Receber brasileiros e outros imigrantes “não é um favor, precisamos deles”

João Morgado, vice-presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras e presidente da Casa do Brasil, e Nelson Silva, presidente da direção da Mutualista Covilhanense. Foto Igor Lopes

João Morgado assina protocolo que visa auxiliar brasileiros em Portugal, e salienta que o país precisa de 75 mil novos imigrantes por ano.

 

Por Igor Lopes

João Morgado, que é também escritor, vice-presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras e presidente da Casa do Brasil – Terras de Cabral, assinou no dia 5 de março um protocolo entre a Casa do Brasil e a Associação de Socorros Mútuos Mutualista Covilhanense, localizada na Covilhã, região da Cova da Beira, em Portugal, no sentido de partilhar e dinamizar o Balcão do Migrante, serviço disponível no Departamento de Migrações, Integração, Cidadania e Impacto Social, uma das mais recentes valências desta instituição portuguesa.

“Há muitas e diferentes guerras”, defendeu João Morgado.

“Umas são feitas com exércitos, outras com gangues de rua, com criminalidade, outras com depressões e instabilidades econômicas… cada um sabe aquilo que o levou a fazer as malas, a separar-se da família e a rumar a outro país. São decisões difíceis, por isso, cada um sabe da sua guerra… os brasileiros sabem das suas”, reforçou Morgado, que é português.

Citando números do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal, o presidente da Casa do Brasil disse que, em 2021, existiam 210 mil brasileiros a morar legalmente em Portugal. “Chegaram, não para retirarem emprego aos portugueses”, sublinhou, “mas para dar vitalidade a um país envelhecido”, completou.

“Sim, é preciso travar a saída de jovens. Sim, é preciso ajudar as famílias portuguesas a terem condições para aumentar a natalidade. Mas, ainda assim, seremos um povo envelhecido, e estaremos deficitários em população ativa”, adiantou.

João Morgado apresentou mesmo as conclusões de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que diz: “que para manter a atual população ativa, Portugal precisa de 75 mil novos imigrantes adultos por ano – o que ainda está longe de acontecer”.

Assim que, defendeu, “receber emigrantes brasileiros – e outros -, não é um favor, pois está provado que precisamos deles. E é uma forma de honrar todas as gerações de portugueses que em tempo foram para o Brasil e aí puderam também reconstruir as suas vidas e encontrar uma nova pátria”.

Para mais, sublinhou o presidente da Casa do Brasil, “o perfil dos emigrantes mudou nos últimos anos”.

“Mais do que a necessidade de sobrevivência básica, hoje muitos dos imigrantes brasileiros chegam até nós com estudos, com a vida estruturada, com capacidade de integrar o ensino e a investigação, com capacidade empreendedora para montar empresas e desenvolver negócios. Além do mais, são uma comunidade que na sua grande maioria, se apresenta pacífica, com boa capacidade de integração a que não é alheio, a língua em comum e uma cultura há muito partilhada”, atestou Morgado.

O evento contou com a presença de várias entidades como o SEF, Polícia de Segurança Pública (PSP), Guarda Nacional Republicana (GNR), Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Casa do Pessoal da UBI, Lions da Cova da Beira, entre outros convidados.

João Morgado aproveitou o momento para pedir a colaboração do público com o Balcão do Migrante e para lançar um apelo.

“Este não é um trabalho fácil. Tudo o que envolve a natureza humana confronta-nos com o bom e com o mau das pessoas. Vocês, melhor que ninguém, sabem isso. Mas, não deixemos que os erros de alguns prejudiquem a limpeza de alma com que outros chegam até nós”, defendeu Morgado.

Nelson Silva, presidente da direção da Mutualista Covilhanense, mostrou a disponibilidade do Balcão do Migrante para estar ao serviço da sociedade e apoiar casos de emergência, como, por exemplo, refugiados da Ucrânia, e sublinhou a ação social e de solidariedade que tem sido apanágio da Mutualista.

Este responsável recordou que o Balcão do Migrante é fruto de uma candidatura da Mutualista Covilhanense, aprovada pelo FAMI – Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração, com o apoio do ACM – Alto Comissariado para as Migrações, e garante apoio documental, jurídico, social e cultural aos migrantes na Cova da Beira. Neste espaço, existe também ponto de informação sobre o programa Regressar, do Ministério dos Negócios Estrangeiros; o programa ARVoRE VIII, da Organização Internacional para as Migrações; e integra a rede CLAIM (Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes). Após a assinatura deste protocolo, o local é também Centro de Atendimento da Casa do Brasil.

Por seu turno, Acácio Pereira, presidente do Sindicato dos trabalhadores do SEF, destacou que os “emigrantes não constituem perigo para a sociedade de acolhimento, não se tendo registado aumento de criminalidade. E, numa cidade como a Covilhã, um Balcão como este pode fazer a diferença na hora de acolher e dar aconchego a quem vem de fora”.

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