Retribuir as Gentilezas

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Os “pequenos-grandes” sinais dos verdadeiros amigos (daqueles que nos são solidários; nos têm sincera e carinhosa amizade; nos são leais e estão incondicionalmente do nosso lado), que se podem receber ao longo da existência terrena, também se revelam em momentos, datas e períodos importantes da vida: um simples telefonema, um e-mail, um “bilhetinho”, uma carta, um singela flor do campo, uma prendinha, um abraço afetuoso, um beijo terno, de verdadeiro “Amor-de-Amigo”, enfim, um gesto de consideração, de estima, de simpatia, que faz toda a diferença, entre quem é conhecido, colega, ou amigo muito especial.
É extremamente difícil, se não mesmo impossível, suportar a indiferença, a rejeição, o esquecimento. A dor é tanto mais profunda e o desgosto tanto mais intenso e duradouro, quanto mais nós gostamos das pessoas que nos ignoram. Abrem-se “feridas” que ficam a “sangrar” durante muito tempo, e que mesmo que se “curem”, a “cicatriz” da mágoa, vai permanecer para o resto da vida. É uma provação que não se pode desejar aos nossos maiores inimigos.
Ao longo da vida, vamos experienciando de tudo um pouco: desde a amizade sincera, de um ou outro amigo, verdadeiramente solidário, leal, apoiante, cúmplice e grato; também surgem aquelas outras pessoas que, num dado momento, parecem realmente nossas amigas mas que, mais tarde, quando já não lhes servimos para mais nada, nos desprezam e, eventualmente até nos criam um ambiente de insuportável desconforto social, moral e pessoal para, finalmente, convivermos com aquelas que por nós nunca nutriram qualquer tipo de simpatia, amizade ou um sentimento específico.
As relações humanas, de facto, são muito complexas, porque: não existem duas pessoas exatamente iguais; cada pessoa tem os seus princípios, valores, sentimentos e emoções, que as levam a reagir de formas diferentes; subsistem, também as culturas: nacionais, regionais e locais, as microculturas; a educação e formação, quer ao nível das famílias, quer a que é adquirida em contexto escolar.
Igualmente, são diferentes: a atividade profissional, o estatuto dela resultante e o que através destes dois instrumentos se consegue, determinam um posicionamento na sociedade que abre, ou reduz, o leque de influências; as preferências religiosas, políticas e clubísticas, que envolvem autênticas massas humanas, quando se realizam eventos, com elas relacionados, colocam os seus aderentes em sintonia e solidariedade, ou em divergência e conflito, cujas consequências nunca se sabe quais serão.
Por isso, em cada etapa da nossa vida, é da mais elementar coerência fazermos um balanço retrospetivo e uma antevisão do que desejamos para nós, para a nossa família, para os nossos verdadeiros amigos e para a sociedade, cabendo-nos, em relação ao passado: a) retirar as ilações de tudo o que de bom e de mal foi feito; b) refletirmos no presente, todavia, este sempre em movimento para o futuro; c) o que deveremos projetar, por forma a conseguirmos viver numa sociedade mais humana, mais tolerante, mais justa, no respeito pelas opções e dignidade da pessoa humana que connosco, afinal, continuará a conviver.
Caminhando nós para o “fim da linha da vida física”, haverá para os crentes, uma possibilidade de esperança, numa outra dimensão, a espiritual, para a qual nos poderemos, e deveremos, preparar nesta vida terrena, através da prática das virtudes que são exclusivas do ser humano, pelo menos tanto quanto se pode saber. Há, portanto, um outro projeto a preparar, um outro rumo a seguir.
Tudo o que aqui fizermos, poderá, então, refletir-se nesse outro projeto, beneficiar a caminhada num rumo bem melhor. Os crentes, os praticantes, devem ser os primeiros a dar estes bons exemplos. Neste caminho para o transcendental, há virtudes que importa, rapidamente, tentar exercer e, nesse sentido, podem transcrever-se algumas que se tornam fundamentais para a nossa boa convivência neste rápido percurso existencial:
1ª) «A Benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são a manifestação. Entretanto, não é preciso fiar-se sempre nas aparências; a educação e o hábito do mundo podem dar o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não é senão máscara para o exterior, uma roupagem cuja forma premeditada esconde as deformidades ocultas! O mundo está cheio dessas pessoas que têm o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são brandas contanto que nada as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua dourada, quando falam face a face, se transmuda em dardo envenenado, quando estão por detrás.» (KARDEC, 2010:127-27).
2ª) «A Misericórdia é complemento da doçura, porque aquele que não é misericordioso não saberia ser brando e pacífico; ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação, sem grandeza; o esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada; que está acima dos insultos que se lhe pode dirigir; uma é sempre ansiosa, de uma suscetibilidade desconfiada e cheia de fel; a outra é calma, cheia de mansuetude e de caridade.» (Ibid.:132).
3ª) «A indulgência não se ocupa jamais com os atos maus de outrem, a menos que isso seja para servir, e tem ainda o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem censura nos lábios, mas somente conselhos, o mais frequentemente velados.» (Ibid.:139).
4ª) «A Caridade é a virtude fundamental que deve sustentar todo o edifício das virtudes terrestres; sem ela, as outras não existem. Sem a caridade não há esperança num futuro melhor, nem interesse moral que nos guie; sem a caridade não há fé, porque a fé não é senão um raio puro que faz brilhar uma alma caridosa.» (Ibid.:178).
Praticar tais virtudes, entre muitas outras, independentemente de sermos, ou não, crentes, parece o comportamento ideal nos tempos tão conturbados que o mundo em geral atravessa, a sociedade portuguesa, em particular, está a viver e, muito especialmente, as atitudes exacerbadas, difamatórias e ofensivas à honra e bom nome das pessoas que, em pequenas comunidades locais, se fazem sentir. É importante que se passe das palavras, das boas intenções aos atos, porque assim todos seremos credibilizados nas nossas múltiplas atividades.

Bibliografia

KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Tradução, de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.

Coletivo

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes.
As “benditas” vacinas começaram a chegar. CALMA. Já se vê a luz ao fundo do túnel
Acreditemos nos Investigadores, na Ciência, na tecnologia e instrumentos complementares.
Agradeçamos, a quem, de alguma forma, está a colaborar na luta contra a pandemia, designadamente o “Pessoal da Linha da Frente”
Estamos todos de passagem, e no mesmo barco. Aclamemos a VIDA com Esperança, Fé, Amor e Felicidade. Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros.
Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música. https://youtu.be/rgKKtfjb-dE

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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