RS com um milhão de descendentes de açorianos orgulhosos dos antepassados

Por Ana Cristina Gomes, da Agência Lusa 

Bailam o Pezinho, cantam as Ilhas de Bruma, identificam-se com “o jeito de ser” açoriano. No Rio Grande do Sul, Brasil, haverá um milhão de descendentes de açorianos orgulhosos dos antepassados que povoaram a região há 270 anos.

“A dança foi o meu canal de entrada para o universo açoriano. O Pézinho (música tradicional açoriana e gaúcha) é dançado nas escolas. Quando fui apresentada ao Rancho Folclórico da Casa dos Açores despertei para aquele universo. Foi por essência, por identificação, por me reconhecer na cultura”, explica Viviane Peixoto Hunter, advogada de 46 anos, presidente da Casa dos Açores de Rio Grande do Sul, que recebeu a comitiva do Governo dos Açores em visita oficial ao Brasil para celebrar o aniversário do povoamento açoriano.

Quando Viviane se apaixonou pelos Açores, desconhecia ser descendente de açorianos, mas identificou-se com “um povo muito acolhedor, carismático, sentimental, aguerrido, desbravador, corajoso”. A característica com que mais se identifica é “a perseverança”, porque não dá para esquecer a viagem de meses pelo oceano Atlântico, de barco, feita pelos 60 casais açorianos que povoaram Porto Alegre há 250 anos, numa viagem que, de avião, demora agora mais de dez horas.

Casado com uma açoriana da ilha Terceira, Regis Marques Gomes, de 60 anos, conselheiro da Diáspora Açoriana no estado do Rio Grande do Sul, é bisneto de Manuel Marques Gomes, o da majestosa quinta construída em Vila Nova de Gaia, no Norte do continente português, e tem “raiz açoriana do lado da mãe” e o “pentavô, da família Alves” terá feito parte do grupo dos primeiros 60 casais a desembarcar em Porto Alegre.

“A curiosidade pela ascendência açoriana começa com a autonomia dos Açores. O Governo começou a valorizar as suas comunidades e, quando os descendentes de açorianos começaram a ir ao arquipélago, encontraram as semelhanças, na culinária, na arquitetura e no jeito de ser, acolhedor”, explicou, em declarações à Lusa.

Quando visitam os Açores, os gaúchos pensam: “parece a minha família, parece a minha avó”, acrescenta. “Daí o interesse pela genealogia, para ir à procura da história, das raízes”.

Foi há 30 anos, quando foi aos Açores pela primeira vez, que Regis Marques Gomes começou a “entender as origens”.

“Quando vejo o Pezinho e a Chamarrita (músicas tradicionais açorianas e gaúchas) vejo que é longe, mas é perto”, afirma.

Numa das viagens aos Açores, em 1994, com o grupo de dança para participar num festival, Carla Cedros Fernandes, da ilha Terceira, era a guia. Dois anos depois casaram. Ela tem agora, em Porto Alegre, a empresa de delícias açorianas Toque Açoriano.

O vice-prefeito municipal de Porto Alegre, Ricardo Gomes, há de ir aos Açores este ano, no âmbito do convite feito pelo Governo açoriano durante a visita, mas sabe já que o trisavô era do arquipélago.

Ainda sem conhecer Portugal, Ricardo Gomes considera que Porto Alegre, para além de algumas “parecenças arquitetônicas” com os Açores, tem “alguns hábitos de pequenas cidades”, mesmo com um milhão e meio de habitantes: “os piqueniques, os mercados de esquina, o pequeno comércio, o jantar cedo”.

Flávio Canto Wunderlich, diretor do Núcleo Açoriano de Rio Pardo, também no estado de Rio Grande do Sul, tem 45 anos e é um dos 15 representantes da comissão estadual das celebrações dos 250 anos de Porto Alegre.

Ainda tem parentes em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e o avô, de 97 anos ainda é vivo.

“Sou descendente de famílias de São Miguel. O meu tetravô foi uma das cerca de 300 pessoas que compunham o grupo dos primeiros 60 casais que chegaram a Porto Alegre em 1752”, descreve.

O interesse pela ascendência açoriana “começou há bastante tempo”, pois a família “sempre manteve vínculos com as ilhas.

“Buscamos manter os costumes na gastronomia, religiosidade e valores familiares”, refere.

Entre as características dos açorianos, aprecia particularmente “a hospitalidade, o estar sempre aberto a um abraço amigo, a uma nova amizade, a bem receber um familiar, e sentar à mesa com toda família, numa refeição demorada”.

José Andrade, diretor regional das Comunidades dos Açores, esclareceu à Lusa que “seriam seis mil os casais que chegaram a Florianópolis”, no estado brasileiro de Santa Catarina e que, depois, se espalharam.

“Segundo dados do vice-consulado de Portugal em Porto Alegre, serão atualmente um milhão de descendentes só no estado de Rio Grande do Sul. Descendentes de décima e 12.ª geração. Açorianos nascidos em Portugal serão quatro”, disse.

Muitos destes descendentes “nunca foram aos Açores, mas assumem-se como açorianos”.

“Gostam de fazer estudos de genealogia. Não só querem saber se são açorianos, mas de que ilha são originários. É fascinante, contagiante, até”, sublinhou.

O presidente do município de Porto Alegre aceitou esta semana o convite do Governo Regional dos Açores para visitar o arquipélago e completar as celebrações dos 250 anos da “maior cidade açoriana do mundo”, como lhe chamou o secretário Regional da Agricultura, António Ventura.

Ventura substitui, nesta visita, o presidente do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, José Manuel Bolieiro, que ficou nos Açores por causa da crise sísmica na ilha de São Jorge, e o vice-presidente do Governo, Artur Lima, que por motivos de saúde não o pode substituir.

Da comitiva açoriana no Brasil fazem parte o diretor regional das Comunidades, o líder da bancada do PSD na Assembleia Legislativa dos Açores, João Bruto da Costa, o deputado do PS e vice-presidente da Assembleia Legislativa, João Vasco Costa, e os deputados do PPM e do Chega, Paulo Estêvão e José Pacheco, respectivamente.

Viajaram também os presidentes das câmaras da Ribeira Grande, em São Miguel, e da Horta, no Faial, por serem cidades geminadas com Porto Alegre.

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