Mundo Lusíada
Com agencias
A proteção civil recusou as críticas do relatório elaborado pela comissão independente criada pelo parlamento para analisar o que se passou no incêndio de Pedrógão Grande e apontou omissões graves, erros e contradições. Segundo um documento da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC), enviado para o Ministério da Administração Interna, ninguém de topo do comando nacional da ANPC foi ouvido ou contactado pelos peritos da comissão.
De acordo com a rádio TSF, o documento contesta quase 30 pontos do relatório da comissão técnica independente e diz que “as falhas apontadas, na prática, ou não existiram ou se traduzem em situações decorrentes da complexidade” do fogo de Pedrógão, que fez 64 mortos e mais de 250 feridos.
O documento acusa ainda a comissão independente de não ter chamado a prestar depoimento nem o comandante operacional nacional, que entretanto se demitiu, bem como outros “elementos absolutamente cruciais” naquele fogo.
A ANPC diz que o relatório da comissão tem “erros e omissões na análise dos fatos que geram inclusivamente contradições de referência, confundindo as conclusões a reter” e considera que há partes do relatório que têm “o propósito claro de levar o leitor, cidadão comum, desconhecedor dos meandros da resposta operacional, a formular o juízo de que houve inépcia e inoperância do Comando Nacional de Operações de Socorro”.
Neste documento, a ANPC pede que este desmentido seja tornado público, “por respeito às vítimas e ao bom nome da instituição e dos seus operacionais”. Segundo o jornal i, junto com o documento, a ANPC enviou à tutela vários documentos que “comprovam os argumentos” apresentados.
Em resposta, o presidente da comissão independente garante que foram ouvidos os cargos de topo da Proteção Civil e que tudo o que está no relatório “está bem documentado”. Joao Guerreiro afirma: “o relatório (…) foi feito baseado nos depoimentos e na documentação, na própria documentação da ANPC fornecida à comissão técnica independente durante o processo de elaboração do relatório”.
“Tudo o que está escrito no relatório está suportado por declarações e documentos que analisámos, debatemos e sintetizámos no relatório”, afirmou João Guerreiro.
Segundo ele, os comandantes de operações de socorro (COS) foram ouvidos e o próprio topo da ANPC foi ouvido também, o presidente e o comandante Rui Esteves. “Não há qualquer dúvida sobre o que está no relatório da comissão técnica independente (…) nós fizemos entrevistas a quase 180 pessoas, analisamos documentação diversa, muita dela fornecida pela própria ANPC”, acrescentou João Guerreiro.
“A ANPC pode não concordar com algumas questões, mas o que está no relatório resulta da síntese que fizemos, das intervenções, da documentação recolhida”, acrescentou.
Avisos sérios de risco de incêndio
Enquanto isso, Portugal segue com chamas apagadas mas com avisos sérios de risco de incêndio. As temperaturas vão atingir valores acima dos 30 graus Celsius nesta quinta e sexta-feira “em grande parte do território” o que, aliado à intensificação do vento a partir de sexta-feira, agravará “significativamente” o risco de incêndios florestais.
O alerta foi dado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) num comunicado, onde adianta que, além do aumento das temperaturas e da intensificação do vento, vão registrar-se também valores baixos de humidade no ar.
“Fim de outubro quente e muito seco. Os valores de temperatura estão muito acima dos valores normais para a época, prevendo-se ainda uma pequena subida na quinta e sexta-feira, esperando-se valores de temperatura máxima acima de 30ºC (graus) em grande parte do território”, lê-se no comunicado do IPMA.
“Estas condições meteorológicas, a par de uma situação de seca extrema ou severa e valores extremos de secura dos combustíveis florestais irão agravar significativamente o risco de propagação de incêndios florestais, prevendo-se um número elevado de concelhos nas classes de risco de incêndio elevado a máximo”, acrescenta o comunicado.
Esta situação meteorológica explica-se pela persistência de um anticiclone sobre o centro e sul do continente europeu e não deverá ter alterações significativas, pelo menos, por mais uma semana, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Até ao fim do mês de outubro é ainda proibido fumar ou fazer lume de qualquer tipo nos espaços florestais ou vias circundantes e proceder à fumigação ou desinfestação de apiários com equipamentos sem dispositivos de retenção de faúlhas.