Produtores das Beiras e Serra da Estrela vendem animais por falta de alimento

Da Redação com Lusa

O presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela alertou hoje que a seca está a afetar a atividade agropecuária e alguns produtores estão a vender os animais, sobretudo ovelhas, por falta de alimento.

“A situação que estamos a passar neste momento, com a falta de chuva, já nos coloca questões muito relevantes, nomeadamente na falta de alimento, pasto, para os animais”, disse hoje Luís Tadeu à agência Lusa.

Segundo o presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE), a alternativa é alimentar o gado com rações, mas, devido aos custos, os jovens empresários e os pequenos empresários agrícolas da região “começam a ter dificuldades”.

“E tenho conhecimento de que já há algumas situações em que esses pequenos empresários, pelas dificuldades e por não terem meios para, de outra forma, alimentarem os próprios animais, com rações ou outros [alimentos], que estão a optar por vender os animais”, alertou.

Perante a situação, o autarca vaticinou que “vai haver, certamente, uma diminuição do efetivo de animais”, nomeadamente de ovinos para produção de leite, o que na zona da CIM-BSE “tem relevância”, desde logo, pela produção de “um produto de fama mundial”, que é o queijo da Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida).

A redução do número de ovelhas “pode traduzir-se numa diminuição da produção de queijo”, considerou o responsável, porque os animais vendidos, “uns serão para continuar a produzir ainda leite, outros poderão ser para abate, o que vai traduzir-se numa redução do efetivo” e “uma perda para o território”.

Luís Tadeu, que é também o presidente da Câmara Municipal de Gouveia, disse à Lusa que a situação relatada está a acontecer no seu concelho.

“Não conheço [que ocorra] noutros, mas depreendo que, se no meu está a acontecer, que é muito provável que também esteja a acontecer noutros concelhos do território da Comunidade Intermunicipal”, disse.

O presidente da CIM-BSE reconheceu a necessidade de serem aplicadas medidas de apoio direto aos agricultores da região, enquanto não se verifica a reposição dos níveis de água.

“Torna-se necessário um apoio financeiro direto aos agricultores para que possam manter os seus efetivos, agora alimentados por rações, para fazer face ao custo elevado das rações e ao aumento que elas têm vindo a sofrer”, defendeu.

Adiantou que a CIM-BSE, juntamente com as associações de agricultores do território, irá alertar o Governo “para a necessidade efetiva” de uma “medida urgente” de apoio aos agricultores.

O responsável disse também temer que a seca possibilite o aparecimento de grandes fogos florestais, “o que é sempre um problema” para o território.

A CIM-BSE, com sede na cidade da Guarda, é constituída por 15 municípios, sendo 12 do distrito da Guarda (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sabugal e Trancoso) e três do distrito de Castelo Branco (Belmonte, Covilhã e Fundão).

Mais de metade do território de Portugal continental (57,7%) estava no final de dezembro em situação de seca fraca, tendo-se registado uma ligeira diminuição na classe de seca severa e um aumento na seca moderada, segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Na terça-feira, o Governo restringiu o uso de várias barragens para produção de eletricidade e para rega agrícola devido à seca em Portugal continental, revelou o ministro do Ambiente e Ação Climática.

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