Representantes da comunidade da baixada em visita ao Consulado de Portugal em São Paulo.
Reformulação do Consulado em Santos era necessária diante da atual demanda, e do crescimento esperado para os próximos anos, na região.
Por Vanessa Sene
Em sua última visita a Santos, para as comemorações do Dia de Portugal, o cônsul geral de Portugal em São Paulo divulgou uma projeção para a comunidade portuguesa da baixada santista, apostando que esta chegue em 100 mil utentes em poucos anos.
“Avaliando o crescimento do número de brasileiros que, na região da baixada, solicitaram cidadania portuguesa, e fazendo uma projeção deste crescimento, podemos dizer com alguma segurança que nos próximos cinco anos, o crescimento colocará a comunidade portuguesa na ordem dos 90 mil cidadãos portugueses”, declarou ao Mundo Lusíada.
Segundo Paulo Lourenço, o antigo Consulado Honorário, e atual Escritório Consular em Santos, já é uma jurisdição importante, mas estima-se que venha a crescer ainda mais nos próximos anos, levando em consideração diversos fatores, como demanda e perfil sociológico da comunidade. “É uma comunidade que tem uma ligação a Portugal muito forte e ativa, pelo que nossas projeções permitem-nos situar a comunidade aqui na baixada num plano de crescimento de médio e longo prazo”.
Nesse momento, o Consulado Geral, em articulação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, faz modificações no funcionamento do Consulado de Santos, transformando-o num modelo mais aproximado do existente no Consulado de São Paulo. “Essa é a única forma, com os mesmos recursos, de conseguirmos obter mais produtividade. Esta projeção de aumento da demanda é muito importante até para ‘calibrarmos’ essas mudanças dentro do próprio consulado”.
O modelo de organização dentro do Escritório Consular está sendo pensado para atender a essa demanda de crescimento no litoral paulista, entregando mais serviços consulares do que se faz hoje. “Temos que nos preparar cuidadosamente para os próximos anos, pensar nesse Consulado com uma ambição maior. É claro que se trata de uma unidade consular dependente do Consulado Geral de São Paulo, mas o que faz sentido é ir moldando o Escritório Consular em função de uma perspectiva de maior autonomia e ambição. Não estou aqui a antecipar nada, mas enquanto cônsul-geral em São Paulo, de fato esse é o horizonte de trabalho para o qual nos devemos preparar”.
Uma projeção de crescimento, por exemplo, para procura da nacionalidade portuguesa, que alarga não só o número de cidadãos portugueses, mas de utentes do Consulado, que depois precisarão renovar seu Cartão de Cidadão ou o seu passaporte. “Não criamos apenas novos portugueses, geramos novos utentes para os vários serviços prestados pelo Escritório Consular. Portanto, temos que fazer um planejamento porque a tendência é que a procura dos serviços consulares em Santos muito provavelmente irá crescer, mais até do que outras comunidades no Brasil”.
Por isso, o cônsul Paulo Lourenço defende que as mudanças na jurisdição de Santos aconteceriam independentemente de ser agora um Escritório Consular. “A necessidade, com as projeções e com as necessidades de responder ao aumento da procura, elas se imporiam à nós em qualquer circunstância. A nossa proposta hoje de modernizar o Consulado em Santos e aproximá-lo mais do modelo do Consulado Geral em São Paulo resulta, na realidade, das necessidades de procura dos serviços consulares já sentidas”.
Segundo o diplomata, a única forma do Estado português fazer melhor com os mesmos “recursos humanos” é o de ir introduzindo o modelo “mais ágil” de São Paulo, onde por exemplo os agendamentos são feitos através da internet. Assim, somente vão até o Consulado as pessoas que realmente precisam ir, excluindo tudo o que for possível resolver por correio, atendimento pelo telefone ou internet. “É exatamente a mudança que fizemos no Consulado de São Paulo 15 anos atrás. No princípio pode causar alguma surpresa às rotinas dos utentes, mas depois serão eles os seus maiores defensores”.
Recenseamento
Esse impacto de crescimento também pode ser sentido nas eleições. A comunidade portuguesa de Santos não só vem crescendo de forma vistosa, como também tem uma taxa de recenseamento e participação eleitoral maior do que a maior comunidade da capital paulista.
Dentro da comunidade luso-brasileira espalhada pelo Estado de São Paulo, as dinâmicas de comportamento das comunidades variam muito de sub-região para sub-região, segundo Paulo Lourenço. “Nós temos uma comunidade em São Paulo (município) que é muito numerosa, mas mais heterogênea, e talvez pelas próprias circunstâncias e distrações de São Paulo, não é uma comunidade especialmente mobilizada do ponto de vista eleitoral, cívico e político. A comunidade em Santos, por razões várias – históricas, mas também por circunstâncias que se prendem com a própria evolução do serviço consular ali – é uma comunidade mais engajada, mais coesa e mais interventiva. Do ponto de vista de participação cívica, de fato é uma comunidade mais ativa que a média da comunidade luso-brasileira”, no Estado de São Paulo, assegurou.
