Mundo Lusíada
Com agencias
De acordo com dados divulgados pelo Banco de Portugal, as remessas de emigrantes para Portugal cresceram 13% no ano passado, para 2,75 bilhões de euros, o valor mais alto da última década.
Em 21 de fevereiro, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, considerou que o crescimento de 13% nas remessas dos emigrantes traduz “confiança” no sistema financeiro e “uma grande vontade” das comunidades de ajudarem Portugal.
Para o Bloco de Esquerda, o aumento das remessas dos emigrantes não traduz confiança no sistema financeiro mas é antes uma consequência objetiva da situação do país, segundo Helena Pinto, deputada do BE.
“As declarações do secretário de Estado das Comunidades são profundamente lamentáveis. Não se trata de confiança no sistema financeiro, antes uma consequência objetiva da situação a que o país chegou e que obriga milhares de pessoas a deixarem o seu país para conseguirem emprego e ajudarem as suas famílias”, afirmou.
Também o deputado socialista pela emigração Paulo Pisco, afirmou que os dados divulgados são “um sério sinal de alarme sobre a situação econômica e social do país”. “Onde o governo vê um sinal de confiança no sistema bancário pelos portugueses que tiveram de emigrar para ajudar o país, o que vemos é sobretudo um sinal de desespero, indicia que os portugueses estão a enviar as suas remessas para pagar compromissos que deixaram no país”, disse. “Deixa de ser um país compensador onde as pessoas querem instalar-se e viver” e isso “é outro sinal preocupante”, disse o deputado socialista.
João Ramos, deputado do PCP, rejeita uma “consonância” das comunidades com a política do governo. “Estão solidárias, mas uma parte das remessas é a necessidade que os portugueses emigrados sentem de apoiar as necessidades de famílias em Portugal”, disse à Lusa. Para Ramos, as condições em que hoje saem muitos emigrantes são “muitas vezes piores do que na década 1960”, quer se trate de jovens formados, quer dos “muitos que continuam a sair com poucas qualificações”, nomeadamente para a área da construção, com salários baixos e condições de trabalho difíceis.
Os dados mostram também aumento relevante de remessas de alguns países que tradicionalmente não são destino de emigração, como a Itália ou Holanda, e dos países de expressão portuguesa, sobretudo Angola.
Mais de metade das remessas continua a chegar de emigrantes em países da União Europeia, cerca de 1,51 bilhões de euros, e deste valor mais de metade chega por sua vez de França, com 846,1 milhões de euros.
As remessas da Alemanha, terceira maior origem entre os países europeus, escalaram de 113,4 milhões de euros para 172,9 milhões, enquanto de Espanha, outro destino da emigração recente portuguesa, foram enviados para o país de origem 129,9 milhões de euros, muito a cima dos 88,4 milhões do ano anterior.
Outros destinos tradicionais de emigração, como os Estados Unidos e a Suíça, segunda maior origem de remessas, com 697,3 milhões de euros, registraram ligeiros aumentos.