“Queima do Gato” em festa portuguesa gera onda de indignação nas redes sociais

Da Redação
Com Lusa

GatosA população de Mourão, no concelho Vila Flor, Bragança, está a braços com a Justiça devido a uma tradição de São João denominada “Queima do Gato” que envolve um animal vivo.

A GNR confirmou à Lusa que iniciou diligências para identificar os autores no âmbito de um inquérito aberto no Tribunal de Vila Flor depois de várias denúncias. Também a associação de defesa dos animais Grupo Gato Urbanos anunciou que vai avançar com uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Ação Penal, constituindo-se como assistente do processo, “com o objetivo de levar à justiça os responsáveis e cúmplices e para que esta barbara e vergonhosa prática não se repita mais”.

O ritual foi divulgado nas redes sociais onde se gerou uma onda de indignação que já fez eco na aldeia, onde a população garante que “nunca morreu nenhum gato” e que o último que foi sujeito a esta prática “está bem”.

A “tradição” chegou ao conhecimento público através de um vídeo colocado nas redes sociais com a duração de cerca de cinco minutos que, segundo a descrição do Grupo Gatos Urbanos “mostra um gato colocado dentro de um recipiente de barro e levantado a alguns metros de altura, num poste”.

“O poste vai sendo queimado e à medida que as chamas envolvem o recipiente com o animal lá dentro ouvem-se os gritos lancinantes do animal em sofrimento atroz. Quando o poste arde, projeta-se no chão, sendo que o animal cai de uma altura superior de três metros, fechado no recipiente a arder, recipiente esse que se estilhaça no chão”, descreve.

Nesse momento “vê-se o gato em chamas a “gritar” agonizantemente enquanto a população ri, esbraceja e se diverte com o suplício do animal que corre em círculos, tentando alivio e fuga, desorientado em agonia extrema”, continua a organização, indicando, que o crime foi denunciado pela Associação Midas.

A associação Grupo Gatos Urbanos informou que vai requerer “informações sobre o estado atual do animal alvo de sacrifício/maus tratos e que sejam efetuadas todas as diligências necessárias para a identificação dos promotores, autores e participantes deste crime”.

“Nunca morreu nenhum gato e este está bem, a GNR já o veio ver”, afirmou à Lusa Aida Alves, habitantes de Mourão que encara como “ridícula” a situação que está a gerar-se em torno do caso.

Com 80 anos, Aida Alves garantiu que desde sempre que existe esta tradição associada às festas de São João e que “há três ou quatro anos que é (usado) o mesmo gato”.

Segundo contou à Lusa é um habitante da aldeia que tem gatos que oferece o animal para este ritual. Aida Alves reconheceu que nesta festa o animal “queimou uma bocadinho o pelo”, acrescentando que “a dona foi busca-lo, tratou-o e está bem”. “Está aí bem bonito, podem vir ver. Já cá veio a Guarda e já o viu”, declarou.

Confrontada com a lei que pune os maus tratos e sofrimento infligido aos animais, Aida Alves responde com uma pergunta: “e não há lei para os cães abandonados que deixem por aí?”.

As festas de São João são organizadas pelos poucos mais novos que mantém laços com esta aldeia de Trás-os-Montes “onde existem apenas meia dúzia de velhos”, como disse à Lusa Aida, que teme que agora se acabe com a tradição e fiquem “cada vez mais abandonados”.

Na internet, foram criadas várias petições contra a iniciativa, como esta publicada no link: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT77607.

Processo
O Partido Pessoas Animais Natureza (PAN) já informou que vai avançar com uma queixa-crime contra o município e tutora do animal da ‘queima do gato’, em Mourão, Vila Flor, no distrito de Bragança.

O partido defende, em comunicado, que o município que tinha a organização deste evento popular a seu cargo “tem responsabilidade sobre o ato bárbaro que se praticou contra o animal em plena praça pública”.

Da mesma forma, o PAN afirma que vai avançar com o mesmo procedimento contra a tutora do animal, “que aparentemente consentiu na sua utilização para estes fins”.

O PAN informa ainda que já denunciou ao SEPNA – Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR este ato de violência. O caso motivou também várias denúncias no posto da GNR de Vila Flor que deram origem a um inquérito judicial em curso no tribunal local, que delegou na força de segurança as diligências para identificar os autores do ato.

Também a associação de defesa dos animais Grupo Gato Urbanos anunciou que vai avançar com uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Ação Penal, constituindo-se como assistente do processo, “com o objetivo de levar à justiça os responsáveis e cúmplices e para que esta barbara e vergonhosa prática não se repita mais”.

O caso já foi também repudiado pela associação de defesa dos animais de Bragança AMICA que classificou o que se passou em Mourão “um ato de crueldade” e incompreensível que as autoridades tenham permitido que tal ato pudesse ter sido cometido. “Exigimos, tal como muitas outras associações do país e cidadãos comuns, que a justiça seja feita e que esta barbárie não volte a acontecer”, reclama esta associação.

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