Reeleição: Guterres presta juramento na ONU como “multilateralista devoto e português orgulhoso”

Antonio Guterres. UN Photo/Mark Garten

Da redação com Lusa

Neste dia 18, António Guterres tomou posse para um segundo mandato como secretário-geral da Organização das Nações Unidas, declarando-se um “multilateralista devoto” e “português orgulhoso” e voltou a pedir distribuição de vacinas contra a covid-19 como “prioridade mundial absoluta”.

António Guterres, que prestou juramento pela segunda vez em cinco anos à frente de uma organização com 193 Estados-membros, em Nova Iorque, admitiu que existem “tarefas colossais” a que o mundo deve responder unido, com destaque para a prevenção de conflitos e preparação da segurança social em caso de futuras pandemias.

Expressando gratidão a Portugal pela renomeação, o secretário-geral declarou-se um “multilateralista devoto, mas também português orgulhoso”, num discurso que proferiu em três línguas – inglês, francês e espanhol – na Assembleia-Geral da ONU.

“Tudo o que aprendi e me tornei” foi resultado do trabalho “em conjunto” com o povo português, disse o antigo primeiro-ministro, agradecendo ainda a presença do Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve na assistência para este momento solene.

Ainda assim, na sua função à frente da ONU, Guterres sublinhou que vai servir igualmente a todos os 193 Estados-membros, como mediador e “construtor de pontes” para um multilateralismo que quer ver reforçado.

O secretário-geral da ONU voltou a pedir vacinas contra a covid-19 como “prioridade mundial absoluta” e defendeu um sistema socioeconômico mundial mais equitativo, solidário e igualitário e “recuperação justa, verde e sustentável”.

“Estima-se que 114 milhões de empregos foram perdidos, mais de 55 por cento da população mundial ficou sem qualquer forma de proteção social e, pela primeira vez em vinte anos, a pobreza está a aumentar, com entre 119 e 124 milhões de pessoas caídas na pobreza extrema em 2020”, declarou Guterres sobre a pandemia de covid-19, um dos mais graves desafios para a ONU em 75 anos de história.

O político e diplomata chamou a atenção para o sofrimento das mulheres em todo o mundo, que terão sido as mais afetadas nesta crise e apelou para uma maior participação dos jovens, das mulheres e sociedade civil em processos de tomada de decisão em todo o mundo, principalmente em defesa da igualdade de gênero.

António Guterres defendeu como prioridades para o “sistema internacional” a “prevenção e preparação” frente aos grandes desafios mundiais que são “a evolução da natureza dos conflitos e a probabilidade de futuras pandemias e outros riscos existenciais”.

As mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição ambiental são outros dos desafios globais, segundo o antigo Alto-Comissário da ONU para Refugiados, ao lado do “declínio dos direitos humanos, falta de regulamentação no ciberespaço e uma divisão digital crescente”.

No sistema mundial pré-pandémico, o secretário-geral quis reconhecer “pontos positivos” como o avanço tecnológico que permitiu o teletrabalho para grande parte da população e que não teria sido possível há 10 anos.

António Guterres mostrou ainda confiança na importância da organização que lidera, por ter conseguido um consenso multilateral para “reformas nas áreas de desenvolvimento, gestão, paz e segurança” e por um certo “ímpeto para algumas das transformações mais profundas”.

Elogio de Portugal

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou Guterres e elogiou o seu empenho no multilateralismo.

Na intervenção perante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o antigo primeiro-ministro português “provou ser a pessoa certa, na altura certa” para liderar a ONU.

“A confiança que hoje, uma vez mais, depositaram nele é uma prova sólida”, afirmou o chefe de Estado, num discurso feito em inglês, em que fez questão, contudo, de saudar António Guterres em português, com “calorosas felicitações”, pela sua nomeação para mais cinco anos à frente da ONU, do início de 2022 até ao fim 2026.

Neste discurso transmitido em direto pelas Nações Unidas através da Internet, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou “o empenho destemido” de António Guterres “num multilateralismo eficaz e eficiente” e considerou que este atributo “é complementado por algo talvez mais raro e mais precioso: ele é um multilateralista compassivo”.

“Para ele, colocar as pessoas no centro da sua ação não é apenas uma escolha, é um imperativo. Ele continua a tradição dos seus ilustres antecessores que encarnaram o espírito da Carta [das Nações Unidas]: conduzir as Nações Unidas ao serviço de ‘nós, os povos'”, declarou o Presidente da República, referindo que conhece António Guterres “há 55 anos”.

O chefe de Estado recordou que os dois estiveram “em lutas comuns” – na juventude fizeram parte de movimentos e grupos da Igreja Católica e integraram juntos a associação Sedes – e “depois em posições opostas, primeiro-ministro e líder da oposição”, na década de 1990, quando António Guterres liderou o PS e Marcelo Rebelo de Sousa o PSD.

E realçou que, no plano internacional, todos o conhecem dos seus anos como Alto Comissário para os Refugiados das Nações Unidas e do seu primeiro mandato como secretário-geral da ONU.

Sobre a atuação de Guterres à frente da ONU desde o início de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa destacou as “reformas nas áreas do desenvolvimento sustentável, paz e segurança e gestão”, e disse que “a representação das mulheres avançou, através de uma ousada estratégia de paridade de gênero, que já produziu resultados, inclusive a nível sénior”.

“Os direitos humanos foram mais incorporados na ação da organização, em conformidade com o ‘Apelo à Ação’ do secretário-geral. A voz da juventude foi fortalecida. O imenso desafio da pandemia foi enfrentado de frente e foi exigido um cessar-fogo global. O seu forte apelo à vacinação dos povos de todos os países, nomeadamente os mais pobres, foi constante. E, não menos importante, o secretário-geral tem sido uma voz de liderança na ação climática”, apontou.

Segundo o Presidente da República, “Portugal decidiu submeter o seu nome para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas”, uma segunda vez, por ter “a forte convicção de que António Guterres é particularmente adequado para o cargo e tem estado à altura das expectativas”.

“Acreditamos que a visão de António Guterres, a sua persistência, a sua audácia, a sua justiça e o seu espírito solidário serão também fundamentais nos próximos cinco anos. Portugal está grato a todas as Nações aqui unidas, hoje, por reafirmarem a sua confiança no candidato que apresentamos”, acrescentou.

De acordo com o chefe de Estado, “ninguém poderia ter previsto, há cinco anos, a escala exata dos desafios que o mundo e as Nações Unidas teriam de enfrentar” e António Guterres esteve à altura dessas circunstâncias exigentes.

No seu entender, agora as Nações Unidas defrontam “tempos de ainda maior incerteza” e todos devem saber que ninguém pode “enfrentá-los sozinhos” e que não se pode “deixar ninguém para trás”.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou o seu discurso enaltecendo o “trabalho notável” desta organização e indicou a recondução de António Guterres como um sinal de esperança: “Um exemplo de que podemos unir-nos, podemos ultrapassar diferenças, podemos concordar e promover o consenso, podemos unir-nos para servir os nossos povos”.

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