Por Odair Sene
O ponto alto da digressão do Verde Gaio à Argentina foi a mega festa realizada na sede da bela Casa de Portugal Virgem de Fátima, localizada em La Plata, onde a entidade preparou perto de 500 quilos de frango assado e mais 200 quilos de sardinhas, para cerca de 800 convidados num grande almoço.
Dizendo estar “muito feliz” com a visita dos brasileiros, o presidente Fernando da Costa disse que o convívio foi agradável e referiu que vem também pessoas de outros países (periodicamente) na casa para confraternizar com eles. O presidente justificou tanta gente presente no evento, dizendo que as pessoas vem das cidades próximas e assim se juntam muitos, mas ressaltou o trabalho da sua diretoria.
A entidade se mantém exatamente com as festas que realiza mensalmente, tendo como atrativo justamente a exibição do seu folclore, e claro, dos grupos que visitam a casa.
Fernando da Costa, assim como a maioria, é nascido na Argentina, seu pai veio de Portugal na década de 1930, do concelho de Mangualde que faz parte do Distrito de Viseu, se estabeleceu em Argentina onde o atual presidente nasceu no ano de 1942. Hoje ele dirige a entidade com sua esposa Maria Conceição, portuguesa nata e 36 integrantes da diretoria e disse ter ficado muito feliz com os visitantes do Brasil.
O diretor do Centro Cultural, Eduardo Alves, que é um dos coordenadores e voz ativa no Rancho, fez referências a esta troca de experiências com o grupo Raízes de Portugal. “É uma experiência magnífica porque você vai para outro país, são línguas diferentes, mas todos cultivamos a cultura portuguesa, apesar de termos as mesmas origens, acabamos notando detalhes diferentes neles, e eles em nós, essa troca de experiência é muito interessante”, disse ele que esteve pela primeira vez no país irmão e elogiou muito tudo que viu.
“Apesar das dificuldades econômicas por que o país atravessa, notamos sempre um sorriso no rosto do povo argentino, que aliás, nos trataram muito bem, todos muito educados, e isso tudo é um aprendizado, enfim, é um povo muito sofrido, mas muito acolhedor”, falou. Essa troca cultural para o diretor, deve enriquecer os dois lados. “São trocas de experiências maravilhosas que só vão agregar para as nossas comunidades”, referiu.
Para o diretor Vasco Monteiro, que é um grande incentivador deste tipo de intercâmbio, esses programas são de extrema importância, revelando que há incentivo governamental inclusive. “Sim existe e é importante. A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, ajuda muito neste sentido, tem uma verba especial para apoiar a promoção da cultura portuguesa, inclusive para os grupos folclóricos”.
Há, claro algumas exigências a serem cumpridas, apresentar um projeto serio, com legalidade e com consistência. Como teve no ano passado, no Centro Cultural Português de Santos, para promoção de vários eventos culturais de origem portuguesa realizados pela entidade. “Hoje, como se sabe, já não tem mais emigração portuguesa para o Brasil, aliás tem ao contrário, muitos portugueses e brasileiros estão indo para Portugal. E se nós não mantermos nossa cultura através dos grupos, como também dos artistas portugueses, e dos espetáculos portugueses fora de Portugal, vai diminuir cada vez mais o interesse das pessoas nesta cultura portuguesa, então tudo que se pode comprovar na realização desses projetos, como a reportagem do Mundo Lusíada, por exemplo, que tem feito um trabalho realmente muito bom, principalmente na baixada santista, bem como São Paulo, e através do jornal as pessoas ficam sabendo da cultura portuguesa e esta reportagem na Argentina é muito importante para dar conhecimento à Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, bem como nós do Conselho das Comunidades, tanto eu quando o José Duarte, temos também por obrigação, procurar dar incentivo neste sentido”, disse Vasco Monteiro valorizando a cobertura da comunicação social na viagem, o que, segundo ele, até serve para provar a seriedade do projeto realizado.
RECEPÇÃO NA EMBAIXADA – Conforme a conselheira do CCP, Maria Violante Mendes Martins, a comunidade portuguesa na Argentina está muito bem estruturada com cerca de 20 mil inscritos, “mas temos uns 40 mil entre inscritos e descendentes, que muitas vezes nem tratam de fazer sua documentação, mas devemos sim chegar a uns 40 mil”.
