Mundo Lusíada
Com Lusa
No dia 14, Rui Rio foi eleito presidente do PSD depois de vencer as eleições diretas contra Pedro Santana Lopes com 54% dos votos, sucedendo a Passos Coelho que estava há oito anos no cargo.
Em suas declarações, Rui Rio afirmou que seguirá o legado deixado por Francisco Sá Carneiro e avisou que o atual Governo terá com a nova liderança do PSD uma “oposição firme e atenta”, mas “não demagógica ou populista”.
No seu discurso de vitória, em que elogiou o ainda presidente Pedro Passos Coelho, Rui Rio disse que sempre se guiou pelos ideais do fundador do PSD, Sá Carneiro, e que é essa “a bússola” que vai “continuar a seguir como meta”. O partido, disse, “não foi fundado para ser um clube de amigos ou uma agremiação de interesses ou de grupos”.
Segundo Rui Rio, o PSD apresentar-se-á depois do congresso do partido, em fevereiro, como “alternativa de governo à atual frente de esquerda que se formou”. “Alternativa capaz de dar a Portugal uma governação mais firme e corajosa, capaz de enfrentar grandes problemas estruturais”, bem como capaz de “restituir a vontade, a alma e a esperança”, vincou, agradeceu a todos os militantes que o elegeram.
Perfil
O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio deu o passo definitivo para a ‘corrida’ à liderança do PSD em 11 de outubro, quando apresentou em Aveiro a sua candidatura às eleições diretas, tendo como maior ‘cartão de visita’ a gestão autárquica de 12 anos na segunda maior cidade do país.
Economista com perfil austero, o antigo vice-presidente do PSD e secretário-geral do partido sob a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa avançou aos 60 anos para o seu maior desafio.
A candidatura de Rui Rio à liderança do PSD chegou a ser pré-anunciada várias vezes, mas acabou por nunca se concretizar, para não interromper o seu mandato no Porto.
Em 2016, uma candidatura à Presidência da República, chegou igualmente a ser falada, mas Rui Rio afastou essa possibilidade devido ao “quadro parlamentar instável” que resultou das últimas legislativas e a “escassez de condições” que considerava existir para levar por diante uma reforma do regime.
Nascido no Porto em 06 de agosto de 1957, Rui Rio ganhou notoriedade e visibilidade nacional durante os três mandatos, entre 2001 e 2013, como presidente da autarquia portuense, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rui Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partido – chegou a propor colocar um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.
Marcelo Rebelo de Sousa foi mantendo Rui Rio no cargo, mas este acabaria por sair pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido, numa relação que não voltou a ser próxima.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto – tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 –, Rio manteve sempre um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante 10 anos.
Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na sua juventude, opôs-se enquanto deputado ao chamado ‘totonegócio’, que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.
Com a chegada – na altura inesperada, já que nas sondagens era dado como derrotado face ao socialista Fernando Gomes – à presidência na Câmara do Porto em 2001, Rio iniciou 12 anos durante os quais foi fortemente criticado pela falta de apoio à Cultura, tendo dossiês como o Mercado do Bolhão, o Túnel de Ceuta, o Bairro do Aleixo e as corridas de carros na Boavista marcado os três mandatos, sempre em coligação com o CDS-PP.
O equilíbrio e rigor das contas da autarquia e a aposta na requalificação dos bairros do Porto foram grandes bandeiras de Rui Rio à frente do segundo município do país.
Ao longo do seu percurso político, foram inúmeros os conflitos e divergências com o ex-presidente da Câmara de Gaia Luís Filipe Menezes e, apesar das pontes que ligavam ambos os concelhos, foram bem mais as desavenças do que os entendimentos entre os dois sociais-democratas. Aliás, sem apoiar expressamente Rui Moreira, Rio fez questão de dizer que não votaria no PSD nas autárquicas de 2013, quando Menezes se candidatou à sua sucessão no Porto.
Rui Rio manteve também distância do presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, com o clube a festejar sempre os campeonatos em Gaia e não no Porto, como até aí era habitual.
No seu percurso profissional, Rio começou por trabalhar na indústria têxtil e, na década de 80, iniciou o seu percurso no setor bancário, no Banco Comercial Português.
Depois de ter interrompido a atividade política, voltou à banca, assumindo um cargo não executivo no Comité de Investimentos do Millenium BCP e é atualmente consultor da empresa de recursos humanos Boyden.
Casado e com uma filha, Rui Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, conhecendo-se a educação rígida que teve e a morte do irmão quando tinha sete anos como marcas da sua infância.
Ao longo da vida foi praticante de diversas modalidades desportivas e inclusivamente foi federado em atletismo, tendo revelado à agência Lusa que admira na história mundial personalidades como Gandhi e Mandela.
Agnóstico, tem como ‘hobbies’ as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.