presidente brasileiro, Michel Temer, reúnem-se na XII cimeira luso-brasileira, no Palácio do Planalto, sede da presidência em Brasília.
O último encontro decorreu em junho de 2013, com a participação da então Presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o primeiro-ministro português na altura, Pedro Passos Coelho, em Lisboa.
Na cimeira, que decorreu na capital portuguesa, em junho de 2013, Lisboa e Brasília acordaram reforçar o combate ao crime organizado transnacional e promover a cooperação bilateral nos domínios da energia e dos recursos naturais.
Com Portugal sob intervenção da ‘troika’, Dilma Rousseff destacou, então, as relações comerciais naquele “momento de crise” para os portugueses, apontando o intercâmbio significativo de empresários entre os dois países, e congratulou o país pelo regresso aos mercados.
Por outro lado, o intercâmbio acadêmico foi referido como um dos aspectos “mais auspiciosos” do relacionamento entre Brasil e Portugal.
Além dos assuntos bilaterais, Passos Coelho e Dilma abordaram temas internacionais, nomeadamente a crise política na Guiné-Bissau, instando as autoridades a preparar “eleições gerais livres, justas e transparentes”, enquanto condenaram “de modo inequívoco toda a violência na Síria”.
Outros temas debatidos, ao longo dos anos, ao mais alto nível entre Lisboa e Brasília, incluíram o investimento, as trocas comerciais, o tráfico de seres humanos, a cultura ou a crise financeira mundial.
Em 2013, a declaração conjunta da XI cimeira Portugal-Brasil apontava a realização de nova conferência de alto nível para 2015, que não chegou a concretizar-se.
A esse propósito, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, destacou que “o mais importante na cimeira bilateral é ela realizar-se”.
“Há aqui uma normalização de calendário que é muito importante”, disse o governante português à agência Lusa.
O governante desdramatizou este intervalo e afirmou que as razões “são compreensíveis”, lembrando que houve eleições em Portugal e “depois, houve um processo institucional” no Brasil, com a destituição da anterior Presidente, Dilma Rousseff.
No encontro de terça-feira, António Costa e Michel Temer terão oportunidade de “fazerem uma passagem em revista sistemática das pastas da cooperação recíproca”, algo que, segundo o chefe da diplomacia portuguesa, é “muito necessário”.