No país devem existir 13/14 associações portuguesas, sendo nove entidades somente em Buenos Aires, e seis grupos folclóricos (sendo cinco mais ativos). “Nossos grupos foram formados com as raízes portuguesas dos nossos pais e foram se formando, hoje temos aqui cinco ou seis presentes”, disse ela que é inclusive “cantadeira” do Raízes de Portugal.
Por sua vez a conselheira da Embaixada Dra. Ana Cristina disse estar “orgulhosa” em ver aqueles rapazes e as raparigas a dançar. Especialmente na visita à Embaixada onde tínhamos representantes de vários grupos: Rancho Folclórico Raízes de Portugal, Rancho Folclórico Mocidade Portuguesa, Rancho Folclórico Saudades de Portugal, Rancho Folclórico Estrelas do Minho e Rancho Folclórico Dançares da Nossa Terra.
CELESTE MENDES, A MADRINHA DO VG – Já a “Madrinha do Verde Gaio” Celeste Mendes que esteve acompanhando o grupo de cerca de 60 pessoas em todos os lugares, disse ao Mundo Lusíada ter gostado muito de rever a Argentina e ver como o país está bem cuidado, bonito e organizado. Ela elogiou essa mistura cultural, apoiou também em alguns aspectos, e declarou seu “amor” pelo folclore português que se espalhou pelo mundo: “Sou suspeita pra falar, mas não tem igual, é muito bonito, eu adoro, sou suspeita para falar porque amo de paixão”, disse Celeste que viveu em aldeia mas numa época que não tinha folclore. “No meu tempo não tinha nada na minha aldeia, nas festas vinham de longe, mas hoje na minha aldeia tem folclore, mas na minha época nós só trabalhávamos mesmo”, lembrou ela sorrindo.
VASCO MONTEIRO AGRADECIDO – O diretor Vasco Monteiro falou que ficou impressionado com a organização da Casa de Portugal, valorizou muito o intercâmbio promovido pelo Centro Cultural, e elogiou os jovens da casa anfitriã que dançam mais as músicas do Algarve, que são aqueles corridinhos do Algarve, de onde são a maioria naquela região argentina.
Ele também disse ter ficado muito grato pela receptividade de todos, falou da união de todos ali que trabalham no evento em prol da casa, sem qualquer pagamento. “Então esta mistura cultural é muito importante e nós estamos muito felizes, com a recepção, com a apresentação folclórica, enfim, fizemos até um piquenique com eles no parque, embaixo das árvores, conhecemos La Plata, enfim, foi tudo fantástico”, referiu Vasco Monteiro que esteve o tempo todo com o grupo.
CARLOS OLIVEIRA: “VERDE GAIO É UM DOS MELHORES QUE JÁ VIMOS AQUI” – Finalizando nossa reportagem na Argentina, falamos com o Carlos Oliveira, diretor de folclore da casa, o responsável pelo programa de rádio local, que já faz parte dessa comunicação da casa, e que esteve também na coordenação desta recepção aos brasileiros.
“A Casa de Portugal está de parabéns por ter acolhido aqui em nossa sede o R.F. Verde Gaio, que sem dúvida nenhuma, após ver a apresentação que fizeram, são um show, são um dos melhores que temos visto em nossa história aqui na Casa de Portugal, um dos melhores ranchos que tem no Brasil, e com a história que tem, fundado em 1961, e para nós que somos um grupo jovem, temos só 18 anos comemorados neste dia, então foi uma imensa alegria ter acolhido o Verde Gaio”, disse o diretor.
Atualmente o Raízes de Portugal tem 35 componentes, mas na festa dos 18 anos, estava desfalcado, já que uma parte estava em viagem à Portugal. Segundo Calos, manter a cultura portuguesa em terras argentinas, é sim bem difícil. “É difícil porque a distância com Portugal é muito grande, mas trabalhamos para manter a chama acesa, eu acho que nossos ranchos folclóricos são embaixadores de Portugal em Argentina, não somos o Cristiano Ronaldo [deste seguimento] mas trabalhamos para manter acessa essa chama que é Portugal, aquela portugalidade que nossos pais e nossos avós trouxeram para nosso país”, disse Calos Oliveira ao Mundo Lusíada.