Por Humberto Pinho da Silva
Em 1645, anos depois dos conjurados terem libertado a Pátria do jugo espanhol, no sermão: “ Pelo Bom Sucesso das Nossas Armas”, Padre António Vieira pregava deste jeito:
“Todos nos cansamos de guardar Portugal dos castelhanos, e devêramos nos cansar mais em guardar de nós. Guardemos o nosso Reino de nós, que nós somos os que lhe fazemos a maior guerra”.
E inflamado, prosseguiu: “Cuidemos que a justiça divina não tem mais que um castigo: sete vezes libertou Deus o povo de Israel no tempo dos Juízes, e sete vezes reincidiram em seus pecados. Oh Portugal que o não temo de Castela, senão de Ti mesmo!”
Se o eloquente sermão fosse proferido agora, certamente diria o Padre António Vieira: Que Portugal, não temia Castela, nem União Europeia, nem FMI, mas a sórdida aleivosia de seus filhos.
Com a mutilação do Império, sem salvaguardarem vidas e bens. Com o desbaratar do Tesouro, que guardava ainda o oiro do Brasil. Com pecaminosas afrontas aos que O engrandeceram, Portugal entregou-se a ódios, invejas e vinganças.
Sanearam uns; enriqueceram outros. “Apunhalaram” patriotas de diferentes ideologias; cavando profundos sulcos, que o tempo e a democracia, não conseguiram, ainda, apagar.
Inundaram a Nação de toda a casta de torpezas, assegurando que o destempero era: progresso, cultura, abertura a amplas liberdades.
E o povo sofria… mormente os “ retornados”, espoliados de bens, como se não fossem portugueses; como se Portugal não fosse uno e multirracial.
No Império, cedo ou tarde, haveria implosão – eram os ventos da História; mas não era necessário lançar milhões na penúria e outros em guerras fratricidas.
Asseveraram que Portugal tinha o apoio da Europa e do mundo, se assim fizesse. Do mundo não sei, da Europa por certo teve.
Não souberam aproveitar. Endividaram-se, gastando mais que produziam, e caíram, de crise em crise, até à colossal divida, que, só Deus sabe, quando será paga.
Ao comemorarem o Dia de Portugal ou de Camões, como queiram, espero que não se esqueçam dos que partiram para terras estranhas.
Porque encontra-se muito mais amor, muito mais altruísmo, muita mais devoção e carinho à Pátria, no seio das comunidades portuguesas, no estrangeiro, que inflamadas intervenções, proferidas por alguns políticos.
Em Lisboa, nem sempre quem discursa ou comenta na mass-media fá-lo por amor, mas por interesse próprio ou do partido, que o serve. Pretende-se, muitas vezes, ser servido e não servir.
Mas quem conhece as comunidades portuguesas, espalhadas pelo mundo, sabe, que ai, há entranhado carinho pela Pátria, pela cidade, pela aldeia, pelo torrão, que os viu nascer.
Basta frequentar as associações ou ler a imprensa, que elas editam, para constatar a diferença.
É que uns falam o que o coração lhes diz; e outros, calam o que o coração lhes devia dizer.
Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal