Quem teve a oportunidade de acompanhar as históricas Conversas em Família, que Marcelo Caetano criou para se dirigir aos portugueses antes da Revolução de 25 de Abril, terá tido a oportunidade de, numa delas, ouvir, sensivelmente, estas palavras: sem o Ultramar, Portugal ficaria reduzido a uma província da Europa.
Tive já a oportunidade de referir este episódio há uns meses atrás, mas o mesmo voltou agora ao meu pensamento, na sequência das palavras recentes do académico, Luciano Amaral, professor de História Económica e autor da obra, ECONOMIA. As Últimas Décadas, e que foi subsidiada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.Ora, este académico, certamente ligado, seja do modo que for, ao PSD, proferiu, há dias, uma palestra, digamos assim, na dita universidade de Verão daquele partido.
Nessa palestra, e nos termos do que foi noticiado, terá referido que Portugal está a passar de país endividado a país subsidiado, estando já hoje reduzido a uma região de um hipotético grande Estado Nacional Europeu. Bom, é a realidade.
Simplesmente, esta é também a realidade a que Marcelo Caetano se referiu nessa sua Conversa em Família, e que os designados intelectuais do tempo – e de todos os quadrantes – sempre contestaram.
Sempre que se falava da impossibilidade de Portugal subsistir capazmente sem o Ultramar, de pronto nos surgiam os referidos intelectuais, com especial ênfase para a classe dos economistas, então em ascensão – os antecessores de Luciano Amaral, portanto –, a citarem os exemplos dos restantes países que haviam abandonado os territórios que possuíam fora da Europa, mas sempre sem conseguirem compreender que os povos são diferentes uns dos outros, tal como as sociedades que foram organizando. Viviam de sonhos sem consubstanciação histórica.
Mas Luciano Amaral disse mais, nessa sua intervenção: que a Alemanha até aceita a presença portuguesa na zona do euro, mas com a contrapartida do direito de opinar – condicionar, claro está – sobre a estrutura do orçamento do nosso Estado. E quem diz do nosso, diz dos de vários outros.
Não deixo de ficar espantado com a facilidade com que se reconhece e fala destas lamentáveis realidades nos dias que passam, e como se continua a perseverar em apontar Salazar como um maroto – no mínimo, claro –, quando ele mesmo se determinou a recusar as condições humilhantes – como estas de agora – que a Sociedade das Nações nos exigia para conceder um empréstimo essencial. Como é curta a memória, sobretudo, quando convém, e como valores como dignidade e independência nacional são hoje atirados para o caixote das velharias históricas pelas nossas ditas elites intelectuais. Da esquerda e da direita.
Tal como Fidel Castro há dias referiu sobre o modo como encontrou o Mundo depois da sua doença quase mortal, também eu penso que se Salazar ou Marcelo Caetano hoje ressuscitassem, não se limitariam a pensar que o Mundo teria enlouquecido, porque seriam eles mesmo a enlouquecer e a morrer de susto. Não tinham, claro está, estrutura moral que lhes permitisse sobreviver à regra de ouro dos dias que passam, e que é a do vale tudo.
Hélio Bernardo Lopes
De Portugal