O cônsul-geral disse que costuma usar Santos como exemplo para outras comunidades. “Posso dizer, creio que sem exagero, que a comunidade portuguesa de São Paulo é porventura a comunidade luso-brasileira mais ativa. E dentro desta, a santista é a mais mobilizada, mais consciente e mais presente. Isso para mim é claríssimo. Precisamos cada vez mais da vantagem do exemplo e eu uso muito o exemplo dessa comunidade para dizer: precisamos de mais participação cívica, precisamos de tomar decisões estratégicas para tornarmos mais fortes as nossas associações; olhem para Santos ou para o que está a fazer Santo André”, exemplificou.
O futuro
Apesar de Brasil e Portugal estarem num momento único de intercâmbio e redescoberta, Lourenço citou o “difícil desafio” das associações luso-brasileiras na atualidade de conseguir a renovação e integração de novas gerações jovens para a preservação e reiteração do legado cultural português construído no país.
“Eu, no final destes seis anos, permito-me ter uma opinião sobre este tema difícil mas essencial, porque acho que estamos a viver um momento tão intenso e favorável na relação entre os dois países que esta é uma janela de oportunidade crucial para que as associações possam refletir sobre a melhor forma de responder aos desafios da sua renovação; este é o momento ideal, porque excepcionalmente auspicioso”, defendeu o cônsul, convidando todo o movimento associativo luso-brasileiro a uma reflexão e a um alerta.
“Todas as nossas associações se deparam hoje com os mesmos desafios. Como nos podemos reinventar? Como reformular a nossa proposta para nos tornarmos atraentes para uma nova geração? No momento em que temos Portugal como destino do interesse e da curiosidade dos brasileiros como nunca tivemos, esta é a oportunidade para se fazer essa reflexão, sob pena de algumas associações perderem esse trem”.
Reformulação
O cônsul geral esteve em Santos para uma palestra na sessão solene do Dia de Portugal, Camões e Comunidades, no Centro Cultural Português, e aproveitou a deslocação a Santos para reuniões de trabalho com os colaboradores do Consulado de Santos, sobre cujas mudanças em curso sublinhou devem ser feitas do modo “mais suave possível”. “É importante passar uma mensagem de confiança e tranquilidade aos funcionários atuais para eles entenderem quais os objetivos destas mudanças”, declarou sem entrar em detalhes.
“O que posso dizer é que o Consulado Geral, no que diz respeito às suas responsabilidades e atribuições, tudo fará para que as mudanças sejam feitas no respeito pelos funcionários atuais do Consulado, a quem o Estado português reserva uma palavra de reconhecimento e gratidão. Veremos os resultados graduais destas modificações nos próximos meses. Por outro lado, acredito, mas sem poder adiantar nada de mais definitivo, que a intenção do Estado português seja o de restabelecer a prazo um consulado chefiado por um diplomata”.
O Consulado Geral tem acompanhado diretamente todo o processo com o gestor atual do Consulado em Santos, José Augusto do Rosário, como também com a comunidade. “Procuro saber regularmente como a comunidade está vendo e sentindo essas mudanças. As mudanças podem gerar algum receio no início, mas são imperativas para que o Consulado Geral consiga responder melhor à demanda. Mesmo antes de ser Escritório Consular, os funcionários do Consulado em Santos já sentiam essa necessidade de mudança de modelo, como os próprios me confirmaram”.
Segundo ele, a comunidade compara o que não tinha antes com o que tem hoje, e “tem medo de perder em atendimento e qualidade. O que propomos é que comparem o que têm hoje com aquilo que podem vir a ter ainda de melhor, conhecendo mais de perto as valências inovadoras do sistema em funcionamento em São Paulo. Queremos fazer essa transição bem de perto e em conjunto com a comunidade”, disse o cônsul confirmando que uma comitiva associativa de Santos tinha previsto deslocamento a São Paulo, para conhecer o modelo de funcionamento consular na capital paulista, encontro que ocorreu no último dia 26.
1 comentário em “Projeção do Consulado estima que a comunidade da baixada santista chegue a 100 mil utentes”
Com todo o respeito que merece, mas não pareceu a opinião que os atendentes me passaram por telefone , além disso, o atendimento ficará de tal forma distante que os documentos ficaram indo e vindo por correio até que se consiga resolver todos os detalhes pendentes. Quem já deu entrada num pedido de cidadania sabe a quantidade de falhas devem ser corrigidas das documentações antigas em relação às atuais. Toma que tudo seja apenas aversão ao novo.